52 - Casos de família

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Sasuke

— Quer detalhes? ótimo, então vamos ter um momento de revelação aqui — Obito diz com um sorriso cínico — desde que eu era criança, sempre fui o que deu errado na família, o único que não era super inteligente um gênio na escola, eu tirava notas baixas e vivia apanhando por isso como se fosse resolver alguma coisa. Como se não bastasse a família, na escola também tudo, absolutamente tudo de ruim que acontecia "ah a culpa é do Obito" era sempre eu, a sala da diretoria era quase minha segunda casa, eu sou tão azarado que a garota que eu gostava era apaixonada pelo meu melhor amigo! Colocaram tantos rótulos em mim que um dia eu só cansei de me esforçar e me tornei tudo aquilo que diziam de mim. Virei um delinquente, vivi a vida como se não houvesse amanhã, não me importei com mais ninguém e você não vai acreditar — ele diz com sarcasmo, mas sinto sua raiva crescendo junto da vontade de chorar — nem assim esses imbecis me deixaram em paz, fui ainda mais massacrado pela minha própria família, olhares tortos, comentários... sabe o que isso faz na cabeça de alguém?

Engulo em seco, caramba...

— Mas apesar disso eu tinha meu grupinho — ele desvia o olhar de mim para suas mãos e sorri — Itachi, Shisui e até você. Vocês eram tudo pra mim... como uma pomada onde ardia, em meio a tanta gente que me odiava constantemente por ser diferente, vocês riam e levavam a vida como uma brincadeira exatamente igual eu. Eu me vi em vocês, até em você Sasuke, era um pirralho na época, porém eu me divertia tanto te zoando — ele ri e vejo uma lágrima cair no chão — lembra? tudo que eu falava você acreditava, era maldade porque você era muito novo, mas eu me divertia pra caralho. Uma vez eu te disse que o Shisui comia rato e você levou tão a sério que começou a evitar ele pra não pegar lepra — ele gargalhada com a lembrança, acabo rindo também — e quando eu te disse que a cozinha tava pegando fogo e você invadiu a festa do Madara gritando — rimos mais, na época eu ficava tão bravo... mas agora é uma história incrível.

— Eu me lembro bem — assinto tentando parar de rir, estou quase chorando junto, que saudade disso — e quando você mandou eu fechar o olho e abrir a boca para ganhar um presente e você enfiou terra — rio — puta ódio que eu tinha de você cara, de verdade.

— Eu sei — ele assente — você era tão abobado que eu não resistia — ele sorri fraco — mas aí tudo acabou por culpa daqueles traidores.

— Não lembro direito do que aconteceu na real — franzo o cenho tentando me recordar.

— A gente vivia tendo ideias absurdas e sem pé nem cabeça — ele diz — a maioria minha, mas todos sempre concordavam, a gente era jovem e sem responsabilidade. O problema é que um dia eles deixaram de ser assim, faculdade trabalho, eles mudaram e eu continuo o mesmo... fui notando aos poucos a mudança neles e não havia o que eu fazer sobre isso. Mas um dia o Shisui quis aprontar uma com o Madara e fiquei tão feliz e com esperança de tudo voltar a ser como antes... mas quando nos pegaram, de novo todo mundo teve a certeza de que a culpa era minha e eu jamais ia dedurar o Shisui, mas o que me magoou mesmo foi que nem ele nem o Itachi se pronunciaram, dois covardes que preferiram sair bem na fita e me deixaram sozinho para sofrer a punição — seu tom é baixo, como se fosse uma ferida dolorosa que nunca cicatrizou — eu sempre era meio humilhado por todo mundo, mas naquele dia... aquele dia realmente doeu, o seu ídolo aqui — ele aponta pro Madara — me esculachou tanto, mas tanto... — sua voz falha, ele nem consegue olhar nos olhos do meu avô — naquele dia eu fui pra casa me sentindo um merda, a pior pessoa do mundo e um erro que não devia ter acontecido, a pior decepção de todo mundo, um inútil zero a esquerda e sem futuro — ele pausa engolindo o choro.

Eu sei bem como o Madara pode ser bruto, imagino como ele deve ter se sentido.

— Mas antes de chegar em casa, eu desviei o caminho e fui me divertir na rua — ele prossegue — estava tarde da noite e foi difícil achar algo pra fazer, então eu conheci meus amigos, meus verdadeiros amigos que compartilhavam da mesma dor, a gente pensava igual e a partir daí tudo foi só diversão, nomeamos nosso grupo como Akatsuki. Eles eram lá da favela que você morou, eu era o único de família rica, mas me aceitaram bem já que estou mais pra deserdado e renegado do que qualquer coisa — ele ri, mas dessa vez de tristeza — encontrei neles a família que eu precisava, criamos um império só nosso, os reis da favela... — ele morde o lábio e me olha — até tudo dar errado, eles estão na cadeia agora e só eu aqui, como se tivesse os abandonado. Meus pais pagaram minha fiança por que tudo bem ter um filho fodido contanto que ninguém fique sabendo. Me senti um lixo de novo, jamais abandonaria meus amigos pelo que quer que fosse e estou todos os dias lutando pra tirar eles de lá. Por isso eu queria a herança, além de me vingar do sem noção do Madara, tiraria cada um deles daquele lugar horrível. Todos os dias vou dormir com a certeza de que eu não merecia eles, de que não estou fazendo nada pra ajudar e que era eu quem deveria estar no lugar deles, já sentiu esse tipo de desespero? bom, agora não adianta de nada de qualquer forma — ele dá de ombros — vou precisar de outro plano.

Burguês na favela - sasunarusasuOnde histórias criam vida. Descubra agora