3 - Odeio esse lugar

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Sasuke

Depois de horas e horas dentro desse cubículo onde não posso nem deitar, finalmente chegamos ao lugar. Me arrependo de ter dormido tanto antes, daria tudo para não ficar todo esse tempo consciente e enjoado.

Itachi por outro lado se deu bem, deitou no meu ombro logo na primeira esquina e está até agora perdido em seus sonhos. O empurro para longe de mim fazendo com que ele acorde no susto, não sou travesseiro não.

— Chegamos! - minha mãe anuncia desacelerando um pouco o carro para passar pelas ruas mais estreitas.

— Finalmente - meu irmão boceja esticando os braços com tanta força que acerta minha cara.

— Na onde vamos morar? - o empurro e olho para meus pais no banco da frente.

— Vocês já vão ver, só preciso encontrar um lugar para parar.

Minha mãe estaciona em uma rua sem saída ali dentro da favela e todos nos soltamos do cinto de segurança. Eles descem primeiro enquanto eu tento dar uma esticada.

Saio do carro e fico parado na porta por um tempo analisando a situação, a final vou passar uma parte da minha vida aqui, espero que seja um tempo tão curto que eu mal me lembre daqui alguns anos.

Levanto meu óculos com delicadeza franzindo as sobrancelhas por conta do sol, tem alguns garotos jogando futebol ali parecendo um monte de brutamontes correndo atrás de uma bola toda esfarrapada e encardida de terra, fico os observando por alguns segundos.

Quando DO NADA sou tirado de meus desvaneios por uma bolada na cara, tão forte que faz meu Rayban cair no chão e meu rosto virar. A lateral do meu rosto arde e minha raiva começa a crescer.

Eu estava numa boa.

Respiro fundo de olhos fechados ainda na mesma posição quando um garoto se aproxima de mim virando a cabeça para tentar chamar minha atenção. Abro os olhos e lentamente o encaro com ódio no coração, que humilhação.

— Ah... Você tá bem? - ele coça a nuca dando uma risadinha sem graça, deve estar nervoso ou envergonhado, e com razão - Desculpa, não era minha intenção eu...

— Foi você que chutou? - o interrompo e ele parece um pouco surpreso com a minha seriedade.

— Sim... Foi sem querer eu queria acertar o gol e não a sua... Cara... - ele morde o lábio preocupado, acho que deve estar bem vermelho.

— Tinha que ser, você tem cara mesmo de ser um estúpido - digo com suavidade - Mal cheguei e já odeio esse lugar - resmungo bufando para o nada e me abaixo pegando o óculos, preciso me distrair pra não enfiar isso aqui na guela dele - agora saí da minha frente antes que eu faça você de tapete.

— Ta me ameaçando?

— Exatamente, olha só pelo menos não é burro - o encaro nos olhos para que ele sinta que não está mexendo com qualquer um.

— Ei eu já falei que não foi de propósito e pedi desculpas - seu sorriso tímido some dando lugar a indignação, ótimo consegui o que queria.

— Enfia as sua desculpas no seu cu - lhe dou um último olhar de desprezo e bato a porta do carro.

O deixo ali sozinho só para sentir tanta raiva quanto eu e sigo minha família pela viela.

Mesmo já distante o ouço resmungar algo e tenho quase certeza que ele me mostrou o dedo do meio... Se eu vejo esse moleque de novo eu quebro a cara dele. Loiro idiota, quem ele pensa que é? Tenho certeza que ele queria me acertar, essas pessoas não tem um pingo de respeito por ninguém.

Odeio pobre.

Alcanço meu irmão abrindo a porta de um... Barraco. Isso ta longe de ser uma casa, como cabe um ser humano aqui?

Piso dentro e garanto que deve ter umas 57 doenças flutuando no ar, minha sala era duas vezes maior que isso. Aqui deve ter o que? 30 metros quadrados a olho ou até menos.

O caminhão de mudança parou logo na entrada eles não quiseram vir até aqui, então vamos ter que ir até lá e voltar muitas... Muitas vezes.

— Até que não é ruim - minha mãe sorri com as mãos na cintura.

— Vai ser bom... Dar um descanso - diz meu pai, ele não é bom em dar conselhos a si mesmo.

— Hm - Itachi da de ombros - história para contar pros meus sobrinhos - ele ri me cutucando - "a época em que o pai de vocês teve que se virar sem seus empregados".

— Fala isso pros meus filhos que eu conto pros seus que o pai deles fazia xixi na cama até os 14.

— ERA ATÉ OS 8 CALA A BOCA SASUKE - mentira dele.

— Chega meninos, não quero netos ainda, vamos ver os quartos - minha mãe ri e nos guia até um minúsculo corredor com três portas, cada uma em uma direção.

A frente vejo que é o banheiro entreaberto, aos lados salas vazias.

— Vocês dois vão dormir no mesmo quarto, não é demais!? - ela diz animada.

— NÃO! - Respondemos juntos, tanto eu quanto meu irmão sabemos que isso tem tudo para dar errado.

— Que exagero meninos, vai ser divertido - diz meu pai.

— O Sasuke é acumulador compulsivo, barulhento, folgado, bagunceiro e ronca. Amo meu irmãozinho, mas aquilo vai virar uma zona que vai sobrar para eu limpar - Itachi ta com cara de cachorro pedinte.

— E eu odeio ele - sim esse é meu único argumento, o Itachi não tem defeitos.

— Vocês vão ter que se acostumar e aprender a lidar um com o outro, não temos muita opção aqui - Mikoto sendo apaziguadora como sempre.

— ... Arg! - desisto da discussão e entro no quarto batendo os pés e em seguida a porta.

Quando vou me jogar na cama vejo que não tem uma. Merda de quarto, merda de lugar merda de pessoas. Eu odeio tudo isso, quero minha casa.

Sento no chão no cantinho esquerdo abraçando os joelhos e fico encarando a parede a minha frente. Eu quero sumir, desaparecer, chutar todo pobre que eu ver por aí. Lembrei que agora sou um também... Que ódio!

Do lado de fora ouço minha mãe falando baixinho com Itachi, algo como "deixa o Sasuke, ele nunca passou por nada parecido e ainda é uma criança". Hm, eu não sou criança nada, tenho 17 já.

Depois disso não escuto mais nada, ninguém entra por um tempo. Fico olhando pela janela, observando a vida de cada um aqui, interessante, em casa eu não conseguia ouvir as brigas com tanta qualidade de som como aqui.

Não que eu seja um fofoqueiro, mas quero me distanciar dos pensamentos de raiva antes que eu chore, o que não seria nada agradável de ser visto caso alguém entrasse aqui. Então encosto o rosto nos braços cruzados acima da janela observando pequenas figuras discutindo.

— VOCÊ É UM VAGABUNDO IMPRESTÁVEL - grita a mulher antes de quebrar uma garrafa de cerveja na cabeça do homem.

Fico em choque por um momento antes de começar a rir baixo, to preocupado.

— E VOCÊ SÓ ME MAL TRATA, ONDE EU VOU FICAR? - pergunta o homem cambaleando, perece bêbado, a essa hora da manhã.

— AQUI - diz a mulher antes de jogar todas as coisas, aparentemente daquele homem, pela janela.

Incrível como as pessoas se juntaram em volta mais rápido que meu olho puscou, só para se meter no meio como se tivessem moral para tal. Interessante. Agora começou um furdunço de gente que nem estava envolvida entrando na discussão.

Por um tempo até me esqueci de onde eu estava e de todas as coisas ruins que estavam me acontecendo. Entretenimento ao vivo...

Mas então meu rosto arde novamente e lembro daquele loiro desnutrido, meu ódio volta e deixo a janela voltando pro meu cantinho jogando maldições mentalmente para aquele moleque desgovernado.

Burguês na favela - sasunarusasuOnde histórias criam vida. Descubra agora