A semana passou voando, dividi meu tempo entre estudar e fazer plantões na clínica da faculdade. Também li sobre a organização do clube, a história, dei uma olhada nos perfis dos jogadores do time principal, que serão meus pacientes se eu conseguir essa vaga. Procurei saber sobre todas as coisas que envolviam, mesmo que minimamente, o Manchester City, pois quero ser capaz de responder absolutamente qualquer pergunta que me fizerem. A entrevista é hoje, não contei sobre ela pra ninguém, Beca vai comigo e vai me esperar, porquê sabe que fico nervosa com facilidade.
- Será que estou fazendo o certo em não avisar ao Luck sobre essa entrevista? - Perguntei assim que entramos no carro e eu quase pude ver os olhos dela rolando pra dentro da cabeça.
- E porquê você contaria? - Ela não me deixou responder. - Ele iria tentar te fazer desistir e colocar mais mil inseguranças na sua cabeça.
- Se eu conseguir, vai ser uma mudança importante, ele vai ser pego de surpresa. - Me justifiquei.
- Você termina com ele antes. - Respondeu simples.
É verdade que passei toda a semana evitando a presença dele, porquê sei o que tenho que fazer, mas estou sendo covarde. Enterrei esses sentimentos e me concentrei em repassar tudo que havia estudado até chegarmos lá. Obviamente, me distrai algumas vezes com a paisagem de Manchester, já visitei a cidade algumas vezes, mas nunca me acostumo com o quanto é bonita. Beca estacionou em frente ao Etihad Campus, centro de treinamento do time e o meu queixo caiu. Eu amo futebol, mas, por algum motivo, nunca fui a um jogo do City.
- É bonito, não é? - Beca sorriu. - Ouvi dizer que é do tamanho de uma cidade.
- Eles tem dinheiro pra caramba. - Constatei o óbvio.
- Acho que os jogadores vão estar por aí. - Disse, animada. - Vou procurar por eles enquanto você estiver na entrevista.
- Você não tem jeito. - Dei um sorriso nervoso e esfreguei minhas mãos, tentando me livrar da ansiedade.
- Vai dar tudo certo. - Ela segurou minhas mãos antes de entrarmos. - Você rodou nossa cidade inteira a procura de uma oportunidade e não encontrou. É porquê essa aqui estava te esperando.
- Que você tenha razão. - Cruzei os dedos e sorri.
- Vai lá e deixa eles sem palavras. - Beca me abraçou e nós entramos.
O lugar é enorme, um carrinho veio nos buscar e nos levou até a administração, Beca sentou e pegou uma xícara de café, eu apenas segui a secretária até a sala de reuniões. Não foi um caminho muito curto, passamos por inúmeros corredores, inclusive por um em que as paredes eram de vidro e eu consegui ver os jogadores no campo. Estavam sentados ao redor do técnico, conversando ou levando uma bronca, não consegui distinguir. Todas as cabeças se viraram na minha direção quando os saltos da moça na minha frente fizeram barulho demais. Tentei ao máximo não olhar de volta, mas eles não eram nem um pouco discretos.
- Eles são assim mesmo. - A moça, que eu descobri se chamar Jena, sorriu e me acalmou. - Não é sempre que alguém novo aparece por aqui.
- Eu entendo. - Tentei não tremer minha voz. - Só não esperava passar por tanta gente antes de ser chutada daqui.
- Não pode entrar naquela sala com essa negatividade. - Jena apontou para uma porta no final do corredor. - Entre lá pensando que já venceu.
- Eu vou tentar. - Suspirei.
- Escuta, todos os que vieram antes de você eram homens. - Ela parou antes de bater na porta. - Você é o único nome feminino na lista de candidatos, por favor, consiga essa vaga.
- Não posso garantir nada. - Fui sincera. - Ainda estou no início da minha especialização.
- Eu sou a única mulher aqui, além das moças que trabalham na cozinha e elas não conversam com ninguém. - Os ombros de Jena caíram. - Você vai conseguir a vaga, é o seu dia.
- Obrigada, Jena. - Senti o nervosismo diminuir um pouco. - Vou dar o meu melhor.
- Estarei torcendo por você. - Ela cruzou os dedos.
Respirei fundo mais uma vez e bati três vezes na porta antes de entrar. Ferran Soriano, diretor executivo do time, me esperava com um sorriso no rosto.
- Senhorita Osborn. - Ele veio até mim com a mão estendida. - É um prazer recebê-la.
- É um prazer imenso estar aqui. - Apertei sua mão.
- Tem uma mão firme. - Comentou. - Consegue colocar algumas rótulas e tornozelos no lugar?
- É como brincar com minhas barbies articuladas. - Quase infartei quando ele apenas me encarou por alguns segundos antes de soltar uma risada.
- Sente-se, por favor. - Ele puxou a cadeira pra mim.
- Obrigada. - Sentei e impus a melhor postura que minhas vertebrados comprimidas poderiam manter.
- Então, gostou das instalações? - Ele se sentou em sua cadeira enorme, todo orgulhoso.
- O pouco que vi, achei muito bonito. - Assenti e vi seu sorriso se alargar um pouco.
- Você é a única mulher em uma lista com cinquenta interessados no cargo. - Ele folheou alguns papéis em cima da mesa. - A que tem menos experiência também. - Meu estômago gelou. - Pode me dizer um bom motivo para lhe contratar, senhorita Osborn?
- Eu sou teimosa como uma mula. - Disse sem pensar e ele franziu o cenho, sem entender nada. - Não sou somente a única mulher nesta lista, sou a única mulher da minha turma a seguir na área da ortopedia e você pode contar nos dedos quantas mulheres existem no nicho esportivo dessa profissão. - Ele continuou me encarando, dessa vez um pouco pasmo. - Eu sou muito boa no que eu faço. - Deslizei o envelope que continha todas as minhas recomendações e estágios sobre a mesa. - Coloco todos esses jogadores pra comer na palma da minha mão.
- Vejo que tem muitas recomendações. - Ele avaliou meus documentos. - Porquê quer seguir sua especialização fora do hospital universitário?
- Nenhum jogador de futebol ou atleta de nível trata fraturas em um hospital universitário. - Respondi. - Preciso me especializar dentro da realidade na qual eu quero trabalhar.
- Você é, inegavelmente, corajosa. - Ele disse depois de um tempo. - Eu gostei de você, das suas recomendações e de ver a quantidade de estágios que existem no seu currículo.
- Obrigada. - Me limitei a responder, pois estava completamente nervosa.
- Não posso te garantir nada agora, pois ainda faltam três candidatos para serem entrevistados. - Continuou. - Mas, posso dizer que não te exclui de imediato, como fiz com os outros quarenta e sete.
- Bem, é uma resposta muito mais positiva do que eu estava esperando. - Admiti e ele soltou uma risadinha.
- Te ligamos em três dias, no máximo. - Ele se levantou e veio até mim. - Espero que esteja disposta a se mudar para Manchester.
- Com toda certeza. - Aceitei a mão que ele me ofereceu e levantei, o seguindo até a porta. - Obrigada pela oportunidade.
- Eu que agradeço por ter me feito rir de uma piada inteligente no meio de um dia em que só lidei com gente monótona.
- Nos vemos em breve. - Afirmei e ele sorriu, se despedindo de mim logo depois.
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Yuànfèn - Erling Haaland
FanfictionA força de um vínculo entre dois indivíduos. Um relacionamento unido pela fé e pelo destino. O amor que existe entre duas pessoas. || Esta história é composta por dois livros, ambos de mesmo nome, disponíveis no meu perfil. ||