Não tem como me vencer mesmo

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Toda as pessoas que faziam parte da delegação do Manchester City foram agendadas para o mesmo voo. Os acompanhantes seguiam em outro avião, não sei porque, mas aceitei de muito bom grado, porque isso significava que Isabel iria bem longe de mim. E, mesmo que eu tenha sido acompanhante de um dos jogadores, ainda fazia parte da equipe do time, então acabei embarcando junto com eles. Bernardo não embarcou no mesmo avião, porque, obviamente, não iria deixar a esposa grávida voar sozinha. No voo de ida, não sentei perto de ninguém em específico, fiquei imersa em um livro que levei e mal percebi quando chegamos. No entanto, agora Haaland simplesmente jogou minha bolsa no assento ao lado dele.

Observei os assentos ao nosso redor, Grealish estava sentado ao lado de Julián nas poltronas atrás de nós e Foden dormia com um tapa olhos, parecia estar com uma ressaca terrível. Tomei meu lugar ao lado do loiro, que conversava animadamente com os dois que estavam acordados.

- Então Haaland, dando trabalho à nossa doutora mesmo em dia de festa. - Julián riu. - Bebeu demais?

- Bebi. - Ele assentiu, alegremente. - Você sabe, o lance com Isabel me enche a paciência.

- Entendo. - Alvaréz concordou, mesmo que não tivesse a mínima noção do que se passava. - E o que aconteceu com ela?

- Jude a deixou no hotel antes de ir para o dele. - A resposta na ponta da língua.

- Eu não tenho folga nem quando venho de convidada. - Resmunguei e senti a mão do loiro apertar minha coxa. - Mas, me diverti mais do que esperava.

- Pois é, eu também. - Julián concordou.

- Calem a boca, por favor. - Foden resmungou e se virou, reclinando a poltrona e voltando a dormir.

- Ele bebeu todas ontem. - Grealish explicou. - Precisamos bater um papo com ele depois. - Cochichou pra Haaland, que apenas assentiu.

Os comissários de bordo interromperam nossa conversa para seguir o protocolo de decolagem. Me ajeitei na minha poltrona e afivelei meu cinto, esperando as conversas se acalmarem pra poder interrogar Haaland sobre o que estava acontecendo com Phil.

- Então. - O avião decolou e eu finalmente pude desafivelar o cinto novamente. - Aproveita essas horas de voo pra me contar o que acontece com o Foden.

- Estava esperando que fosse perguntar. - Ele soltou uma risadinha.

- Desembucha meu amor. - Brinquei e ele riu.

- Não me chame assim quando não posso te beijar. - Pediu.

- Não muda de assunto. - Me ajeitei na poltrona e esperei que ele começasse a falar.

- Como eu comentei antes, Phil fez besteira na copa. - Explicou. - Ele já era casado e com um filho, colocou duas mulheres pra dentro do hotel onde a seleção estava hospedada.

- Mas que idiota. - Resmunguei, chateada em saber que uma pessoa que eu gosto era um babaca.

- Não tenho como defender ele. - Haaland deu de ombros. - Ele errou feio.

- E como as coisas ficaram entre ele a esposa? - Haaland pensou por um tempinho.

- Só sei o que ele contou. - Eu assenti. - Disse que a esposa o perdoou, mas que as coisas mudaram entre os dois.

- Bem, não tem como quebrar a confiança de alguém e querer encontrar a mesma pessoa depois de tudo. - Comentei e ele concordou.

- Eles estão juntos, mas ela se afastou. - Ele continuou. - Tiveram outro filho e ele achou que as coisas voltariam a ser como antes, mas não rolou.

- Por isso ela não aparece em nenhum evento. - Conclui e ele assentiu.

- Ele fica chateado e tenta não transparecer. - Ele suspirou.

- Ele se arrependeu de verdade?

- Ele diz que sim.

- O que você acha? - Reformulei a pergunta.

- Eu nunca o vi fazendo nada de errado. - Ponderou. - Nem antes e nem depois de tudo, não sei o que pensar.

- Bem, se ele se arrependeu de verdade e ela quer continuar com o relacionamento, eles precisam entender a nova dinâmica entre os dois. - Pensei alto. - Sabe, reconhecer que as coisas mudaram ao invés de tentar consertar algo.

- Grealish e eu provavelmente vamos conversar com ele em algum momento. - Ele segurou minha mão. - Vou tentar me lembrar do que você acabou de dizer, talvez ajude.

- É complicado. - Foi a única coisa que consegui dizer.

- Você não é muito ligada nas mídias sociais, não é? - Eu neguei.

- Porque a pergunta?

- É que essa história do Phil saiu em todo lugar. - Eu me assustei, porque realmente não sabia. - Foi um escândalo, porquê além de trair a esposa, ele foi contra as normas de segurança da pandemia.

- Nossa, eu sou muito atrasada mesmo. - Resmunguei e ele riu.

- É bom que seja assim. - De repente ele pareceu pensativo. - Significa que sua vida é tranquila e que você não precisa ficar de olho em páginas de fofoca pra saber de uma nova mentira que inventaram.

- Deve ser ruim. - Tentei ser empática. - Sinto muito.

- Eu também. - Ele me deu um sorrisinho sem graça. - Mas as coisas melhoram com o tempo.

- Nada na vida dura pra sempre. - Segurei sua mão. - Nem para o bem e nem para o mau.

- Você é muito inteligente, doutora. - Ele riu. - Acho que é a coisa que mais me atrai em você.

- Me sinto lisonjeada. - Também ri. - Gosto que elogiem meu cérebro, demorei demais pra moldar ele.

Nós mudamos de assunto e conversamos sobre coisas mais leves durante todo o voo. Eu fiz de tudo pra não pegar no sono no ombro dele, mas no final não consegui, apaguei em algum momento. Acordei quando estávamos pousando, meus ouvidos sempre doem e não param de doer até finalmente estar no chão.

- Quer que eu te leve em casa? - Haaland perguntou quando saímos do aeroporto. - Deixei meu carro no estacionamento daqui.

- Quero sim. - Aceitei, sem pestanejar.

- Então vamos. - Ele sorriu, animado por eu não ter negado mais uma vez e pegou minha mala. - Achei que Alvaréz iria se intrometer.

- Ele foi bem legal a noite toda. - Respondi. - Não tentou nada e foi muito solícito.

- Muito solícito. - Ele debochou. - Aquele mala sem alça.

- Para com isso. - Eu ri. - Você fica muito fofo quando está com ciúmes.

- Você é chata, viu? - Ele abriu a mala do carro e colocou nossas malas dentro.

- Descobriu algo que não gosta em mim, então? - Brinquei.

- Você sempre foi chata. - Ele riu e abriu a porta do carro pra mim. - Eu gosto até disso em você.

- Não tem como te vencer. - Resmunguei antes dele fechar a porta.

- Eu consegui te dobrar, amor. - Respondeu quando entrou no carro. - Não tem como me vencer mesmo.

Yuànfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora