Eu nunca tossi tanto em toda a minha vida. A água salgada parecia ter arranhado minha garganta, eu não conseguia respirar sem sentir tudo arder.
- Moça, você está bem? - A voz do meu salvador me despertou da minha possível morte. - Respira, pelo amor de Deus.
- Bem não é a palavra correta. - Respondi com a voz falha. - Mas consigo respirar melhor agora.
- Nunca vi ninguém dar tantas cambalhotas submersas. - Ele brincou. - Estava testando pra ver se virava sereia?
- Obrigada, humorista. - Soltei uma risadinha. - Por não me deixar continuar com meu delírio.
- Por nada. - Ele continuou sorrindo e só então percebi que era o garoto tatuado que Jena havia apontado mais cedo.
- Ellie! - Elas chegaram correndo. - Porquê essas coisas só acontecem com você? - Beca ralhou.
- Achamos que tinha quebrado o pescoço. - Jena me olhou preocupada.
- O humorista me salvou. - Apontei para o rapaz, que ainda me olhava.
- Vincent. - Ele se apresentou. - Não foi nada.
- Obrigada, Vincent. - Beca agradeceu mais uma vez. - Ela tem uma leve tendência a acidentes mortais.
- Imagina morrer afogada na praia que veio comemorar o seu aniversário? - Jena perguntou. - Ai, credo.
- É seu aniversário, sereia? - As meninas arregalaram os olhos com o apelido e eu fiquei totalmente envergonhada. - Bem, meus parabéns.
- Obrigada. - Sorri brevemente pra ele e encarei minha prima em desespero.
- Vamos voltar para os rapazes. - Ela segurou meu braço e me puxou. - Obrigada novamente, Vincent.
- Sempre que precisar. - Ele acenou com a cabeça e ficou nos observando enquanto nos afastávamos.
Não tive coragem de olhar pra trás, as meninas estavam com sorrisinhos no rosto que eu sabia que me renderiam muita chatice, então também não ousei dizer nada até chegarmos na casa novamente.
- Ele é ainda mais gato de perto. - Jena quase saltitou. - Aquele peitoral, meu Deus.
- Ele teria secado o mar inteiro antes de você se afogar. - Beca riu. - O jeito que o gato estava te olhando, deixou o sol mais quente.
- Já podem ir parando. - Resmunguei e aceitei outro drink que o garçom me ofereceu.
- Você deveria convidar ele. - Jena sugeriu. - Sabe, pra agradecer por não ter deixado você se afogar.
- Sem chance. - Me apressei em negar. - E esqueçam esse assunto. - Pedi quando vi os rapazes se aproximando de nós.
- Estão com fome? - Jude perguntou.
- Vou pedir pra servirem o almoço. - Sebastian se apressou até a cozinha.
- Ellie, seu braço está arranhado. - Alvaréz se aproximou e segurou meu cotovelo. - Tudo bem?
- Eu tomei um caldo. - Ri de mim mesma. - Me arranhei na areia.
- Quase que Poseidon leva ela. - Jena brincou.
- Sério? - Jude se apressou em vir até mim também. - Porquê não pediram ajuda?
- Ela foi.. - Jena ia abrir o bocão, mas Beca a interrompeu.
- Conseguimos puxar ela. - Disse. - Foi só um susto.
- Eu estou bem. - Garanti. - Acho que engoli alguns mariscos, mas tá tudo certo.
- Eu te deixo por vinte minutos. - Jude resmungou. - Acho que você veio pra terra sem anjo da guarda.
- Tenho a mesma suspeita. - Beca concordou com ele.
- Vamos almoçar, pessoal. - Sebastian voltou. - Ainda temos um bolo pra cortar.
Nos sentamos ao redor de uma mesa redonda, recheada de comidas feitas com frutos do mar. Por sorte, ninguém tinha alergia a nada. Ao contrário do que pensei, Alvaréz se enturmou rápido, afinal, fala espanhol melhor do que eu. Jude se mantinha um pouco distante dele, mas os outros o aceitaram bem, Jack também estava muito entretido e todos pareciam se divertir. Quando terminamos de comer, Sebastian foi até a cozinha novamente e voltou de lá com um bolo enorme.
- Você provavelmente não vai querer que a gente cante parabéns. - Ele sorriu e colocou o bolo na mesa, bem na minha frente. - Então apenas faça um pedido e sopre as velas.
- Obrigada. - Me levantei, com os olhos cheios de lágrimas. - Eu gostaria de agradecer por vocês estarem aqui. - Observei cada um dos rostos virados na minha direção. - Aos meus amigos que despencaram de Manchester pra cá e aos amigos que me acolheram quando cheguei aqui. - Então soprei as velas. - Não tenho nada para pedir, tudo em mim é gratidão no dia de hoje.
- Para de graça e não me faz chorar. - Jude se levantou e veio me dar um abraço. - Acho que falo por todos quando digo que somos felizes pela sua vida e pela sua presença na família do Madridista.
- E pela sua chatice também. - Sebastian completou.
Ainda abraçada com meus amigos de Madrid, autorizei que o garçom partisse e servisse o bolo, não quis fazer todo aquele ritual de costume, pra entregar o primeiro pedaço, pois a pessoa a qual ele pertencia não estava presente.
- Que tal um vôlei? - Jena sugeriu. - Na água, claro.
- Eu topo. - Me animei, vôlei sendo a única coisa que sei jogar.
- Estou no time da Ellie. - Alvaréz levantou a mão.
- Bem, vamos nos dividir, então. - Jude pôs a mão no meu ombro. - Também estou no time da Ellie.
Percebi Jena e Beca trocando olhares e risadinhas, mas fiz a sonsa e fiquei na minha. Demos um tempo depois de comer o bolo, conversamos, brincamos, gravamos stories e depois fomos jogar. No final do dia eu estava tão cansada que mal conseguia levantar minhas pernas.
- Jude, me carrega? - Estendi meus braços, fazendo o maior drama que podia. - Meus pés doem.
- Tá achando que é o quê, minha filha? - Ele reclamou, mas veio até mim. - Se manca.
- Sou cansada. - Respondi.
- Chata. - Ele segurou minhas pernas e me colocou nas costas. - Se eu lesionar minha coluna, vou te processar.
- Eu sou levinha. - Resmunguei.
- Nos encontramos na sua casa. - Beca passou por nós. - Alvarez vai também.
- Ele vai ficar hospedado na sua casa? - Jude perguntou quase que imediatamente.
- Ainda não sei. - Realmente não havia pensado nisso. - Tem quartos o suficiente lá.
- Nem sabia que ele viria. - Nós chegamos no carro dele, que estava abarrotado com os presentes que ganhei.
- Vocês demoraram. - Sebastian nos encarou e riu. - Tudo bem, Ellie?
- Só estou cansada. - Jude me pôs no chão. - Meus pés doem.
- Tem certeza que não tirou nada do lugar quando quase se afogou? - Jude insistiu.
- Tenho. - Assenti. - Só não estou acostumada com tanta atividade física.
- Porquê não vamos para a academia do prédio? - Jude abriu a porta do carro pra mim. - Eu posso ir com você a noite.
- Vou pensar nisso. - Tentei enrolar e ele riram.
- Começamos na segunda. - Jude bateu o martelo.
- Você é um chato. - Ralhei.
Nós entramos no carro e seguimos de volta para o meu apartamento, Sebastian não quis subir, apenas pegou o carro e voltou pra casa assim que chegamos.
- Tá tudo bem com ele? - Questionei Jude.
- Tá sim. - Se limitou a responder. - Ele disse que já tem muita gente na sua casa.
- Sebastian é antissocial, como eu. - Eu ri. - Por isso nos damos bem.
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Yuànfèn - Erling Haaland
FanfictionA força de um vínculo entre dois indivíduos. Um relacionamento unido pela fé e pelo destino. O amor que existe entre duas pessoas. || Esta história é composta por dois livros, ambos de mesmo nome, disponíveis no meu perfil. ||