Gosto da sua estranheza

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Erling Braut Haaland

O quarto da doutora estava uma bagunça. A madrugada de ontem foi um borrão, me levantei devagar e observei o ambiente ao meu redor. Nossas peças de roupa estavam espalhadas pelo chão, Ellie dormia tranquilamente ao meu lado, adoro o jeito que ela dorme. Geralmente toma quase todo o espaço da cama, toda esparramada e com os cabelos em absolutamente todo lugar.

Catei minha cueca e entrei no banheiro, minhas costas arderam como se tivesse caído de bicicleta e rolado pelo asfalto quando me molhei, embora tenha feito uma careta de dor, me senti satisfeito, porque foi a minha mulher que deixou essas marcas em mim e ela pode fazer o que quiser comigo.

Ellie ainda dormia quando saí do banho, tomei a liberdade de pedir café da manhã antes de finalmente ir acorda-la. Não tínhamos muito tempo sobrando até o horário do voo de volta pra Manchester. Deixei beijos em suas costas até ouvir um leve suspiro, ela se mexeu devagar e resmungou, mas parecia não querer acordar.

- Amor. - Chamei baixinho. - Hora de acordar, já está tarde.

- Não. - Balbuciou de um jeito fofo e meu coração derreteu.

- Temos que tomar café da manhã antes de irmos ao aeroporto. - Insisti. - Levanta.

Ellie virou de frente pra mim e sorriu, mesmo que ainda estivesse com os olhos fechados. Deixei um selinho em seus lábios e ela me olhou, olhinhos pequenos de sono e borrados da maquiagem, mas ainda estava totalmente linda.

- O serviço de quarto já deve estar chegando. - Me afastei pra que ela pudesse levantar.

- Vou tomar um banho. - Avisou e levantou da cama, completamente nua.

Ellie caminhou até sua mala e levou um tempo procurando algumas peças de roupas lá, me perdi enquanto analisava as curvas do corpo dela e as marcas que fiz questão de deixar nelas ontem. Ela não percebeu, pendurou suas roupas no braço e seguiu despreocupada até o banheiro. Um suspiro apaixonado me escapou, é involuntário, vivo suspirando pelos cantos depois que ela entrou na minha vida.

Meus pensamentos foram interrompidos por batidas na porta, dei uma olhada pelo olho mágico antes de abrir, porque tenho certeza que não vai ser legal se algum de nossos amigos me visse aqui e só de cueca. Para minha sorte, era o rapaz do serviço de quarto, abri a porta pra que ele entrasse e deixasse o carrinho com nosso café da manhã.

Ellie saiu do banheiro já vestida e com o rosto sem nenhum resquício de maquiagem, eu amo essa mulher de qualquer jeito, mas, preciso confessar que sua naturalidade é o que mais me atrai. Ela é bonita e ponto, nada além disso.

- Estamos atrasados? - Perguntou enquanto passava perfume e desodorante.

- Ainda não. - Respondi, ainda a observando. - Temos tempo pra tomar café da manhã.

- Ótimo. - Ela finalmente veio sentar ao meu lado. - Estou faminta.

- É mesmo? - Brinquei e ela me olhou com um sorrisinho envergonhado no rosto.

- Para. - Pediu e eu me contentei em ver suas bochechas ruborizadas. - Como conseguiu sair de fininho ontem a noite?

- Pedi pra Jude cuidar da Isabel. - Dei de ombros. - Ela já estava com raiva, então não foi difícil convencê-la a voltar pra cá.

- Eu não pensei direito ontem. - Fiquei em silêncio, esperando que ela continuasse. - Te beijei na frente dela, isso pode gerar problemas.

- Não vai. - Garanti. - Ela ainda não ficou maluca.

- Eu tinha ido te procurar e ouvi você dizendo tudo aquilo pra ela.. - Ellie encarava sua xícara de café. - Eu só achei que devia mostrar que é recíproco.

- Eu fico muito feliz em ouvir isso novamente. - Ela sorriu. - Essa história toda com Isabel vai acabar assim que voltarmos, eu te prometo.

- Tudo bem. - Assentiu. - Eu já aprendi a lidar com ela.

Comemos com calma enquanto conversávamos sobre os planos para o fim de semana no camping com Grealish e Beca. Ela me contou que a prima foi convidada por ele, mas não conseguiu trocar o plantão no hospital e por isso não pôde vir. Voltei ao meu quarto apenas pelo tempo suficiente pra pegar minhas coisas e vestir uma roupa limpa, voltei ao quarto dela pra lhe buscar e assim irmos juntos ao aeroporto.

- Gosto do seu perfume. - Comentei quando uma brisa gerada pelo movimento do táxi me trouxe o cheiro dela.

- Existe algo em mim que você não gosta? - Ela não foi convencida quando me fez a pergunta, parecia falar sério.

- Ainda não descobri. - Pensei mais um pouco. - Quando criarmos mais intimidade eu te conto.

- Fechado. - Ela sorriu.

- Como gostaria de ser pedida em namoro? - Joguei no ar, porque já estava pensando em como faria isso e queria tentar descobrir algo.

- Não sei. - Deu de ombros e voltou a olhar pela janela. - Nunca fui pedida em namoro.

- Mas você namorou por cinco anos. - Retruquei.

- Luck não me pediu em namoro. - Explicou. - Nós só fomos acontecendo e ficou por isso mesmo.

- Que babaca. - Murmurei e não tenho certeza se ela ouviu.

- Em todo caso, não tive os mesmos sonhos que a maioria das mulheres. - Divagou. - Nunca sonhei com um pedido de namoro ou viajar pra Disney.

- E porquê não? - Ela tirou a atenção do trânsito agitado das ruas de Paris e me encarou, não parecia incomodada ou chateada.

- Não fui criada com fantasias. - Respondeu simples. - Meus pais sempre me disseram que o papai noel não existia e que as princesas eram só desenhos.

- E o que você acha da criação que recebeu agora que já é adulta? - Um sorrisinho singelo apareceu em seu rosto.

- Acho que quero criar meus filhos com esse tipo de magia. - Respondeu. - Sabe, a vida nos pega, mais cedo ou mais tarde, então vou querer que meus filhos acreditem em contos de fada por um tempo.

- Eu tinha medo do coelho da Páscoa quando era criança. - Comentei. - Sempre gostei muito de cenouras e achava que ele iria roubar as da geladeira.

- Sua preocupação eram as cenouras? - Ela soltou uma risada gostosa.

- É estranho, eu sei. - Admiti. - Sempre fui o estranho, em casa, na escola e na grande maioria dos lugares que frequentei.

- Gosto da sua estranheza. - Foi a minha vez de sorrir. - Faz você ser cada vez mais único.

- Obrigado. - Segurei sua mão e entrelacei nossos dedos. - Gosto de tudo em você.

- Conversamos sobre isso quando você conhecer meu lado obscuro. - Ela sussurrou, se aproximando o bastante pra que eu conseguisse lhe roubar um selinho.

- Eu não vejo a hora de termos desenvolvido intimidade o suficiente pra conhecermos os defeitos um do outro. - Apertei sua mão com mais força. - Não vejo a hora de viver a minha vida inteira com você.

- Gosto desse plano. - Ela voltou a observar a rua. - Viver a minha vida inteira com você.

Yuànfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora