Ele não faz milagres

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É dia de jogo, estou vestindo a camisa que Haaland me pediu pra vestir, com seu número e seu apelido nas costas. Um sorriso grandiosamente idiota estampa meu rosto, Beca pôde vir comigo, então hoje estou vendo o jogo das arquibancadas, na área reservada aos funcionários. Jena disse que apareceria e Ethan inventou uma desculpa qualquer quando o convidamos também, ele prefere ficar em casa vendo filmes e comendo.

- Olha ali o bonitão. - Beca apontou pra Haaland, que ria de alguma coisa que Grealish tinha dito. Eles estavam se aquecendo.

- Quando você comprou essa camisa? - Ela usava a camisa nova do City, com o nome de Grealish atrás.

- Eu ganhei. - Respondeu vagamente e eu fiz uma nota mental pra me lembrar de pedir pra Haaland perguntar pra Grealish se ele anda fazendo visitas à minha prima quando eu não estou.

- E aquela viagem que ele nos convidou?

- Acho que é no próximo final de semana. - Deu de ombros. - Você não desistiu, não é?

- Não. - Eu ri. - Relaxa.

- Ellie! - Ouvi alguém me chamando e jurei que era Jena, mas, quando me virei, vi Gabrielle se aproximando, ela estava acompanhada de um casal mais velho, que deduzi serem seus pais.

- Vai conhecer o sogrão. - Rebeca brincou e ganhou um beliscão.

- Gabi, oi! - A chamei pelo apelido que ela havia pedido.

- Não sabia que estaria por aqui. - Ela apontou para as arquibancadas.

- Minha prima veio comigo hoje. - Puxei Beca mais pra frente.

- Rebeca Osborn. - Ela abraçou Gabrielle. - Mas pode me chamar de Beca.

- É um prazer. - Gabrielle seguia animada, como sempre. - Esses são meus pais, Alf e Gry. - Os mais velhos sorriram e se aproximaram, nos cumprimentando com acenos de cabeça. - A Ellie é a nova médica ortopedista do City.

- É mesmo? - De repente Alf pareceu se interessar mais pela minha pessoa. - E como vão os ossos do meu filho?

- Estão ótimos. - Respondi vagamente. - Todos eles estão muito bem.

- O jogo já vai começar. - Beca apontou para o campo. - Jena ainda não chegou.

- Ela pode estar com dificuldades pra entrar. - Gry disse. - Tem muita gente lá fora.

- Eu vou dar uma olhada. - Avisei. - Já volto.

Deixei o grupo pra trás e corri até as entradas do estádio. O City não estava jogando em casa, mas não estávamos muito longe de Manchester, por isso a maioria da equipe conseguiu comparecer ao jogo. Jena realmente estava lá fora, tentando convencer o segurança a lhe deixar passar, porque havia esquecido sua credencial, o homem estava irredutível até que eu mostrei a minha credencial e ele cedeu.

- Eu já estava prestes a voltar pra casa. - Jena resmungou.

- Tem gente demais aqui. - Segurei em seu braço pra não nos separarmos. - Acredita que a família do Haaland está aí? - Ela me olhou com os olhos arregalados. - Ao menos parte dela. - Continuei.

- A namorada falsa? - Neguei. - Bem, menos mal.

- Conheci a irmã dele no fim de semana e agora todos nós vamos ver o jogo juntos. - Respirei fundo enquanto subíamos as escadas de volta para as arquibancadas reservadas.

- Eles são legais? - Eu gostava de Jena porque ela era tão desesperada quanto eu, nós nos dávamos bem.

- Não tive tempo de conversar com eles. - Dei de ombros. - Vamos saber agora.

Todos já estavam sentados em seus devidos lugares, tentei não encarar muito o pai dele, porque ele parecia querer ler a minha alma. Nos sentamos também e logo o juiz apitou, iniciando o jogo. Meus nervos estavam a milhão, o jogo do City começou bem difícil, eles não conseguiam sair da retranca e foi assim até o início do segundo tempo. Akanji marcou o primeiro gol, mal tivemos tempo de comemorar, porque o Meschak, do Youg Boys, marcou um gol de empate e nossa energia foi bater nos pés.

- Estão cercando o Haaland por todos os lados. - Gabrielle reclamou. - Desse jeito não dá.

- A função do seu irmão é passar por eles. - Alf disse, com a expressão séria e sem deixar de acompanhar a partida.

Beca e Jena me encararam, tensas assim como eu, não gostamos do tom que ele usou pra falar do próprio filho.

- Ele não faz milagres. - Gry o defendeu.

Alf ficou em silêncio e Gabrielle me encarou, como se quisesse corroborar com tudo que eu já havia ouvido sobre a relação de Erling com o pai.

O jogo seguiu, Alvaréz entrou e conseguiu desestabilizar as defesas do Young Boys e marcou um gol, no entanto, o lance foi considerado como impedimento e o gol foi anulado. Eu estava começando a ficar um pouco desesperada quando, em um lance mal feito, um pênalti foi marcado a favor do City.

Nos levantamos automaticamente, as mãos nervosas e geladas. Jena apertava meu braço com força e Beca parecia pronta pra xingar qualquer um. Haaland iria bater, meu nervosismo aumentou, não teria problema algum se ele errasse, mas eu não queria que ele precisasse ouvir palavras duras do pai, que parecia muito disposto a criticar ele. Mas ele não errou. Bateu com firmeza, não dando chances ao goleiro rival.

- Porra! - Jena gritou. - Isso é Manchester City, bando de incompetentes.

Todos olharam pra ela, como se fosse impossível alguém com uma carinha tão simpática falar palavrão. Mas ela simplesmente nos ignorou e continuou vibrando junto com a torcida. Haaland não comemorou esse gol, ele olhou diretamente para onde eu estava e ficou um pouco surpreso quando viu seus pais lá. Ele encarou o pai, que não parecia nada feliz com o desempenho do filho no jogo e fez questão de demonstrar isso com sua carranca, percebi que ele sequer levantou pra comemorar o gol marcado. Haaland ficou ainda mais sério e preocupado depois que viu o pai.

O jogo correu bem até que Erling conseguiu fazer outro gol, dessa vez sem pênalti, apenas ele e seu talento. Nós gritamos como malucos, dessa vez o pai dele se levantou, não comemorou como deveria, mas ficou extremamente surpreso quando o filho fez o mesmo sinal que fez no jogo passado, o M sobre o peito e olhou diretamente pra mim.

Meu rosto ruborizou e eu me apeguei a esperança de que ninguém entendesse dessa parada de runas nórdicas, que ninguém ligasse os pontos. Beca, que já sabia de tudo, me abraçou levemente e deu alguns pulinhos. Jena nos encarou com os olhos semicerrados e riu.

- Acho que você tem alguma coisa pra me contar. - Disse baixinho. - Saímos pra comer depois daqui?

- Sim, por favor. - Concordei e Beca também.

O jogo seguiu normalmente, alguns sustos, mas nada que mudasse o placar. O jogo terminou em dois a um para o City e nós seguimos felizes pra fora das arquibancadas.

- Foi um prazer te ver, Ellie. - Gabrielle agiu como se não tivéssemos passado o final de semana juntas.

- Igualmente. - Lhe abracei novamente. - Nós vamos em algum bar, comer e beber algo, você quer vir? - Perguntei baixinho.

- Reunião de família. - Ela sussurrou de volta e eu apenas assenti. - Quando vai comprar seu vestido pra cerimônia da bola de ouro?

- Vamos essa semana. - Beca respondeu por mim. - Nós três, você bem que poderia ir também.

- Sim! - Jena se animou. - Pra nos conhecermos melhor.

- Eu adoraria. - Gabi se animou. - Depois me manda mensagem.

- É claro. - Concordei e dirigi meu olhar para a mãe deles, que vinha até mim com os braços abertos.

- Foi um prazer finalmente conhecer você, doutora. - Gry me abraçou e disse baixinho no meu ouvido. - Você é mais bonita pessoalmente.

Quando ela me soltou, eu estava completamente estática e nervosa, não fazia ideia de que a mãe de Haaland sabia sobre mim. Esbocei meu melhor sorriso sem graça e me despedi de Alf com um aceno de mão, que foi correspondido muito minimamente.

Yuànfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora