Não são tão bonitas quanto você

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Quando chegamos no final do gramado, Haaland simplesmente se agachou, como fez na noite da balada e me ajudou a colocar os saltos de volta nos meus pés. Ele não avisava sobre fazer isso, muito menos pedia minha permissão quando segurava meu tornozelo, mas, dessa vez eu precisei me apoiar em seus ombros, porque meus scarpins eram altos demais e me falta a equilíbrio.

- Porquê está usando saltos tão altos? - Ele perguntou, abismado com os quinze centímetros a mais que ganhei. - Fica quase do meu tamanho com eles. - De repente ele pareceu perto demais. Estava de pé bem na minha frente, ainda precisava olhar pra baixo, mas curvava menos o pescoço.

- Eu tenho que parecer uma pessoa elegante as vezes. - Respondi, um pouco nervosa com a proximidade.

- Você parecia elegante enquanto andava descalça pelo gramado. - Retrucou, sem deixar de me encarar. - E mais a vontade também.

- Vou passar a vir de tênis quando começar a trabalhar. - Justifiquei e ele sorriu.

- Vai precisar usar camisas do City. - Informou. - Tem o uniforme da equipe médica, mas você também pode usar a camisa normal. - Voltamos a caminhar em direção à recepção.

- Não posso usar minhas camisas do Bayern, não é? - Provoquei e ele pôs a mão no peito como se tivesse tomado um tiro.

- Poxa, doutora. - Suspirou exageradamente. - Nem pra ser do Borussia.

- Me desculpe, eu me recuso a perder sempre. - Provoquei novamente.

- Assim você machuca o meu coração.

- Se isso te deixa feliz, você fica muito mais bonito com o azul do City. - Confessei e vi suas bochechas assumirem um tom rosado, que logo se dissipou.

- Eu também sou mais feliz aqui. - Ele passou a língua entre os lábios.

Caminhamos  em silêncio pelo trecho que faltava pra chegar na recepção. Ao contrário do que pensei, Beca não estava soltando fumaça pelos ouvidos, muito pelo contrário, estava conversando alegremente e folheando algumas revistas.

- Ellie! - Ela sorriu quando me viu. - E aí, tudo certo?

- Tudo sim. - Assenti, ainda pasma por ela não estar fula da vida.

- Oi grandão. - Ela cumprimentou Haaland, sem lhe dar muita atenção.

- Oi Rebeca. - Ele sorriu simples e se manteve parado ao meu lado. - Oi Jena.

- Oii. - Jena respondeu, sempre animada. - Já posso providenciar seus uniformes com o brasão do time, Ellie? - Perguntou, já se dirigindo ao computador.

- Sim, por favor. - Fui até ela olhar o que estava fazendo. - Eu uso tamanho M.

- Tudo bem. - Ela digitou algumas coisas.

- Encomenda algumas de torcedor, com meu nome e número. - A voz de Haaland soou bem atrás de mim. - E coloca na minha conta. - Ele estava inclinado, olhando o que Jena fazia por cima do meu ombro, seu rosto estava perto demais e sua voz grave me causou arrepios.

- Certo. - Jena disse, depois de nos encarar por um tempo.

- Não precisa. - Tentei rebater, mas ele logo me impediu.

- Deixa de ser chata, doutora. - Estalou a língua e sorriu. - É só pra você não aparecer aqui com uma camisa do Bayern.

- Ah, então ela já contou que é torcedora bávara. - Beca riu. - Sabia que ia dar com a língua nos dentes.

- Eu não estava escondendo. - Dei de ombros. - Haaland que se magoa com facilidade.

- Eu me magoei agora. - Ele disse baixinho, para que somente eu pudesse ouvir, o que era fácil, pois ainda estava empoleirado em meu ombro. - Não me chamou de loirinho.

- Galera! - Grealish retornou com garrafas de água nas mãos. - Sua água, Ellie. - Ele sorriu e me entregou.

- Obrigada! - Aproveitei o momento pra me afastar de Haaland.

- Beca, não é? - Grealish quase me ignorou e foi falar com minha prima.

- Então você se lembra de mim. - Ela lançou um sorrisinho que eu conhecia muito bem.

- Como não lembraria? - Ele segurou a mão dela e deu um beijo. Encarei Haaland, buscando alguma informação que eu tivesse deixado passar, mas ele parecia tão abismado quanto eu.

- Suas camisetas estarão aqui no seu primeiro dia, Ellie. - Jena informou. - Estou tão animada pra trabalhar com você. - Ela bateu palminhas.

- Eu também! - Sorri de volta pra ela.

- Eu também. - Haaland se intrometeu.

- Então, vamos? - Beca interrompeu antes que ele pudesse dizer algo a mais. - Ainda precisamos dar uma olhada naqueles apartamentos.

- É claro. - Gaguejei um pouco pra responder. - Eu demorei demais. - Comentei, sabendo que Haaland iria se tocar que demorei demais porque estava conversando com ele.

- Nos vemos em breve, então. - Jena saiu da sua mesa e veio me abraçar. - Seja bem vinda, Ellie.

- Nos vemos quando eu quebrar a perna. - Grealish me abraçou também.

- Tchau, doutora. - Haaland empurrou o amigo para o lado. - Nos vemos na sua mudança. - Ele me puxou pela cintura e me abraçou.

- Tchau loirinho. - Joguei meus braços ao redor do pescoço dele. - E obrigada novamente pelas flores, são lindas.

- Não são tão bonitas quanto você. - Disse antes de me soltar.

- Vamos? - Beca me chamou mais uma vez.

Nos despedimos de todos novamente e seguimos para esperar o carrinho que nos levaria ao estacionamento. Descobri que quando recebesse meu crachá, teria acesso livre e poderia estacionar no estacionamento interno, o que é ótimo porquê não vou ter que esperar um carrinho vir me buscar todos os dias. Beca não disse nada até sairmos do CT, mas eu percebi seus olhares furtivos, no entanto, não disse nada.

- Temos três apartamentos pra visitar. - Disse assim que saímos na avenida. - Embora eu já tenha gostado muito de um deles.

- Então vamos visitar ele primeiro. - Sugeri. - Você tem bom gosto pra essas coisas.

- Tudo bem. - Assentiu. - O que tá rolando entre você e o Haaland? - Perguntou sem fazer rodeios.

- Eu não sei. - Fui sincera. - Ele me deixa nervosa, sem graça e mais nervosa de novo.

- Ele parece determinado a alguma coisa. - Ela parecia em dúvida sobre qual palavra usar. - Mas não faz questão de esconder que pretende algo.

- Ele me trata tão bem que chega a ser estranho.

- É apenas sua falta de costume. - Ponderou.

- Grealish e ele vão nos ajudar na mudança. - Informei. - Ele se ofereceu pra me acompanhar na visita aos apartamentos.

- Estraguei os planos do gato. - Beca riu. - Mas eu tenho certeza que ele vai arranjar outras maneiras de ficar sozinho com você.

- Eu não sei se vou permitir que, seja lá o que isso for, vá pra frente. - Ela me olhou brevemente e voltou sua atenção ao trânsito, esperando eu continuar. - É o primeiro trabalho importante que consigo, não posso deixar nada atrapalhar isso.

- E dar uns beijinhos no seu "loirinho" vai estragar algo? - Ela me lançou um sorriso malicioso e eu revirei os olhos. - Qual é, Ellie! - Bufou. - Você está solteira pela primeira vez em muito tempo, caramba, dá uma chance.

- Eu não sei. - Repeti. - Vou esperar pra ver como as coisas irão se desenrolar, mas, realmente não sei.

- Tudo bem. - Ela deu de ombros. - Aceito sua premissa, agora vamos ver nossa nova casa.

Yuànfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora