Me sinto tão idiota

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Não sei ao certo como cheguei em casa sem causar um acidente, tentei não chorar enquanto dirigia, mas foi impossível. Estava me sentindo muito mal e completamente confusa com o que havia acabado de acontecer. Minha cabeça buscava explicações lógicas, se recusava a acreditar nas coisas que Erling falou, em como ele falou de uma maneira tão seca e com tanta facilidade. Beca me olhou estranho quando abri a porta do apartamento, surpresa por que estar em casa, então seu cenho franziu quando percebeu meu estado.

- Que merda aquele idiota gigante fez com você? - Ela se levantou e me puxou pra dentro.

- O que está acontecendo? - Jack saiu da cozinha, enxugando as mãos em um pano de prato. - Ellie, o que aconteceu?

- Eu acho que não estou mais namorando o Erling. - Respondi, olhando mais pra Beca do que pra ele.

- Como assim? - Ela me fez sentar no sofá. - Jack, faz um chá pra ela.

- Claro. - Ele entendeu que era pra nos deixar sozinha e voltou pra cozinha.

- Me explica as coisas direito. - Ela enxugou algumas lágrimas do meu rosto.

- Eu não sei bem o que acabou de acontecer. - Respirei fundo, tentando não gaguejar. - Acho que ele terminou comigo.

- E qual o motivo? - Ela perguntava devagar, me dando tempo pra pensar.

- Contei pra ele sobre a proposta do Florentino. - Expliquei. - Disse que já tinha negado e ele simplesmente me disse pra aceitar.

- E o que mais? - Grealish voltou pra perto de nós e me entregou uma caneca com chá. Ele sentou a uma distância segura e ficou me olhando com cuidado.

- Eu expliquei que não queria aceitar o cargo, que não precisava. - Beca apenas assentiu. - E ele disse que eu estava perdendo uma oportunidade importante por nada.

- Por nada? - Beca repetiu, seu tom de voz agora um pouco mais alto.

- Idiota demais. - Ouvi Jack sussurrar pra si mesmo.

- Eu disse que tinha tudo que precisava aqui, incluindo ele. - Uma bola se formou na minha garganta quando lembrei do que Haaland falou. - E ele disse que nosso namoro era recente, que eu não sabia se iríamos dar certo.

- Eu sinto muito. - Beca não fez mais perguntas.

- Me sinto tão idiota. - Não consegui segurar o choro e desabei no ombro dela. - Ele falou com tanta facilidade, como se não fôssemos nada.

- Eu vou lá. - Jack se levantou. - Isso tá errado.

- Não, Jack. - Pedi. - Por favor.

- Senta aí. - Beca mandou e ele obedeceu. - Vai tomar um banho, Ellie. - Ela enxugou minhas lágrimas novamente. - Bebe o seu chá e vai dormir. - Eu concordei. - Nós vamos conversar melhor sobre isso amanhã.

- Tudo bem. - Me levantei, deixando todas as minhas coisas no sofá e levando apenas a caneca de chá.

- Mas, Beca.. - Ouvi Grealish insistindo com ela. - Isso tudo tá muito estranho, eu tenho que ir lá ver o que deu nele.

- Jack. - Beca falou curta e grossa. - Se você for lá, eu também vou e eu estou com tanta raiva nesse exato momento.... - Ela parou de falar.

- Tudo bem. - Foi a última coisa que ouvi ele dizer.

Entrei no meu quarto e fechei a porta, coloquei a caneca com chá em cima da mesa de cabeceira e segui direto para o banheiro. Eu me permiti chorar em baixo do chuveiro e chorei como uma criança idiota, chorei de tristeza e de raiva, me senti enganada, usada e no fim de tudo, nada. Minha mente repassava a expressão no rosto dele, o tom de voz e a frieza com a qual disse tudo, nada daquilo combinava com o Erling e ainda assim era ele dizendo tudo.

Depois do banho, me sentei na cama, ainda no completo escuro e me dei conta de que não sabia o que fazer a partir dali. Bebi todo o chá em um único gole e me deitei pra dormir, minha cabeça estava em branco, não consegui parar de reviver os mesmos momentos durante toda a noite, mesmo dormindo, tudo retornava em uma espiral inacreditavelmente dolorosa.

Quando acordei na manhã seguinte, meus olhos mal abriam de tão inchados. Meu celular havia ficado na sala, então o despertador não me acordou, me levantei em um pulo e saí do quarto, procurando minha bolsa.

- Calma. - Beca veio até mim. - Você não vai trabalhar hoje, já resolvi tudo.

- O quê? - Parei no meio da sala. - Como assim?

- Grealish vai falar que você está passando mal. - Ela explicou melhor. - Você vai ficar em casa hoje.

- Mas eu tenho muita coisa pra fazer no trabalho. - Insisti.

- Não vai ser hoje que você vai fazer. - Ela deu de ombros. - Vamos tomar café da manhã e conversar melhor sobre tudo.

Não me opus novamente. Aceitei o que Beca decidiu e fui me juntar a ela pra tentar comer alguma coisa, mas nada entrava. A comida parecia amargar e tudo travava na minha garganta, meu corpo parecia não ter forças pra nada, eu só queria voltar pra minha cama.

- Eu posso dormir mais um pouco antes de conversar? - Pedi. - Me sinto tão cansada.

- Pode sim. - Beca suspirou. - Eu vou fazer o almoço e te chamo pra comer.

- Não estou com fome. - Ela me olhou como alguém que já sabia disso.

- Vai dormir, Ellie. - Sorriu brevemente. - Conversamos mais tarde, quando você estiver melhor.

Apenas assenti e me arrastei de volta para o meu quarto. Eu precisava dormir mais, ou dormir alguma coisa, porquê não sei se cheguei fazer isso durante a noite. Liguei o ar condicionado na temperatura mais baixa possível e me enrolei nos lençóis, tentando, a todo custo, fazer meu corpo entender que eu precisava descansar.

Eu consegui dormir, acordei algumas horas mais tarde com algumas vozes na sala. Pensei seriamente se deveria sair do quarto e enfrentar as pessoas, mas não tive muita escolha porque Beca entrou, acompanhada de Jena e as duas me puxaram da cama, me obrigando a reagir. Já era noite e eu não percebi que havia dormido o dia inteiro, Beca, com pena de mim, não me acordou pra almoçar e eu fiquei muito grata por isso. Não sentia fome alguma, muito menos vontade de comer, eu queria deixar de existir por alguns dias até conseguir superar melhor as coisas. Mas essa opção não estava disponível.

Yuànfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora