Não dormi bem longe de você

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Fazia frio no aeroporto, o que era de se esperar já que estava de madrugada. Esfreguei minhas mãos em uma tentativa falha de me aquecer, o voo do Haaland estava um pouco atrasado por causa da baixa visibilidade, mas já havia sido informado de que pousaria em breve. Aguardei por mais alguns minutos até ouvir um aviso sobre o pouso, me dirigi até a área de desembarque e não precisei esperar muito pra ver um cara alto e manco pulando em minha direção.

- Oi amor! - Me adiantei até ele, pra conseguir lhe apoiar.

- Oi doutora. - Ele sorriu e me abraçou. - Senti sua falta.

- Também senti a sua. - Retribui o abraço. - Como está o seu pé?

- Dolorido. - Resmungou e nós começamos a caminhar em direção ao estacionamento. - Provavelmente não vou poder jogar.

- Vamos ver isso nos exames. - Deixei um beijo em seu ombro.

- Eu aceito beijinhos como remédio, sabe? - Brincou. - Deve melhorar rapidinho.

- Fazemos um teste quando chegarmos na sua casa. - O ajudei a entrar no carro e ele largou a mochila no banco de trás. - Está cansado?

- Não muito. - Suspirou. - Um pouco decepcionado.

- Não fique assim. - Pensei no que falar. - Essas coisas acontecem, fazem parte da sua carreira.

- Eu sei, amor. - Ele apoiou a mão na minha coxa enquanto eu dirigia. - Só fico inconformado.

- Eu posso entender. - Assenti. - Bem, em todo caso, vou estar aqui pra você.

- É bom ouvir isso. - Sua mão apertou minha coxa. - No momento eu só quero ir pra casa e ficar deitadinho com você.

- Todas as suas vontades. - Me arrependi imediatamente do que falei quando ele soltou uma risadinha.

- Gosto muito disso. - Me apertou mais. - Você ainda tem uma aposta pra me pagar.

- Não começa. - Ri, nervosa. - Você está machucado.

- Só o tornozelo. - Deu de ombros. - Eu te cobro depois.

- Eu sei que vai. - Concordei. - Vou precisar examinar seu tornozelo, provavelmente vamos ter que ir ao clube amanhã.

- Mas é sábado. - Resmungou.

- Precisamos de um diagnóstico oficial. - Lamentei. - Seu humor melhora se passarmos o dia juntos?

- Sim, por favor. - Ele sorriu.

Seguimos para casa dele e logo já estávamos na sala de estar aquecida.

- Quentinho. - Quase gemi em satisfação. - Lá fora está cada vez mais frio.

- Você sempre fica com a ponta do nariz vermelho, sabia? - Ele se voltou pra mim e tocou meu nariz. - É muito fofo.

- Me dá um beijinho pra esquentar. - Fiz um biquinho e ele sorriu, deixando um beijo no meu nariz.

- Vou tomar um banho. - Avisou. - É um convite.

- Deixa de ser bobo. - Ralhei. - Você mal chegou.

- Chata. - Resmungou e mancou até seu quarto.

- Está com fome? - Ele parou e me encarou, pensando. - Vou preparar alguma coisa.

- Podemos pedir. - Então eu entendi o porque dele não ter respondido.

- Você está com fome e não me disse pra eu não cozinhar? - Em silêncio mais uma vez. - Minha comida é ruim?

- Não amor. - A resposta veio rápida. - Eu só não quero te dar trabalho.

- Cala a boca e vai tomar banho. - Briguei. - Não quero saber de nada.

- Também te amo. - Ele soltou um beijo no ar e sumiu no corredor.

Eu estava preocupada com ele, porque sei que a cabeça deve estar a mil por hora, distrai-lo com uma comida quentinha, mesmo sendo madrugada, parecia uma boa opção.

Acabei preparando hambúrgueres de carne moída que já estavam congelados no freezer dele, eram os únicos vestígios da senhora que cuidava da casa, a comida bem feita e a casa em ordem. Pus algumas verduras e molhos, enfiei o máximo de batatas que pude no air frayer e chocolate quente ao invés de algo gelado pra beber. Eram besteiras e ele com certeza precisaria passar algumas horas a mais na esteira pra perder as calorias.

- Loirinho? - Chamei quando entrei no quarto com a bandeja cheia de comida.

- É meio difícil não escorregar com esse tornozelo inchado. - Ele resmungou de dentro do banheiro.

- Precisa de ajuda? - Coloquei a bandeja em cima da mesinha e me aproximei da porta.

- Por favor. - Aceitou a contragosto.

- Beleza. - Entrei no banheiro, ele ainda estava despido, apoiado no box, com uma carranca no rosto. - Deixa eu pegar a toalha.

- Que situação constrangedora. - Reclamou. - Pelado e manco.

- Me desculpa, mas eu vou rir. - Soltei uma risada e ele ficou me encarando indignado. - Anda, vamos.

- Vai rindo. - Ameaçou. - Espera meu tornozelo melhorar pra você ver só.

- Se eu precisasse de ajuda, também pediria a você. - O ajudei a sentar na cama. - Então pare de reclamar.

- Nosso namoro ainda está no início. - Explicou enquanto me observava pegar uma cueca limpa. - Você só precisa me ver sendo deplorável depois de alguns anos.

- Quando a intimidade chega, não tem como fugir. - Lhe entreguei a cueca e uma bermuda. - Você apenas decide se fica ou se vai.

- Ei. - Ele segurou meu pulso, me impedindo de me afastar. - Eu escolho ficar, sempre vou escolher ficar com você.

- Então pare de reclamar como um chato. - Soltei meu braço e me afastei pra buscar a comida.

- Desculpe. - Murmurou. - Fui idiota, não vou mais reclamar quando você cuidar de mim.

- Eu espero mesmo. - Lhe entreguei o prato com hambúrguer e batatas. - Ou eu coloco pimenta na sua bebida.

- Obrigado. - Ele esperou que eu me sentasse ao seu lado. - Obrigado por ter escolhido ser minha.

- Não precisa de tanto também. - Ri, envergonhada. - Eu te amo e vou cuidar de você mesmo sendo um reclamão.

- Eu te amo. - Repetiu. - E você é mais gostosa que esse hambúrguer. - Falou com a boca cheia.

- Me sinto lisonjeada. - Sorri. - Agora come.

Ele ligou a televisão e deixou passar uma série de humor enquanto comíamos. Demos algumas boas risadas antes de limparmos nossos pratos, ainda assistimos por um tempo e então ele simplesmente desligou a televisão e se deitou, me puxando pra deitar em seu peito.

- Não dormi bem longe de você. - Sussurrou e deu um beijo na minha cabeça. - Será que pode vir aqui me fazer dormir todas as noites?

- Posso encharcar um travesseiro com meu perfume e te dar. - Propus e ele riu, senti seu peito vibrar.

- Só serve você. - Me apertou. - Acho que tem haver com sentir o batimento do seu coração e ouvir você falando enquanto dorme.

- Eu não falo dormindo. - Resmunguei.

- Fala sim. - Riu novamente. - Mas faz parte do charme de dividir a cama com você.

Yuànfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora