44 - Roupa suja

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Sasuke

— Pensei bastante, passei praticamente a noite inteira acordado e resolvi que a melhor opção era te contar toda a verdade. Lamento não ser quem você pensava... isso foi virando um bolo de neve tão grande que por mais que eu tentasse, tudo só piorava. Meu erro foi querer desesperadamente te deixar orgulhoso quando eu já tinha estragado tudo, mas convenhamos você era e ainda é um velho rabugento e insuportável, a diferença é que agora seus defeitos são apenas parte da convivência — suspiro vendo que estava falando rápido demais — resumindo, eu te odiava quis te dar o golpe, passei a gostar de você, me arrependi, descobri que não consigo resolver as coisas sozinho e me sinto uma criança vindo te pedir ajuda para sair de um problema que eu mesmo me meti.

— Uau — Madara ri — me sinto numa novela da Globo, sempre quis saber como era a sensação — ele desvia o olhar como se estivesse imaginando — assistia os capítulos e via cada vez mais como minha vida era chata — ele ri — obrigado por isso garoto, foi um plot e tanto.

— Você não vai... tipo... gritar, me expulsar daqui ou me xingar de todas as maneiras possíveis? — arqueio a sobrancelha confuso.

— Nhe — ele balança a cabeça distraído com o próprio testamento — estou velho demais pra isso. Sei que você deve estar um pouco traumatizado pela última vez que brigamos, mas depois daquilo eu percebi o quanto estava parecendo com meu pai e decidi nunca mais repetir.

— Então isso quer dizer que você não ta nem um pouco irritado? — continuo confuso.

— Ah eu estou sim, pode ter certeza que quero te atirar pela janela — ele diz com uma expressão pacífica — mas eu te escolhi para ser meu sucessor por um motivo não é? — meu vô finalmente me olha — odeio todo mundo dessa família idiota, mas você eu odeio um pouco menos.

Solto uma risada, talvez de alegria talvez de alívio. É como um peso enorme sendo tirado de mim, me sinto exatamente bem agora. Algo que eu nem sabia que estava me prejudicando tanto.

— Sabe Sasuke, você me lembra meu irmão — ele diz — conforme eu ia te ensinando o que eu sei, te vendo errar e ajudando você a acertar, seu temperamento caótico batendo de encontro com a minha escassa paciência e seu orgulho chato que só a porra — ele sorri — me lembra da infância com meu irmão, quando eu ainda era feliz de vez em quando — ele diz a última parte mais baixo, olhando para algo aleatório.

Sinto um quentinho no coração, sei que esse foi o jeito estranho dele dizer que gosta de mim.

— Velho idiota — rio baixo — comigo não foi tão diferente... talvez a falta do meu pai tenha feito eu me agarrar a você para preencher esse vazio, eu me sentia mal todas as vezes que fazia algo errado e exatamente feliz quando você me dizia "muito bem garoto" — reviro os olhos contente —  sorte sua que eu estou num momento sensível do caralho, se meu pai estivesse vivo eu estaria agora voando no seu jatinho.

— Eu ainda estou vivo, ia fazer o que, me empurrar da escada?

— Não, isso é muito óbvio, eu teria outra idéia.

Ambos nos olhamos e rimos por mais mórbida que seja a conversa.

— Então... — mordo o lábio — voltando ao assunto, o que eu faço agora? — pergunto receoso.

— Se vira.

— O que!?

— Não foi você que se meteu nisso? então agora seja homem e dá seus pulo — ele guarda o testamento no bolso, provavelmente vai devolver pro lugar de antes.

Burguês na favela - sasunarusasuOnde histórias criam vida. Descubra agora