Não é problema seu

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Não vi Haaland o dia todo, o que foi estranho porque ele sempre dava um jeito de ir me ver. O caminho até minha casa foi silencioso, Ethan não falou muita coisa e, pela primeira vez desde que o conheci, me senti desconfortável perto dele. Saí do carro o mais rápido que pude quando chegamos ao meu condomínio, tudo havia sido estranho durante o dia inteiro, eu precisava de uma dose de normalidade.

- Que cara é essa? - Beca me encarou.

- O dia hoje foi estranho. - Resmunguei. - Aconteceu muita coisa e nada ao mesmo tempo.

- Me conta aí. - Ela abriu a geladeira e pegou a garrafa de vinho. - Estou precisando me distrair.

- Plantão difícil hoje? - Ela assentiu e me empurrou uma taça.

- Por favor, me tire da minha realidade. - Ela encheu a taça dela e metade da minha.

- Bem, aparentemente, Alvaréz se declarou pra mim hoje. - Ela parou com a taça ainda nos lábios e soltou uma risadinha.

Contei a mesma história que disse pra Jena e adicionei seus comentários muito esclarecedores, com os quais Beca concordou sem titubear. Também falei sobre o quanto Ethan anda estranho ultimamente.

- Ele foi passivo-agressivo. - Pontuou. - Queria deixar claro que sabia o lugar dele no momento, mas que estava disposto a mudar isso ao menor sinal positivo.

- Porquê só eu não percebo isso? - Me senti uma tonta. - É como se meu cérebro não captasse as coisas.

- Você é inocente demais. - Ela deu de ombros. - Se soubesse do poder que tem nas mãos, teria o mundo aos seus pés.

- Não exagera. - Resmunguei. - Eu só não percebi.

- Você tem três homens te querendo. - Continuou. - Porque acha que o Ethan está estranho?

- Isso não faz sentido. - Me apressei em negar. - Nós conversamos, já faz tempo, não deve ser isso.

- Ele percebeu que o Haaland realmente já tomou o lugar. - Ela me ignorou. - Tudo ficou claro quando sofremos o acidente, se alguém ainda tinha alguma dúvida, foi sanada.

- E agora, o que eu faço? - Engoli meu vinho, sentindo meu coração acelerado.

- Absolutamente nada. - Ela riu. - Não é problema seu.

- Mas eu..

- Você nada. - Me cortou. - Não é problema seu, somos adultos, superamos.

- Não me sinto bem sabendo essas coisas. - Larguei minha taça vazia na mesa. - Queria que não tivessem me dito nada.

- Sinto muito, queridinha. - Ela encheu minha taça até a metade novamente. - A vida não é um conto de fadas, embora você pareça a protagonista de um.

- Porcaria. - Resmunguei e voltei a beber meu vinho.

- O que Haaland disse sobre tudo isso?

- Ainda não falei com ele. - Mais uma vez meus pensamentos voaram até o loiro que não havia dado sinal de vida. - Não o vi hoje.

- Estranho. - Eu concordei. - Bem, ele precisa ficar mais presente. - Brincou. - Alvaréz quer tomar o lugar dele.

- Deixa de graça. - Tentei rir, mas estava nervosa. - Eu vou tomar um banho.

- Vou pedir comida chinesa pra jantar. - Avisou. - Quem sabe os biscoitos da sorte nos revelem algo de útil.

- Estou precisando de sorte mesmo. - Resmunguei enquanto entrava no quarto.

Tentei não me preocupar com Haaland, mas não resisti em mandar uma mensagem, que não foi respondida. Achei estranho, mas decidi esperar pelo dia seguinte, talvez o visse no trabalho e isso não acontecesse, o procuraria na casa dele. Terminei meu banho e voltei pra sala, Beca estava vendo televisão, me sentei ao lado dela pra esperar nossa comida chegar.

- Vou comprar meu carro logo. - Decidi. - Não quero continuar indo com o Ethan.

- É uma decisão inteligente. - Me apoiou. - Seu pai vem pra o jogo?

- Esqueci de convidar. - Peguei meu celular imediatamente. - Vou mandar uma mensagem agora.

- Nada do grandão? - Perguntou, ainda entretida com a televisão.

- Ainda não. - Suspirei. - Estou tentando não me preocupar.

- Perguntei ao Grelish por ele. - Minha atenção foi toda pra ela. - Ele disse que Haaland estava desatento hoje.

- Espero que ele não esteja com problemas. - Fiquei um pouco mais preocupada. - Ele não se dá muito bem com o pai e está com problemas com Isabel.

- Espera ele falar com você. - Tentou me tranquilizar. - Vocês trabalham no mesmo lugar, não tem como ficar muito tempo sem se ver.

- Você tem razão. - Tentei me convencer.

- Relaxa. - O interfone tocou e ela se levantou pra atender. - Aquele homem não passa mais de vinte e quatro horas sem você.

Beca saiu pra buscar nossa comida enquanto eu respondia as mensagens animadas do meu pai, confirmando a vinda para o jogo e avisando que Dave viria também. Eu já não me sentia nervosa quando se tratava da minha família e Haaland no mesmo lugar, as coisas foram se ajeitando naturalmente e agora tudo parece se encaminhar do jeito certo.

- Vai cair o mundo hoje. - Beca voltou. - As nuvens estão escuras lá em cima.

- Como se Manchester já não estivesse fria o suficiente.

- Estou começando a me arrepender de ter aceitado ir nesse camping com o Jack. - Ela sentou no sofá novamente e me entregou minha parte do jantar.

- Agora não temos como voltar atrás. - Abri minha comida e o cheiro fez meu estômago roncar. - Temos que levar roupa de frio.

- Olha, vou te contar. - Ela pareceu rir de si mesma. - Não sei onde estava com a cabeça quando aceitei ele na minha vida.

- Para com isso. - Eu ri. - Você gosta dele, ele gosta de você também.

- Pois é. - Ela resmungou. - Acontece uma vez ou outra na vida de todo mundo.

O assunto foi morrendo aos poucos enquanto comíamos, nos entretemos com alguns episódios de Modern Family e depois fomos dormir. A chuva que Beca disse que chegaria caiu de madrugada, faz tanto barulho no vidro das janelas que me acordou. Levantei, sentindo os pés doerem no chão gelado, mas segui até a janela e abri as cortinas, observando a rua do condomínio vazia. Sempre gostei de observar a madrugada pela janela, fazia muito isso quando estava na faculdade, mas fui perdendo o costume a medida que chegava cada vez mais cansada em casa.

Não sei quanto tempo passei acordada, mas não dormi muito. Quando me dei conta, já estava me arrumando pra ir ao trabalho novamente, foi estranho estar com Ethan. De repente ele estava distante e até mesmo um pouco frio, conversamos pouco e ele não parecia estar feliz com a minha presença, comecei meu dia me sentindo muito mal por isso.

Yuànfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora