É um assunto complicado

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Já estava conversando com Ethan há um tempo, entre piadas sem graça, fofocas sobre como as coisas funcionam por aqui e um convite pra almoçar com ele no refeitório, ele me passou as informações necessárias pra alinhar meu trabalho com o dele. Ouvimos batidas na porta e ele rapidamente levantou pra abrir, dando de cara com Haaland. O loiro tinha um sorriso no rosto, que foi murchando a medida em que ele se deu conta de que a imagem atrás da porta não era a minha. Ethan não percebeu a mudança de atitude, apenas abriu um sorriso simpático.

- Haaland. - O cumprimentou. - Imagino que tenha vindo conhecer a nossa nova doutora.

- Ethan! - Sua voz não saiu tão empolgada quanto ele queria. - Vejo que você já veio se apresentar.

- Pois é. - Erthan sorriu. - Mas, já estou indo, preciso trabalhar. - Ele abriu mais a porta, dando espaço pra Haaland passar. - Nos vemos no almoço, Ellie.

- Até mais. - Acenei simpática e esperei ele fechar a porta antes de mudar minha expressão.

Meu estômago estava gelado e eu sentia a adrenalina se espalhando por meu corpo, queria voar no pescoço de Haaland e bater sua cabeça na parede até me cansar, mas, mantive minha expressão impassível e me sentei atrás da minha mesa.

- Você ficou bonita com essa camisa. - Ele disse, seu sorriso voltando aos poucos. - Vai ficar ainda mais quando as que eu pedi chegarem.

- Não posso ter preferências. - Me referi às camisas com o nome dele nas costas.

Ele franziu o cenho, estranhando meu tom de voz e minha atitude. Se ele soubesse que eu poderia estar quebrando seu pescoço agora, estaria agradecendo.

- Está tudo bem? - Ele veio até minha mesa e sentou onde Sebastian estava sentado antes.

O encarei por alguns segundos, tentando entender como uma pessoa conseguia ser tão tonta. Pensei se valia a pena perder o meu réu primário.

- Quando pretendia me contar que tem uma namorada? - Falei de uma vez e vi o loiro sentado na minha frente ficar ainda mais branco.

Haaland praticamente murchou na cadeira, vi seu peito subir e descer rapidamente enquanto eu lutava pra manter minha expressão calma.

- Ellie... - Quase consegui ver sua mente lutando pra encontrar uma explicação plausível. - É um assunto complicado, mas eu juro que não é bem o que parece.

- Sabe o que parece? - Meu tom de voz calmo parecia lhe assustar. - Parece que eu beijei um cara comprometido. - Minha boca amargou ao dizer isso. - E isso não é nada legal.

- Não é bem assim. - Ele passou a mão nos cabelos e se levantou. - Eu não tenho tempo pra te explicar tudo agora, mas eu posso fazer isso...

- Não preciso que você me explique nada, Haaland. - O cortei e ele se calou, me encarando, chocado. - Só preciso que você me deixe em paz, porquê já estou me sentindo mal demais sozinha.

- Doutora.. - Ele pensou em se aproximar, mas parou. - Você não tem que se sentir mal, a situação é complicada, mas, não fizemos nada de errado.

- Não fizemos nada de errado? - Eu ri de tanta raiva. - Olha, eu não estou disposta a brigar com ninguém, muito menos de tornar meu trabalho aqui difícil. - Ele fez menção de falar algo, mas eu não lhe dei tempo. - Vamos fingir que nada aconteceu e seguir nossas vidas. - Ele suspirou profundamente. - Tenho muito em jogo e não vou permitir que ninguém me atrapalhe.

- Eu vou te explicar tudo depois. - Ele disse, sua voz saiu séria e grave. - E isso não está em discussão.

- Não me interessa. - Retruquei.

- Não perguntei. - Ele resmungou. - Agora eu não posso, mas não vou te deixar em paz até esclarecer as coisas.

- Vai treinar, Haaland. - Baixei meu olhar para as fichas dos jogadores em cima da minha mesa e o ignorei.

Ele não disse mais nada, mal ouvi seus passos quando se dirigiu pra fora da minha sala, só consegui respirar normalmente quando ouvi a porta bater. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu me recusei a chorar por algo tão idiota, por mais que meu peito gritasse que não se tratava de algo tão idiota assim. Respirei fundo inúmeras vezes e bebi três copos de água até sentir minhas mãos menos trêmulas e meu coração bater um pouco mais devagar, enrolei até a hora do almoço, quando Ethan bateu na porta novamente.

- Com fome? - Questionou, animado.

- Não muito. - Tentei esconder minha expressão cansada. - Ainda estou um pouco nervosa por ser meu primeiro dia.

- É compreensível. - Ele assentiu. - Acho que vai sentir mais fome quando ver a comida daqui. - Ele realmente parecia animado pra ir comer. - É ótima.

- Que bom! - Acabei rindo. - Estou precisando de alguma coisa que anime o meu dia.

- Aconteceu algo? - Ele franziu o cenho, me olhando preocupado.

- Não. - Balancei a cabeça. - Eu que sou nervosa demais.

O refeitório estava cheio, mas era organizado e ninguém fazia muito barulho além dos jogadores. Realmente, o cheiro da comida era ótimo e deixou meu estômago um pouco mais feliz. Fomos nos servir no buffet e logo procuramos uma mesa.

- A hora mais feliz do meu dia! - Ethan olhou animado para seu prato cheio. Era engraçado ver como ele ficava feliz com comida.

- Confesso que isso aqui tá muito cheiroso. - Remexi a comida no meu prato.

- Tenha certeza que vai estar delicioso também. - Ele balançou a cabeça positivamente várias vezes, o que me fez rir um pouco mais alto.

Olhei ao redor, vendo algumas pessoas me observando. Alguns jogadores prestavam atenção em nós, entre eles, Haaland e Grealish, que pareciam mais culpados do que políticos diante de tragédias públicas. O olhos do loiro alternavam entre Sebastian e eu, meu novo amigo parecia alheio a tudo enquanto saboreava sua refeição tão esperada. O almoço inteiro foi assim, não vi Jena em lugar algum do refeitório, a procurei por um tempo, pra comermos juntas, mas não a encontrei. Erling passou o almoço inteiro me observando, ele não fez a mínima questão de disfarçar.

Não comi quase nada, tentei me distrair com as piadas de tiozão que Ethan contava, o acompanhei assim que ele se levantou e não olhei pra trás, mas sabia que o olhar de Haaland me acompanhava. Passei o resto do dia ignorando toda e qualquer evidência da existência dele e saí correndo do trabalho assim que deu meu horário. Obviamente, não poderia fazer isso sempre, vou precisar conviver com todo o time muito mais proximamente, só preciso de um tempinho pra digerir o que aconteceu e conseguir tratar Erling com o mínimo de paciência e respeito. Me sentia mal por ter beijado ele, quis tanto aquele beijo e agora ele se tornou um pesadelo. A pior parte é que não consigo tirar da cabeça, seu toque, os arrepios que me causou, sua boca se encaixando na minha, tudo foi delicioso e eu me odeio por querer mais sempre que lembro.

Yuànfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora