Você dilata minha pupila

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Erling Braut Haaland

Meu olho esquerdo tremeu mil e quinhentas vezes quando vi o panaca do Alvaréz sentado na sala da casa da doutora. Senti ainda mais raiva quando vi que ele havia trazido flores, olha, sinceramente, tá ficando difícil não querer torcer o pescoço desse cara. Dave soltou uma risadinha e apertou meu ombro antes de ir sentar também, nós conversamos sobre minha situação com Isabel. Ele me puxou pra varanda assim que cheguei, Ellie ainda estava dormindo e eu não quis que minha sogra a acordasse. Então meu cunhado me pôs contra a parede e ameaçou quebrar minhas duas pernas se eu não abrisse o jogo sobre minhas intenções com a irmã dele.

Essa atitude me fez gostar mais dele, saber que existe outra pessoa capaz de cometer atrocidades por ela. Dave é advogado, eu não sabia disso e não pedi sua ajuda, mas, quando ele me ouviu falar sobre tudo, se dispôs a me ajudar. Eu não entendi muito bem, ele apenas me pediu uns dias pra se inteirar melhor e nós trocamos nossos contatos, pra que ele pudesse me contactar a qualquer momento. Não reclamei, era a primeira vez que alguém me oferecia ajuda, todos ao meu redor sempre dizem que eu preciso resolver, que preciso dar um jeito, mas ninguém nunca me deu uma ideia de como fazer isso.

- Eu gostei do jeito que te vi olhar pra minha irmã. - Ele disse. - Tão preocupado.

- Eu amo a sua irmã. - E essas palavras estavam saindo com cada vez mais facilidade.

- Você nem precisa dizer isso. - Ele riu. - Vou te ajudar, cunhadinho.

- Fico te devendo. - Afirmei.

- Ingressos pra o jogo do City. - Ele deu de ombros. - E já ficamos quites.

- Quando quiser. - Eu ri, vendo que estava me dando bem com o irmão da minha mulher e isso era importante.

Dave percebeu que fiquei completamente fora do eixo quando meu sogro, que ainda não sabe que é meu sogro, perguntou sobre a premiação da bola de ouro. Enquanto Alvaréz estava todo empolgado em falar que iria com a Ellie, eu só queria me afundar no sofá até sufocar com a espuma. A ideia de pedir pizza foi uma boa escapatória, logo o assunto foi trocado pelo famoso jantar que minha sogra vai oferecer, jantar esse que já está virando um evento de grande porte, já que ela convidou o time quase todo.

Agora, deitado no quarto de Ellie, observo enquanto ela procura por um pijama pra dormir. Particularmente, prefiro que ela durma sem nada, mas, tendo em vista que agora estou presenciando ela trocar de roupa na minha frente, não tenho absolutamente nada do que reclamar.

- Você está bem mesmo? - Perguntei quando ela se sentou ao meu lado. - Não sentiu mais nada?

- Nadinha. - Negou, com um sorriso no rosto. - Não sei porquê o médico passou tantas recomendações.

- Você bateu a cabeça. - Dei de ombros. - Precisa dar um tempo pra desamassar o seu cérebro.

- Meu cérebro não está amassado. - Ellie gargalhou. - Deixa de ser besta.

- De toda forma, nada de emoções fortes nos próximos quinze dias. - Repeti o que o médico disse. - Vou te vigiar de perto.

- Não precisa disso tudo. - Ela se ajeitou na cama. - Estou com sede.

- Quer que eu busque água? - Ela negou. - E vai dormir com sede?

- Quando eu dormir, passa. - Se aconchegou no edredom.

- Vou buscar uma garrafa de água pra você. - Levantei antes que ela pudesse retrucar.

Por sorte eu já conhecia bem a casa, então não foi difícil encontrar o que precisava e voltar pra o quarto, não sem antes passar pelo buquê de flores horroroso que Alvaréz comprou e resmungar alguns palavrões. Eu deveria ter pensado em trazer flores, mas sou um idiota, agora ele causou uma boa impressão que eu não causei. O jeito vai ser matar ele mesmo.

- Amor. - Chamei quando entrei no quarto e as luzes já estavam apagadas. - Dormiu?

- Não. - Sua voz soou preguiçosa.

- Sua água. - Lhe entreguei a garrafinha e tirei a camisa antes de sentar na cama pra tirar meus sapatos.

- Você é muito perfeitinho, sabia? - Ouvi ela dizer e senti suas mãos acariciarem levemente minhas costas.

- Eu? - Desafivelei o cinto e me levantei pra tirar minha calça. - Diante de todas as coisas que eu te faço passar, como pode me dizer isso?

- Ah, você me faz raiva, mas eu te amo. - Um silêncio se fez no quarto, como se Ellie tivesse sido pega de surpresa com as próprias palavras.

- Você o quê? - Terminei de dobrar minhas roupas e as coloquei em cima da cômoda. - Repete.

- Não! - Ellie se cobriu da cabeça aos pés, como uma criança.

- Doutora. - Engatinhei até parar ao seu lado na cama. - Sai daí de baixo.

- Estou com vergonha. - Resmungou

- Quero que esteja olhando pra mim quando eu disser que também te amo. - Aos poucos o edredom foi baixando e seu lindo rosto apareceu.

- Eu vi suas pupilas dilatadas quando dançamos na sua casa. - Respondeu e eu não entendi. - Acontece quando sentimos algo muito forte por alguém.

- Então meus olhos me entregaram? - Ela assentiu. - Já sabia que eu te amava antes de mim.

- A única coisa que eu sei é que amo você. - Disse novamente e meu coração acelerou.

- Eu também amo você. - Segurei seu rosto e lhe dei um selinho. - Há milhões de razões pelas quais eu te amo e eu tenho certeza que posso encontrar mais um milhão.

- Você dilata minha pupila. - Ela segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou. - Em termos médicos, essa é uma declaração de amor e tanto.

- Me sinto lisonjeado. - Puxei o edredom pra me cobrir também.

- Obrigada por ter ficado aqui hoje. - Ellie se aconchegou em meus braços.

- Não consigo negar nenhum pedido seu. - A envolvi em um abraço.

A respiração de Ellie ficou calma em poucos minutos, não sei explicar a felicidade que sinto só de ficar junto dela e respirar. Não tem como negar, eu estou com ela, sou dela e sem ela eu não sou. Porquê eu preciso dela, só dela e com ela eu vou pra absolutamente qualquer lugar.

Me sinto o homem mais sortudo do mundo por saber que o amor dessa mulher pertence a mim.

Yuànfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora