Um grito rasgou minha garganta deixando uma ardência insistente enquanto meu pé chutava a primeira coisa que aparecia em minha frente. Meus gritos continuavam a se espalhar pelo quarto, objetos se destruíram com meus golpes cheios de raiva e ódio. Não tinha dúvidas que em breve Hanma ou Takeomi apareceriam por ali para tentar me conter mais uma vez e aquilo me deixou ainda mais irada. Gritei mais uma vez para o nada e joguei os pedaços da cadeira de madeira que destruí aos chutes no espelho mais próximo. Observei meu reflexo se quebrar em mil pedaços, assim como meu coração e a sanidade que ainda restava dentro de mim.Cai no chão e não me importei se minha pele rasgou com os cacos dos objetos que destruí em meio ao meu acesso de raiva, fitei o teto com os olhos cheios de lágrimas, mordendo os lábios com força para me impedir de liberar algum soluço.
Cansada, é... Mais uma vez, eu estava cansada. Traída, destroçada e agora nada mais que um poço de culpa. Eu deveria ter feito aquilo? Deveria ter deixado Asuka para trás mais uma vez ou deixado Rindou respirando. Hanma havia me dado uma missão, ele havia confiado em mim e me salvado. Pelo menos, eu deveria ser capaz de cumprir uma missão dele mas... Ele me traiu. Asuka jamais deixaria Rindou. E eu estava sozinha.
Sozinha.
Sozinha.
Sozinha.
Sozinha da maneira que Lee havia me dito que eu ficaria.
Trinquei o maxilar, me levantando e novamente me tornando aquele redemoinho de fúria incontrolável. Novamente eu estava quebrando os poucos móveis em meu quarto com as próprias mãos, machucando minhas palmas e pés, piorando a situação dos meus tornozelos. Gritei para o nada, sentindo as lágrimas escorregarem por meu rosto. Não notei que a porta tinha sido aberta e que alguém tinha adentrado no quarto até sentir braços rodearem meu corpo, me puxando para perto de um peito.
─ Ei, calma, docinho.─ Ele respirou, beijando meus cabelos, tentando me acalmar. Chorei nos braços de Hanma que manteve sua voz calma e tranquila enquanto acariciava meus cabelos com doçura.─ Está tudo bem, tudo bem... Não vamos acabar de destruir essa merda de quarto, docinho.
─ Desculpa.─ Choraminguei, levando meus olhos até os seus que me fitaram com uma preocupação óbvia. Ele sorriu, se inclinando para beijar minhas lágrimas.─ Eu não consegui fazer a merda da missão.
Hanma piscou os olhos e guiou uma mão até minhas bochechas, limpando minhas lágrimas.
─ Está tudo bem, meu anjo. Está tudo bem, está me escutando?─ Ele murmurou.─ Você não precisa se machucar por uma merda dessas. Se está comigo, é por um motivo e só se dedique a ele.
Balancei a cabeça, concordando com suas palavras, mesmo que meu coração pesasse com todo o ódio e mágoa guardados. Suspirei, me deixando ser consolada por Hanma que riu, beijando meus cabelos mais uma vez.
Ali, pela primeira vez naqueles últimos meses caóticos, eu me deixei respirar, acalmar e ignorar meus pensamentos caóticos.
─ Já está bem, gatinha?─ Perguntou Takeomi, enfaixando meus dedos machucados. Eu não respondi de primeira, estava um pouco ocupada com o milkshake que Sam, uma das prostitutas de Hanma, me comprou após disparar inúmeras perguntas dominadas por uma preocupação genuína que me surpreendeu um pouco. Não sabia que aquela mulher de cabelos rosas e olhos espertos se importava com alguém além de si mesma.
Suspirei, erguendo meu rosto na direção do teto. Depois, daria um jeito de retribuir a gentileza da moça.
─ Rindou não está morto, mas está machucado. Ele recebeu o aviso por procurar o que não deveria.─ Disse o homem com uma cicatriz no rosto, ele sorriu.─ Você completou a missão, Deusa da Guerra.
Pisquei os olhos, desviando o olhar para um longe distante. Eu completei a missão mas não me sentia nem um pouco vitoriosa, na verdade me parecia que eu acabara de perder tudo que eu amava e aquela sensação não estava me agradando nem um pouco.
─ Ele não estava atrás de Hanma.─ Murmurei, depositando o milkshake na mesa ao meu lado, analisando meus dedos enfaixados com cuidado. Um sorriso pequeno surgiu em meus lábios ao me dar conta que Takeomi sabia muito bem como fazer aquilo por conta de todos seus anos com a Black Dragons.
O homem piscou os olhos, desabando em uma poltrona próxima e acendendo um cigarro com agilidade.
─ Eu sei.─ Falou, cruzando as pernas.─ E não é só ele que está procurando você.
Observei Takeomi retirar uma pasta amarela de dentro de seu terno e o jogar aos meus pés. Peguei o objeto, lançando um olhar desconfiado para o homem enquanto abria e pegava o que estava guardando ali dentro.
Eram fotos. A maioria delas não passavam de borrões mas uma delas... Trinquei o maxilar com raiva, rangendo os dentes. Era ele, pensei enquanto amassava o papel com as mãos.
─ Parece que Ran finalmente se deu conta da merda que fez.─ Takeomi respirou e se inclinou para frente levemente com um sorriso sagaz.─ A questão é se você vai perdoá-lo pelo que fez.
Eu me mantive silenciosa por alguns longos segundos e então ri.
─ Realmente deve que achar que sou muito burra, não é mesmo, Takeomi?─ Me levantei do sofá em que estava sentada e comecei a me mover pela sala, não demorou muito para que eu estivesse despejando o líquido âmbar do whiskey dentro do meu milkshake.─ Você acha que sou burra que nem o Haitani. Acha que vou perdoar uma traição que está marcada no meu corpo como uma burra do caralho que nem ele, não é? Mas vou deixar algo bem claro aqui. Sim, posso ter fodido com o Haitani e amado ele. Mas nenhum amor aguenta uma traição, principalmente se você é quase morta por uma merda dessas. Então, cale a boca antes que eu arranque sua língua.
Revirei os olhos, caminhando na direção das escadas, onde me enfiaria em algum quarto vazio e começaria a planejar, dar vida ao que dominava meus pensamentos naquele único mês que se passou com uma crueldade incontrolável.
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Sinners • Tokyo Revengers
FanfictionAs vidas de Aya Takahashi e Asuka Nakamura não eram, nem de perto, parecidas. Enquanto Aya lutava para sobreviver aos traumas do passado que insistiam em ainda atormenta-la, Asuka buscava, a todo custo, esconder quem ela era de verdade, em uma tenta...