Os olhos dele me submergiram

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Alguns móveis já estavam montados quando Haaland e eu voltamos do mercado, Beca realmente sabia como organizar tudo. A cozinha já estava praticamente toda mobiliada, faltando apenas o fogão que, segundo ela, já estava a caminho.

- Sua cama já chegou também. - Ela disse. - Cabem cinco de você nela.

- Do jeito que eu queria! - Me animei, pois gosto de dormir toda esparramada.

- Exagerada. - Beca sussurrou e Jack riu. - Eu pedi almoço pra nós, já deve estar chegando.

- Vou dar uma olhada na minha cama. - Cantarolei quase surtando e todos riram.

Saltitei até meu quarto e tive vontade de gritar quando vi minha cama enorme. Beca já havia posto um lençol e fronhas nos travesseiros, era tão grande que tomava conta de boa parte do lado direito do quarto e era exatamente isso que eu queria.

- Minha cama! - Gritei comigo mesma e me joguei nela, sentindo o colchão macio me abraçar. - Parece uma nuvem.

- Doutora? - Ouvi a voz dele.

- No céu. - Respondi sem abrir os olhos e sem me mexer.

- No céu? - O ouvi sussurrar consigo mesmo. Depois ouvi seus passos no carpete e senti sua presença no quarto. - Ah, você gostou da cama, então. - Pareceu entender o que eu disse.

- Demais. - Respondi com a voz preguiçosa e senti o colchão afundar consideravelmente ao meu lado, me fazendo embolar.

Meu corpo bateu levemente contra o dele, quando tentei me afastar, fui segurada.

- Se queria outro abraço, era só ter pedido. - Sua voz saiu perto demais e me fez olhar pra cima.

- Você é pesado. - Brinquei. - Usou do seu peso pra me trazer pra perto.

- Você pode ter razão. - Ele soltou uma risada rouca e eu senti seu peito vibrar. - Sua cama é realmente muito confortável.

- É sim. - Na energia do momento, passei meu braço por seu tronco e o abracei.

Erling não ofereceu nenhuma resistência, seu braço me puxou pra perto com um pouco mais de força, aumentando o contato entre nós. Não foi nada obsceno ou quente, eu me senti confortável e até mesmo sonolenta. Ficamos assim por um tempo, minha respiração se compassou com a dele e tudo que se ouvia era isso.

- Porquê um coração amarelo? - Perguntou do nada, me tirando do meu estado de sonolência.

- Que coração amarelo? - Perguntei de volta, ainda sem me mexer.

- Você postou uma foto do buquê que te mandei e um coração amarelo no centro da imagem. - Explicou.

- Queria que eu tivesse te marcado? - Provoquei.

- Não é isso. - Seu coração acelerou. - Eu só fiquei intrigado, você é toda misteriosa.

- Pus um coração amarelo porquê te chamo de loirinho. - Respondi e seu coração acelerou ainda mais e ele começou a rir. - Porquê está rindo?

- Porquê agora me parece tão óbvio. - Contou. - Eu fiquei pensando nisso até agora.

- Deveria ter me perguntado na hora que viu a foto.

- Eu fiquei com vergonha. - Admitiu.

- E porque perguntou agora? - Levantei meu tronco e apoiei o cotovelo na cama, observando seu rosto.

- Não sei. - Ele exitou um pouco ao responder. - Só queria saber.

- Eu guardei uma das flores. - Ele piscou algumas vezes e esperou que eu falasse mais. - Está em um potinho hermético em alguma dessas caixas.

- Sério? - Assenti. - Porquê?

- Foi importante. - Vi um sorrisinho aparecer em seu rosto. - Não importa o que aconteça, sempre vou me lembrar de um momento feliz quando olhar a flor que guardei.

- Só vão acontecer coisas boas entre a gente, doutora. - Ele também ergueu o tronco, se apoiando nos cotovelos, deixando o rosto bem próximo do meu.

- Eu espero que sim. - Respondi, mas mal percebi minha boca se mexendo, os olhos dele me submergiram.

- É. - Ele respondeu, baixo demais.

Estávamos tão próximos que parecíamos ter a mesma respiração, meu coração se acelerou em antecipação por algo que eu nem sabia o que era, mas ele parecia igual a mim. O olhar de Haaland pairou entre os meus olhos e minha boca, inconscientemente entreabri os lábios e prendi a respiração. Senti seu nariz encostar no meu e não entendi como nossos olhares ainda poderiam estar conectados, mas, eu continuava imersa em seus lindos olhos claros.

- Ellie, o almoço chegou! - Beca gritou da sala, nos assustando. Bati minha testa contra a dele, ambos nos afastamos rapidamente e começamos a rir.

- Vamos comer. - Me levantei e esperei que ele fizesse o mesmo.

- Vamos. - Ele suspirou quando passou do meu lado. - Vou te trazer uma luminária legal pra colocar na sua mesa de cabeceira.

- Mas eu ainda não tenho uma mesa de cabeceira. - Retruquei.

- Quer que eu te compre uma? - Perguntou quando chegamos na sala.

- Claro que não. - Resmunguei e ele riu. - Eu vou acabar comprando uma pra colocar a luminária que você vai me dar.

- Ótimo.

- O que está ótimo? - Beca perguntou.

- Haaland vai me dar uma luminária.- Informei.

- Olha só. - Ela sorriu. - Está tentando comprar minha prima, grandão?

- Eu faço o que eu posso. - Ele deu de ombros.

- Eu pedi comidinhas bem fitness porquê temos dois atletas aqui. - Beca mudou de assunto ao olhar pra minha cara de idiota. - Comam pouco pra guardar espaço pra o jantar.

- Fiquei sabendo que vai rolar um risoto. - Jack me olhou. - Me disseram que era sua especialidade.

- É só uma coisa que eu sei fazer muito bem. - Dei uma baixada na expectativa. - Não fica muito ansioso não.

- Já era. - Ele riu. - Já me venderam teu peixe.

- Rebeca! - Briguei com ela, que não se importou.

- Minha única preocupação no momento é o fogão chegar. - Deu de ombros. - Nem ligo pra você.

- Você é uma chata. - Fui até a geladeira e peguei uma garrafa de suco de morango.

- Grata. - Ela me mandou um beijinho sobre o ombro. - Pega os copos, fazendo o favor.

- Deixa que eu pego. - Erling foi até o armário antes de mim e pegou alguns copos. - A relação de vocês é linda. - Brincou.

- Sim, é sim. - Beca concordou. - Ela me ama, mas nunca vai assumir isso em voz alta.

- Nunca mesmo. - Resmunguei e ele se sentou ao meu lado novamente no balcão da cozinha, pois a mesa ainda não havia chegado e a sala de jantar estava cheia de caixas. Só tínhamos os bancos altos do balcão.

Comemos peixe grelhado, verduras salteadas e arroz, acompanhados do suco de morango que eu havia trazido do mercado. Conversamos sobre várias coisas aleatórias e interrompemos a refeição duas vezes pra receber entregas de móveis. Os rapazes logo dispensaram os montadores, alegando que conseguiam montar duas estantes sem muita dificuldade. Erling parecia a vontade, assim como Jack, mas, este sempre foi extrovertido, o loiro já era mais recatado. Após o almoço, os outros móveis que faltavam chegaram e enquanto os rapazes montavam as estantes na sala, os montadores das lojas fizeram seu trabalho, as cinco da tarde tudo estava montado e em seu devido lugar, apenas as caixas com nossas coisas ainda estavam bagunçadas. Descobri que ter dinheiro facilita demais as coisas.

Yuànfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora