Aqueles caras te tratam como um amuleto

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Cheguei em casa exausta, ficar horas em uma poltrona de avião é completamente cansativo. Senti o cheiro da comida de Beca e meu estômago roncou, ela estava na cozinha e cantarolava alguma coisa enquanto mexia nas panelas.

- Rebeca Osborn, voltei. - Anunciei minha chegada e a cantoria parou.

- Já estava na hora! - Ela saiu da cozinha com um pano de prato pendurado no ombro. - Me conte tudo com detalhes.

- Me alimenta primeiro. - Choraminguei e ela riu.

- A comida está quase pronta. - Ela me puxou pra cozinha. - Vai me contando enquanto termino.

- Tudo bem. - Abri a geladeira e tirei a garrafa de água de lá. - Foi bem legal, pra ser sincera. - Comecei.

Passei as próximas duas horas contando pra Beca tudo que me aconteceu na viagem e, entre as garfadas em sua comida deliciosa, lhe contei também sobre o que vi Jack fazer por lá, que não foi nada demais.

- Então você beijou o Haaland na frente da Isabel? - Ela ignorou absolutamente tudo que eu tinha dito sobre Grealish, porque provavelmente ele já tinha lhe contado tudo. - E o que ela fez?

- Saiu de lá espumando. - Dei de ombros. - Me arrependi depois, fiquei com medo dela aprontar alguma coisa.

- Ele disse algo?

- Me disse pra ficar tranquila, que ela não faria nada. - Beca assentiu. - Também prometeu que resolveria tudo agora que voltamos.

- Espero mesmo. - Ela resmungou. - Gostaria de ter ido, mas, minha carreira vem em primeiro lugar.

- Jack se divertiu. - Garanti. - Bebeu todas, dançou..

- Imagino. - Ela sorriu, inconscientemente. - Ele está animado para o fim de semana.

- E você? - Ela pareceu ponderar o que iria me responder.

- Também. - Confessou. - Gosto dele e sinto que ele gosta de mim, de verdade.

- E gosta mesmo. - O defendi. - Haaland também está animado.

- Vai ser legal. - Ela deu de ombros. - Preciso me arrumar pra ir trabalhar.

- Eu vou dormir. - Me levantei e pus a louça suja na máquina. - Estou quebrada.

- Tem sanduíches de atum na geladeira. - Avisou. - Pra comer quando acordar.

- Obrigada. - Lhe dei um leve abraço e ela deixou um beijinho na minha cabeça.

Arrastei minha mala pra dentro do meu quarto enquanto Beca se arrumava, tomei um banho rápido e me joguei na cama. Apaguei rapidamente, Haaland não me deixou dormir quase nada e, somando as horas de voo, meu corpo pedia por descanso.

Acabei dormindo o resto do dia, acordei algumas horas mais cedo do que o costume para ir ao trabalho, mas já me sentia bem descansada, então levantei pra preparar o café da manhã com calma. Recebi uma mensagem de Ethan, perguntando se deveria vir me buscar, me lembrando que meu pai foi embora e eu não lhe pedi ajuda pra comprar meu carro, então aceitei a carona.

É sempre estranho voltar à rotina depois de fazer algo totalmente diferente do que se está acostumado, eu queria ficar em casa, vendo filmes e comendo doces, mas precisava voltar a trabalhar, o jogo de volta contra os Young Boys aconteceria no Ethad Stadium, ou seja, os rapazes jogariam em casa.

Beca ainda não havia voltado pra casa quando saí, mas deixei seu café da manhã pronto. Ethan já me esperava na frente do condomínio.

- Bom dia, morena! - Sorriu, bem humorado. - Vi fotos suas nas páginas da internet.

- Espero que eu esteja bonita em todas elas. - A informação não me pegou de surpresa, porquê eu já havia visto as fotos mais cedo. Algumas com Julián, outras com Haaland e várias fotos com o pessoal do time, aparentemente, eu chamei atenção.

- Você sabe que sim. - Ele deu de ombros. - Se divertiu?

- Foi mais legal do que eu imaginei. - Respondi. - Tive que lidar com a namorada falsa do Haaland, mas, fora isso, ficou tudo bem.

- Ele ainda não resolveu isso? - Fiquei em silêncio. - Bem, o que importa é que você é mais bonita do que ela.

- E como foi o trabalho sem mim? - Perguntei, já que ele e Jena foram trabalhar normalmente.

- Um mar de tristeza. - Fez drama. - Jena passou o tempo todo falando sobre como você estaria linda.

- Ela é empolgada demais. - Acabei rindo ao me lembrar das cenas que ela protagonizou a cada coisa que eu escolhia pra compor meu look.

- Ela estava orgulhosa em ter te ajudado a escolher a roupa. - Ele riu. - De fato, ela tem motivo pra se orgulhar, você estava linda.

- Obrigada. - Sorri rapidamente. - Senti falta dos meus amigos lá, teria sido ainda melhor.

- O Haaland iria te roubar de nós em algum momento. - Comentou.

- Que besteira. - Retruquei, mesmo sabendo que era verdade e que eu iria com todo prazer.

- Podemos almoçar fora do clube hoje, o que acha? - Propôs. - Eu, você e a Jena.

- Temos tempo?

- Abriu um novo restaurante perto do clube. - Disse. - Conseguimos ir a pé.

- Então tudo bem. - Concordei.

- Então, desistiu de comprar seu carro?

- Aconteceu tanta coisa, que eu esqueci de pedir ajuda ao meu pai. - Resmunguei. - Mas ele vai querer vir assistir o próximo jogo, vou me lembrar.

- Eu gostei da sua família. - Ethan estacionou o carro na vaga de sempre. - Eles são animados.

- Eles também gostaram de você. - E era verdade. - Eu não costumava ter amigos, então, é novidade pra eles que haja tantas pessoas ao meu redor.

- É difícil acreditar que você não tinha amigos. - Disse quando saímos do carro. - Tem um magnetismo em você, que faz as pessoas ficarem ao seu redor.

- Duvido bastante disso. - Ajeitei minha bolsa no ombro e seguimos até o elevador. - Mas fico feliz em ter mais amigos agora.

- Aqueles caras te tratam como um amuleto. - Ethan riu. - Eu nunca vi um comportamento parecido.

- Ainda bem que consegui ter boas relações com eles. - Concordei. - Imagina se não gostam de mim?

- Acho que não tem como não gostar de você, Ellie. - Respondeu prontamente. - Mas entendo o que quer dizer.

- O clube não é só o meu primeiro trabalho, como também é o meu estágio. - Comentei. - Eu dei muita sorte.

- Acho que esses caras choram se um dia você for trabalhar em outro clube. - Nós já estávamos caminhando em direção a minha sala.

- Também não exagere. - Eu ri.

- Estou falando sério. - Insistiu. - Eles se aglomeraram ao seu redor, pra todo mundo sair nas fotos. - Riu. - Você estaria nessa festa de um jeito ou de outro, alguém iria te arrastar. - E no fundo eu sabia que ele tinha razão.

Yuànfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora