Cap.48 - Paróquia/ Festa popular (Parte III)

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Tá difícil esse homem se comportar. E ela também não baixa mais a cabeça para ele, como antes. Logo, temos o cenário perfeito para as tretas virem à tona... 

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Pablo levou Sua Alteza para uma barraca recreativa, para que se distraísse. O objetivo de brincadeira era acertar bolinhas de pano dentro de um orifício. A quantidade de bolinhas acertadas determinava o prêmio.

E lá ficou a princesa, divertindo-se com as inúmeras tentativas de Pablo, distribuindo sorrisos.

Os demais cavalheiros também se entusiasmaram com a presença de Sua Alteza e começaram a atirar bolinhas aos montes. Cada vez que um acertava a quantidade suficiente para um prêmio, os ali presentes comemoravam como se fosse uma polpuda recompensa.

— Gostaria de tentar, Alteza? — pergunta Pablo.

— Nossa, não...! Não levo o menor jeito.

— Venha aqui, eu te ensino.

E lá foi ela, encostar-se no pequeno balcão de madeira para lançar as bolinhas.

— Tem que atirar desta forma. — e faz uma breve demonstração.

Laila replicou o movimento, mas não acertou de primeira. Foram várias tentativas até conseguir. Quando o fez, ela comemorou tanto que contagiou todos em volta. Os súditos, animados, seguiram incentivando-a para que não desistisse. Sem dúvida era a barraca mais animada de toda a festa...

Herbert conseguiu segurar Matheo por uns dez minutos. Quando já estava prestes a explodir, saiu pisando fundo, com o amigo logo atrás, em busca dos dois.

Achou em segundos...

— Está vendo...! — Herbert levanta os olhos. — É só não inibi-la que ela volta a ficar à vontade e ser... ELA... — e não perde o ensejo para outra lição de moral no amigo impulsivo. — Tenho certeza que é com essa mulher que você quer passar o resto da vida. E não com aquela transfigurada, lá atrás.

Matheo não disfarçava o deslumbre ao vê-la, completamente solta, alegre, divertindo-se.

Os dois se aproximaram, sem que ela e Pablo percebessem.

Matheo foi chegando perto do balcão, onde ela estava, ocupando o lugar de uns rapazes, que se afastaram rapidinho ao se deparar com aquele homem inibidor.

Laila só percebeu quando ele já estava a milímetros.

— Divertindo-se?

— Muito. — parecia desconfortável.

— Senhor? Por favor, traga umas bolinhas. — Matheo jogou algumas moedas no balcão, recebendo umas trinta bolinhas em troca. — Quantas devo acertar pra levar o prêmio?

— A partir de seis a cada dez atiradas em sequência já há prêmio disponível. E se acertar as dez, leva o maior deles. — e o homem aponta para os bonecos de pano gigantes, pendurados em um dos lados da barraca.

— Quer tentar mais algumas, Alteza? — sugere ao pé do ouvido, depois de ter se curvado todo e apoiado o braço no balcão. Estava com o rosto a milímetros do dela.

Pablo já tinha saído dali com Herbert, deixando-os novamente sozinhos.

— Posso sim... — Laila concorda.

— Quer apostar?

— Claro que não!

— Por que?

— Porque sou muito ruim! — e ela solta uma risada descontraída, que novamente o enfeitiçou.

Essa... é a mulher que quero passar o resto dos dias... E repetia mentalmente o que Herbert disse minutos atrás, que, para variar, tinha salvo a noite.

— E o que me daria se acertasse as dez...?

Laila ficou pensativa... Logo comprimiu os lábios num beicinho lindo e deu de ombros, o que fez Matheo retribuir com o semblante deslumbrado, só dela.

— Bem... O senhor provavelmente vai levar um daqueles ali. — e apontou para os bonecos pendurados.

— Mas... o que Sua Alteza me daria, se acertasse às dez...? — insiste malicioso, mesmo arriscando assustá-la.

— Não sei... O que... o senhor me sugere? — e ela entra "no jogo".

Ele pensou em uma centena de respostas possíveis...

— Esse sorriso lindo já tá mais que suficiente.

Aquilo novamente a desconsertou de um modo, que quase a fez perder a força nas pernas. Sentiu as bochechas queimarem e desviou o olhar para baixo, completamente sem graça.

— Bem... Vamos ver se levo o melhor prêmio... — Matheo ainda provoca, com um semblante malicioso.

E lá foram... Uma, duas, três... até décima bolinha sem nem priscar.

Laila sorriu deslumbrante, ainda abismada com a façanha.

E o prêmio estava pago...

— A senhorita gostaria de escolher um boneco?

— Eu??! — indaga, surpresa.

— Sim... Claro. Aceite como um presente.

— Nossa! Obrigada.

— Veja lá... do qual gosta mais.

— Aquela com os detalhes em amarelo... parece encantadora.

— Senhor, quero aquela ali. — e Matheo aponta.

— Bem encantadora mesmo... Boa escolha. — ele elogia, ao pegar a boneca para colocar nas mãos da princesa. — Mas não chega nem aos pés da dona... — e sussurra no ouvido dela, sem nenhum rodeio mais. Já tinha perdido todo o pudor àquela altura.

Meu... Deus... Ele está me cortejando... Eu não... acredito... E o estômago contraía em desespero, provocando uma sensação surpreendentemente angustiante e boa.

O que eu estou fazendo??? E outra vez, lá estavam as bochechas rosadas, desviando o olhar para qualquer lugar que fosse.

Por sorte, havia o presente. Passou a secar a boneca, como escape da situação quase surreal que vivia.

Era impressionante como ele conseguia ser a pior e melhor pessoa do mundo para ela. Tudo ao mesmo tempo, num paradoxo tão intrigante quanto assustador.

Matheo deixou as bolinhas que sobraram para o casal do lado e esticou o braço para Laila para seguirem perambulando pela festa.

— Quer que eu carregue? — e oferece, percebendo o quanto a boneca era grande e desajeitada para ela.

— Sim, obrigada.

E lá foram... Ele em êxtase. E ela totalmente encabulada, incomodada, imersa em uma agonia incontrolável por não poder, jamais, permitir se aproximar daquele homem, misturada a um ódio repugnante pelo que ele fez.

Como se já não fossem o suficiente, ainda tinha a admiração... O absurdo sentimento de puro encantamento que surgiu, estrondoso, no dia que o conheceu, no Baile dos Sobreviventes. E agora voltava a dar as caras por ali, impertinente, naquele momento inusitado. Era tudo muito confuso. 

(COMPLETO) Laila Dómini - Quando é para ser... (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora