Eu prefiro doutora

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Passei um tempo conversando com Haaland, mas precisava voltar pra casa, estava ficando tarde e se eu não chegasse antes de Beca sair pra trabalhar, ela iria arrancar minha cabeça. Então comecei a procurar meus amigos novamente.

- O que tanto procura lá em baixo? - Ele me estendeu outro drink.

- Meus colegas. - Respondi, voltando minha atenção pra ele.

- Eu posso te levar em casa. - Pareceu adivinhar meus pensamentos.

- Eu posso pegar um táxi. - Tentei negar, mas a verdade é que estava nervosa em passar um tempo sozinha com ele.

- Está tarde pra pegar um táxi sozinha. - Ele negou. - Vamos doutora, eu te levo.

- Pode me chamar de Ellie. - Falei. - Doutora é muito formal.

- Eu prefiro doutora. - Ele riu. - Todo mundo te chama de Ellie, gosto de exclusividade. - Novamente ele conseguiu me deixar completamente sem reação. - Meu carro está no subsolo, vamos lá.

- Tudo bem. - Dei mais uma olhada lá me baixo, procurando meus colegas, mas não os encontrei.

Ficamos em silêncio até conseguir passar por todas as pessoas presentes no local, meus pés estavam machucados pelos saltos, eu estava andando tal qual uma pata manca. Erling me guiou até a área dos fundos, onde ficavam os elevadores e esperou que eu entrasse antes de entrar também.

- Então você mora em outra cidade. - Ele comentou enquanto apertava o botão do subsolo.

- Pois é. - Dei de ombros. - Mas, pretendo me mudar pra Manchester se passar na entrevista.

- Você vai passar, doutora. - Ele riu. - Você foi a única candidata que tinha cara de competente.

- Espero que o diretor tenha pensado isso também. - Mexi meus pés doloridos, sentindo meus calcanhares reclamarem.

O elevador parou no subsolo, Haaland pôs a mão na porta e esperou que eu saísse. A todo momento eu conseguia sentir seu olhar sobre mim, as vezes ele percebia que estava olhando demais e desviava, mas eu não sabia o que fazer.

- Os saltos estão te machucando? - Perguntou depois de darmos alguns passos dentro do estacionamento.

- Não tenho costume de usar. - Tentei amenizar.

- Espera. - Ele segurou meu braço e me fez parar de andar.

Erling se ajoelhou no chão do estacionamento e segurou meu tornozelo delicadamente, puxando meu pé para perto de si.

- Haaland, pelo amor de Deus, levanta daí. - Tentei puxar minha perna, mas ele não deixou. - Eu posso fazer isso sozinha.

- Preferi quando você me chamou de loirinho hoje mais cedo. - Ele me ignorou e terminou de tirar o sapato, puxando minha outra perna. - Pronto, doutora. - Levantou, segurando meus saltos. - Agora pode desfilar lindamente, como fez no corredor do CT. - Ao contrário do que eu imaginei, ele não me entregou meus sapatos, os levou consigo.

- Grealish vai ficar? - Puxei assunto, pois não sabia o que dizer e estava ficando nervosa.

- Amanhã ele aparece. - Deu de ombros. - Quando ele bebe, perde a noção do tempo.

- Isso não atrapalha o desempenho dele? - Haaland riu.

- Já está agindo como um membro da equipe. - Ele me olhou. - Acho que Grealish é movido a álcool. - Respondeu minha pergunta e foi a minha vez de rir. - Meu carro é esse aqui.

- Porra! - Soltei sem querer e ele me olhou abismado. - Me desculpa, saiu no impulso.

- Tudo bem. - Ele soltou uma risadinha e abriu a porta pra mim. - Nunca vi alguém ficar tão bonita falando um palavrão. - Disse antes de fechar a porta, me deixando, mais uma vez, envergonhada.

- Seu carro me chamou de pobre de tantos modos diferentes. - Comentei assim que ele entrou. Meus saltos foram colocados no chão, atrás do banco do motorista.

- Você não dirige? - Eu neguei. - Porquê?

- Eu tenho carteira, fui aprovada, mas a primeira e única vez que tive um carro, bati em um poste. - Ele arregalou os olhos. - Eu vendi o carro e nunca mais dirigi.

- Caramba, doutora. - Negou com a cabeça e riu.

- Eu sou uma pessoa um pouco perigosa pra humanidade em geral. - Dei de ombros.

- Não é não. - Ele deu partida e fechou os vidros do carro, ligando o ar condicionado. - Desculpe ter que fechar os vidros, é que eu nunca sei quando vão haver câmeras apontadas pra mim.

- Tá tudo bem. - Me ajeitei no banco e afivelei o cinto.

- Pode colocar seu endereço aqui? - Ele me entregou seu celular. - E seu número também.

- Você é bem confiante, não é? - Provoquei, mas já estava salvando meu contato.

- Não posso ter o telefone da ortopedista que vai cuidar dos meus lindos ossinhos? - Brincou.

- Pode sim. - Sorri e lhe entreguei o celular com meu contato salvo e a localização do meu apartamento.

- Seus amigos não vão ficar preocupados com você? - Ele me encarou rapidamente enquanto fazia uma curva.

- São colegas da faculdade. - Justifiquei, mas peguei meu celular pra informar Ana sobre meu paradeiro. - Vou avisar que peguei um uber.

- Uber, sério? - Ele gargalhou. - Tudo bem, senhora, a deixarei em seu destino em segurança.

- Uber black. - Me mexi no banco do passageiro e puxei meu vestido mais pra baixo, ele havia subido quando me sentei.

Percebi o olhar de Erling em minhas pernas, ele engoliu em seco e apertou o volante com um pouco mais de força. Um calor estranho se espalhou pelo meu corpo quando notei suas reações.

- Onde está sua prima? - Ele limpou a garganta e perguntou.

- Dormindo. - Respondi. - Teria vindo comigo se não estivesse de plantão amanhã.

- Ela também é médica? - Assenti.

- Psiquiatra. - Ele concordou. - Ela teria adorado me ver jogando bebida na cabeça do Luck.

- Não gosta dele? - Neguei.

- Ela nunca gostou e sempre me alertou sobre algumas toxicidades que ele tem. - Dei de ombros.

- Sinto muito. - Ele pareceu não saber o que dizer. - Mas você não parece muito abalada.

- Eu realmente não estou. - Suspirei, me sentindo culpada por não ter derramado uma única lágrima. - Nosso relacionamento foi bom enquanto ainda estávamos no ensino médio, depois foi só ladeira a baixo.

- Entendi. - Disse sem tirar os olhos da estrada.

- Eu não te agradeci por ter me defendido dele, então, obrigada. - Ele me olhou e piscou algumas vezes antes de responder.

- Se você estava jogando bebida na cabeça dele, é porque ele mereceu. - Fez pouco caso.

- Se não fosse por você, eu estaria lá em baixo esperando ele descer. - Acabei rindo. - Mas só sairia de lá depois de fazer o que fiz.

- Como descobriu que ele estava lá?

- Minha colega me mandou fotos e vídeos dele com a outra moça. - Expliquei. - Eu evitei terminar com ele hoje mais cedo, por pura covardia minha. - Ele assentiu, mostrando que estava prestando atenção mesmo que não estivesse me olhando. - Então aproveitei que havia um motivo plausível e terminei logo.

- É engraçado como as vezes ficamos presos em relacionamentos falidos. - Comentou.

- Ele queria que eu desistisse de ser médica. - Revirei os olhos. - É um idiota completo.

- Acha que ele vai te deixar em paz?

- Se ele for me procurar, vou jogar água quente. - Resmunguei e ele soltou uma risada.

- Eu pago sua fiança.

- Muito obrigada! - Acabei rindo também.

Yuànfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora