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"I'm missing half of me

When we're apart

Now you know me

For your eyes only"

(If I Could Fly)


OLIVIA

Todos estavam sentados no sofá diante de mim. Toda a minha família mais próxima.

Sentei na poltrona de frente para eles.

E respirei fundo algumas vezes antes de começar.

— Bem, acho que devo algumas explicações a vocês... e já tem um tempo. — Coloquei minhas mãos sob as coxas para evitar ficar mexendo meus dedos em nervosismo. — Sei que não tem sido legal nem justo, eu me fechar num casulo só meu e mantê-los de fora. Vocês são minha família e eu...eu amo cada um de vocês.

— Own... — Lucas começou, mas minha mãe lhe deu uma cotovelada.

— Vocês sabem pouca coisa da minha relação com Max desde que saí da cidade para ir para a faculdade. Quando Max foi atrás de mim, eu já estava nos últimos semestres do curso. Tinha conhecido muita gente nova, um estilo de vida diferente, e garanto que apesar de ser cruel e solitário algumas vezes, era o local que eu queria estar, o futuro que eu queria para mim. — Fiz uma pausa. — Max e eu ficamos separados a maior parte da minha graduação, mas eu sempre senti falta dele. Falta do que éramos, o que costumávamos ser. Contudo, em três, quatro anos as pessoas mudam e, quando reatamos, tenho quase certeza que as pessoas que amávamos ainda eram as mesmas da nossa adolescência e de alguma forma acharíamos que daria certo.

Todos me encaravam atentos, como se estivessem mesmo ouvindo cada palavra que eu falava.

Continuei:

— Max me pediu em noivado e logo de cara encontramos uma divergência. Ele esperava que eu me casasse e voltasse para cá. Que o ajudasse com o que ele precisava, mas esse nunca foi meu sonho. Não odeio estar aqui, embora realmente ache que a melhor coisa daqui são vocês. No entanto, meu plano nunca foi voltar definitivamente para cá. Eu fui a melhor da turma, consegui a garantia de um estágio em uma das maiores empresas do país antes mesmo do meu último semestre, porém eu também sabia que precisava ceder algo para Max. Ele estava indo e vindo todo fim de semana para não nos afastarmos de novo, só que voltar para cá era inegociável para mim. Então, eu meio que decidir que se Maximus me pedisse qualquer outra coisa eu daria. — Suspirei e abaixei a cabeça analisando a estampa da minha calça. — Ele me pediu então que tentássemos começar uma família. E eu aceitei. Porque eu precisava dar algo. Pelo menos, era o que eu pensava na época...Um ano depois de ser contratada na B&T, nós começamos a tentar.

Alguém puxou o ar surpreso e eu senti minha respiração falhar.

Eu não consigo. Eu não consigo. Não consigo fazer isso.

Minha voz estava fraca quando prossegui:

— Acontece que eu tive muita dificuldade de manter uma gravidez. Nas primeiras semanas, nos primeiros meses, eu já perdia. Foi... difícil. Mas continuamos, procuramos diversos tratamentos. O resultado era sempre o mesmo. Quando "batíamos um recorde" bastava alguns dias para enfrentarmos outra perda.

— Olivia...— Minha mãe sussurrou com um tom dolorido e eu não ousei levantar a cabeça. Eu precisava ser capaz de ir até o fim.

— A questão é que conforme tudo se repetia, eu ia me sentindo cada vez pior comigo mesma. Sentia que tinha algo errado, que era inadequada, quer dizer, somos cinco filhos, não é uma família exatamente pequena... Por que eu...? — As palavras morreram na minha língua e senti quando Liz veio sentar-se ao meu lado, apoiando a cabeça em meu ombro. Limpei a garganta. — Max acompanhou tudo, e tenho certeza que ele sentia por aquilo estar acontecendo, mas ele nunca entenderia o que eu estava passando. E continuava passando. Por ele. Eu me sentia culpada porque, no fundo, sabia que não queria um bebê. Eu tinha vinte anos, no meu primeiro emprego de verdade, com tantas possibilidades para mim... Sabia que no momento que a criança nascesse, ele acharia melhor ficarmos próximos da família, sabia que de uma forma ou de outra, eu largaria tudo pelo bebê. Para estar perto dele e da criança. Então minha mente dizia que eu não me esforçava o suficiente e para piorar, eu não aguentava nem mesmo estar perto de Max sem me sentir um completo fracasso.

Contrato de Casamento: Olivia e Sebastian em seu (in)felizes para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora