Minhas mãos tremiam, fazia tanto tempo que Asuka me encontrou pelas ruas e cuidou dos meus ferimentos, pondo um curativo no corte que se abriu em minha testa. Minhas mãos tremiam e eu não sei por qual motivo. Eu estava bem, certo? Estava segura, não é mesmo? Não, não precisava estar segura, o que aconteceu comigo e Lee foi apenas uma briga, assim como as outras.
Pisquei meus olhos e fitei uma mancha roxeada em minha coxa. Ah, não... Não foi uma briga como todas as outras, naquela vez eu senti que Lee ia me matar, a pessoa que eu mais amava naquele mundo ia me matar e aquilo me aterrorizou ao ponto de fugir dele como se estivesse fugindo do próprio diabo.
Mordi meus lábios com força, pois não queria chorar mais uma vez ao me lembrar daquilo. Eu estava começando a me cansar de chorar, cansada de me sentir perdida dentro de mim mesma.
Quando? Quando eu deixei de ser eu? Quando deixei de ser Aya? Quando me abandonei para ser Junko?
Não sei, talvez tenha sido naquela noite que me encontrei com Lee pela primeira vez. Talvez tenha sido quando a gente se beijou em meio a chuva como se fosse uma bela cena de cinema e eu me dei conta que estava apaixonada por ele. Não... Pensando agora, eu havia me perdido muito antes do Lee, eu me perdi naquela noite que fui espancada com as mãos presas em algemas e expulsa de uma cidade pela minha própria irmã.
Soltei um suspiro trêmulo. Com lentidão, me levantei do piso frio e me joguei nos lençóis da cama do quarto de visitas de Asuka. Me enrolei nos tecidos macios e fitei a parede branca.
Eu estava me sentindo terrivelmente cansada. Cansada de toda aquela vida que eu mesma moldei. Cansada de...
Franzi o cenho ao notar que a porta de algum lugar no andar de baixo bateu com força, seguido por um grito infantil de identifiquei ser como Violeta. Afundei minha cara no travesseiro só de pensar que poderia ser Rindou e sua enorme babaquice sem tamanho, eu sentia vontade de voltar para casa e...
Lee estava em casa. Eu não poderia voltar para casa, pois Lee estava lá e...
Não importava. Era apenas uma briga. A gente iria se resolver, não importando se... A gente não podia ser o casal mais perfeito do mundo mas a gente se amava, aquilo era única certeza que eu possuía na minha vida. Sim, de fato, ele sempre acabava me agredindo. Mas ele se desculpava por isso, então isso é uma coisa... Ele deixava claro que me queria bem, ele só não coseguia controlar sua raiva mas isso poderia se resolver com terapias e...
A gente podia resolver isso. Eu ainda podia ter meu casamento, ainda podia ter uma vida feliz junto de Lee, é isso... Então, só precisava voltar para casa, para o Lee e tentar concertar as coisas. É, mas para isso, eu precisava...
Batidas na porta foi o que chamou minha atenção. Asuka abriu a porta. Ela sorriu para mim, colocando uma cabeça para dentro do quarto mas seu sorriso sumiu quando ela viu meu estado. Violeta passou correndo para dentro do quarto, e me abraçou com força.
─ Titia, vamos para um parque!─ Ela gritou, alegre.
Suspirei.Eu estava usando uma blusa moletom e uma calça larga em um calor infernal, observando Violeta pular de um lado para o outro dentro de um pula-pula. Asuka havia saído para comprar um sorvete para nós três e me deixou olhando para aquela menina que parecia ser uma bateria inesgotável. Pisquei os olhos, puxando o capuz do moletom para cobrir meus cabelos e estava bem perto de me deitar no banco em que eu estava, mesmo sabendo que aquilo deveria estar tão quente que seria muito fácil fritar um ovo ali.
Violeta gritou, pulando e rindo. Meu Deus, quanta energia.
─ Rindou era assim nessa idade.─ Uma voz disse ao meu lado. Eu sabia quem era, meu corpo se arrepiou da mesma forma que eu me encolhi no lugar em que estava. Não era possível... Não era possível...─ Um pedacinho de merda que não parava quieto, nossos pais achavam que ele tinha alguma porra de problema.
Não falei nada. Eu estava congelada, acredito que sequer sabia respirar naquele momento. Após dez anos, Ran estava ao meu lado. Ele não sabia mas podia sentir pelo seu tom de voz que estava sorrindo. Meu Deus... Meu Deus!
─ Quanto tempo, não é mesmo, Aya?
─ Eu sou a Junko.─ Foi a única coisa que consegui falar com os lábios secos e rachados. Pisquei meus olhos, me encolhendo ao seu lado. Ran não disse nada, ele me parecia confuso com meu tom fragilizado e claramente o quão perto eu tava de começar a chorar mais uma vez naquele dia.
─ Não, você não é.─ Ele falou.─ Você é Aya Takahashi, o que foi? Esqueceu quem você é nesses dez anos?─ Ran riu.─ Que puta piada.
Pisquei meus olhos e lágrimas escorreram por meu rosto. Ah, caralho, que merda... Soprei uma risada, erguendo meu rosto e limpando as lágrimas. Que puta piada! É isso!
É uma puta piada que eu tenha desejado a porra de uma nova vida, sem ter que lidar com o fato que minha própria irmã me odiava e que as porra de garotas que mais confiei na minha adolescência me odiavam sem a porra de um motivo. Que o cara que eu amava havia me deixado ir para bem longe dele sem pensar a porra de duas vezes! Que porra! Que porra de piada!
─ Dez anos e a primeira coisa que você me diz é que sou a porra de uma piada!─ Gritei sem ter algum controle da minha voz. Sabia que eu estava chorando que nem uma maluca mas, ah, que se foda! Me levantei, me afastando do banco e... dele.─ Pega essa porra e enfia no meio do seu cú! Bem lá no fundo!
Recuei um passo, piscando meus olhos e... Aquelas palavras, aquilo não era eu. Jamais seria algo que eu faria. Não... Aquilo era algo que eu faria mas... Mas...
Aí meu Deus, eu tô tão, tão perdida dentro de mim que agora nem sei o que eu era ou sou. Eu não...
Lee, eu precisava do Lee, mas eu não podia. Eu precisava... Eu não...
─ Que porra tá rolando aqui?─ Asuka falou, se aproximando de mim e me colocando os sorvetes nas minhas mãos, virando-se para Ran que nos olhava com o cenho franzido, confuso.
E eu só queria um pouco de tempo...
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Sinners • Tokyo Revengers
FanficAs vidas de Aya Takahashi e Asuka Nakamura não eram, nem de perto, parecidas. Enquanto Aya lutava para sobreviver aos traumas do passado que insistiam em ainda atormenta-la, Asuka buscava, a todo custo, esconder quem ela era de verdade, em uma tenta...