21 - Loirinha brava

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Shikamaru

— Acorda Shikamaru! até quando eu vou ter que ficar gritando pra você acordar moleque? já ta bem grandinho pra isso — minha mãe berra da cozinha.

As vezes eu esqueço que tenho que trabalhar, maldito capitalismo desgraçado, me faz acordar cedo, passar horas desempacotando caixas e empilhando sacos para no final do mês ganhar uma mixaria.

Resmungo irritado quando me levanto, olho na tela do celular e vejo que o despertador tocou nove vezes seguidas... agora dez, tomo um susto com o som alto. Não sei como, mas eu nunca acordo com essa porcaria.

Quase sempre chego atrasado, ser uma pessoa diurna não é comigo, não importa quantas horas eu durma acordar às seis é sempre uma tortura. Em um mundo justo eu seria uma nuvem, tranquilo no céu, esperando o vento me levar para onde quer que ele queira me levar.

Como, me arrumo, pego ônibus lotado. Uma hora depois estou aqui de novo, desempacotando no mercado, uau que grande realização.

Quando dizem que você pode ser o que quiser é só acreditar no seu sonho, não passa de uma grande mentira deslavada para enganar os idiotas que realmente acreditam que é assim que funciona a vida. Quando você cresce percebe que seu destino é marcado no momento em que você nasce, se você veio pobre meu querido, você está fadado a morrer como um, lutando para sobreviver.

Apenas alguns saem dessa linha, um em um milhão consegue mudar sua história, são tão raras essas pessoas que não podem ser chamadas de regra e sim de exceção. Não que eu queira ser milionário, ou famoso, eu só queria que as coisas fossem um pouco mais justas ao menos.

Trabalhar para ganhar o que você merece ganhar, e não se tornar um escravo do sistema, nascer crescer trabalhar e morrer, tudo isso sendo um pobre desprezado.

"É só estudar", quase rio quando escuto isso, eu era o melhor da classe, da escola alguns dizem. Não ligava para notas nem nada disso, eu apenas era bom naturalmente sei lá, e mesmo assim olha onde eu estou. "É só querer" essa chega a ser pior, não vou nem comentar.

Sento no chão do lado de fora, encostando as costas na parede assim que chega meu intervalo. Acendo um cigarro e observo as pessoas indo e voltando na minha frente. Não me orgulho de fumar, mas é o que me mantém são por enquanto.

Tiro da boca e solto a fumaça, analiso o rolinho branco e laranja, não vejo a hora de mudar de vida. Mas para começar eu preciso que o Naruto volte, aquele safado deve estar aproveitando bastante na casa do ricasso, dou risada, estou feliz por ele.

Sinto saudade do tempo da escola, nos víamos todos os dias, a tarde eles jogavam uma pelada enquanto outros fofocavam e eu fingia dormir enquanto prestava atenção em ambos. Bons tempos que não voltam mais, agora uns saíram da favela, outros tem seus próprios problemas para cuidar, crescer é uma merda.

Coloco o cigarro de volta na boca, infelizmente não posso fazer nada sobre isso.

Estava numa boa aproveitando meus míseros minutos de paz, quando de repente escuto alguém discutindo alto. Olho para direção do som e vejo uma pequena roda de pessoas em volta da briga, dentro do mercado.

Suspiro entediado, encostando a cabeça na parede e fechando os olhos, não é novidade isso acontecendo.

— Escuta aqui seu imbecil tigelinha, quem você pensa que é pra falar comigo desse jeito!? — alguém diz, não reconheço a voz.

— E-eu... me d-desculpa, não era minha intenção, vo-

— Não era intenção!? percebi bem a sua intenção garoto esquisito.

Burguês na favela - sasunarusasuOnde histórias criam vida. Descubra agora