Vai ser um bom recomeço

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Beca ainda não havia voltado do trabalho quando cheguei em casa, então, pra não ter outra crise de choro, troquei de roupa pra começar a preparar o jantar e ocupar minha mente. Quando tirei a calça, o cartão que Florentino Pérez  me entregou caiu do bolso onde eu o havia colocado quando não tinha intenção alguma de aceitar a proposta de emprego. O peguei do chão e encarei os números gravados em baixo do escudo do Real Madrid, talvez eu realmente devesse escutar o que Haaland disse e aceitar a proposta. Seria mais fácil estar em outro país, trabalhando em outro time, com outras pessoas e sem ter que ver ele praticamente todos os dias.

Sem pensar muito, peguei o telefone e disquei o número, passavam das seis da noite e provavelmente não haveria ninguém no escritório, mas, quando uma voz feminina me atendeu, percebi que havia pensado errado.

- Escritório de Florentino Pérez, em que posso ajudar? - Ela soou imparcial e cansada.

- Olá, boa noite. - Minha voz tremeu. - Me chamo Eliza Osborn, estou ligando sobre uma proposta de cargo que recebi.

- Eliza Osborn. - Seu tom foi mais alegre. - Ele me disse pra aguardar sua ligação.

- É mesmo? - Um sorrisinho nervoso me escapou. 

- Ligou pra nos dizer que aceita fazer parte da nossa equipe? - Eu parei por alguns segundos, meus divertidamente correndo como loucos dentro da minha cabeça.

- Na verdade, sim. - A voz soou baixa. - Pensei melhor na proposta que ele me fez e decidi aceitar.

- Isso é ótimo! - A mulher não parecia mais cansada.  - Ele mesmo vai te ligar amanhã, pra ajustar os detalhes.

- Certo. - Assenti mesmo que ela não pudesse ver. - Obrigada.

- Eu que agradeço. - Ela me desejou uma boa noite e desligou.

O cartão pesou na minha mão, mas, antes que eu desistisse, prendi o cabelo e fui preparar o jantar. Minha cabeça até ficou ocupada até Beca chegar em casa, ela me olhou com seu olhar de identificar loucos e eu já saí abrindo o bico.

- Liguei pra o Real Madrid e aceitei a proposta. - Disse de uma vez só e ela continuou parada me olhando.

- Eu ia mesmo te dizer pra fazer isso. - Um sorriso genuíno apareceu no rosto da minha prima. - Não que eu queira um lugar pra ficar de graça quando for visitar Madrid, jamais.

- Sério? - Me espantei com a reação.

- O que você esperava? - Ela deu de ombros e largou a bolsa em cima da mesa. - Eu já disse que vou te apoiar em tudo que quiser fazer, desde que seja pra o seu bem.

- Talvez eu tenha ligado meio por impulso. - Mordi o lábio.

- Você estava diante de duas boas escolhas. - Ela me abraçou. - Vai dar tudo certo.

- Ele vai me ligar amanhã. - Voltei a preparar o jantar. - Pra acertar os detalhes. 

- Precisa avisar lá no City. - Ela lavou as mãos e começou a me ajudar. - Vou pesquisar apartamentos pra você em Madrid.

- Obrigada. - Quase pulei de alegria. - Você sempre cuida de mim.

- Não quero que você acabe morando em uma espelunca com o síndico barrigudo te assediando. - Eu ri, porque ela foi especifica demais. - Vai ser um bom recomeço. - Ela pareceu ler meus pensamentos. - Sei que é isso que você está procurando.

- Sabe que em outras circunstâncias eu não aceitaria essa proposta. - Ela assentiu.

- Quem sabe esse seja o caminho certo no momento. - Ela começou a cortar tomates para a salada. - O fim da sua história com o Erling não tá fazendo muito sentido.

- Se você não está entendendo, imagine eu. - Suspirei e ponderei se contava pra ela sobre o encontro que tive com ele mais cedo.

- Talvez só não seja o momento pra vocês dois agora. - Ela parecia concentrada no tomate e não percebeu minha cara de idiota. - Quem sabe no futuro?

- No momento, meu futuro inclui apenas Madrid. - Suspirei e mexi o macarrão.

- Madrid é bom. - Ela sorriu. - Eu vou te visitar todo feriado e férias. - Garantiu. - E vou levar a Jena também.

- Eu vou sentir falta de vocês. - Meus ombros caíram. - De tudo aqui.

- Nós conseguimos muita coisa aqui. - Ela pontuou. - E está na hora de você conseguir mais.

- Deve ser. - Concordei e nós voltamos a preparar o jantar.

Depois de conversar melhor com Beca sobre minha mudança, me senti melhor e um pouco mais decidida. Ela passou o resto da noite me mostrando pontos turísticos da Espanha, especialmente em Madrid, falou das praias, da comida e de tudo que parecia ser muito melhor do que em Manchester.

Quando fui me deitar naquela noite, me sentia mais leve e até um pouco feliz. O que Beca disse sobre talvez não ser o momento certo para Haaland e eu me deu uma pontada de esperança sobre algo que eu não sabia o que era, mas me confortou. Talvez eu precisasse desse sentimento pra conseguir transicionar pra essa nova fase, talvez Haaland e eu não voltássemos a namorar, talvez não houvesse outra chance pra nós dois, mas eu iria me agarrar a essa esperança até me sentir pronta pra largar dela.

Pesquisei sobre o Real Madrid, como fiz com o Manchester City antes de ir trabalhar lá, segui pessoas importantes, assisti alguns jogos antes de dormir e comecei a fazer meu trabalho antes mesmo de viajar. Não queria pensar no quanto sentiria falta do pessoal do City, não queria pensar no frio na barriga por precisar começar tudo de novo, não queria que nada me colocasse mais medo do que eu já estava sentindo. Eu havia tomado uma decisão e não costumo voltar atrás em absolutamente nada do que decido fazer, sabia que era um ponto do qual não daria mais pra voltar.

Quando adormeci naquela noite, sabia que as coisas mudariam na minha vida de uma maneira que eu definitivamente não esperava, mas estava tentando me manter preparada e aberta pra isso. Toda mudança em nossa vida deve ser bem vinda, é difícil quando ela chega de uma maneira tão abrupta e ruim, mas, ainda assim, se não conseguirmos olhar o lado positivo da coisa, enlouquecemos antes dos trinta. Seja o que for que a vida tem preparado pra mim, não vai me enlouquecer tão cedo.

Yuànfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora