Cap.50 - Treino Secreto (Parte IV)

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E mais uma ocasião de proximidade. Aos poucos os traumas do passado vão dando espaço para outros sentimentos aflorarem. Será que chegará o grande dia em que o maior sentimento de todos tomara conta do coração dela? Ou isso é só um sonho distante pra ele...? 

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— Tá se sentindo bem, Alteza?

Ela acenou com a cabeça, confirmando.

— O senhor... acabou comigo.

— Mas... foi bom...?

— Muito bom. — devolvendo um tímido sorriso para ele e dando o braço a torcer que, realmente, não se tratava da mesma coisa.

Não era mesmo possível estabelecer qualquer comparação entre o "treino" de Ariteu, com aquilo que Matheo havia pacientemente lhes ensinado durante a tarde.

— Vamos? — sugeriu, delicado.

— Acho que... vou passar a noite aqui. Não consigo nem me levantar. — fazendo piada de seu próprio estado deplorável e arrancando outro sorriso inevitável de Matheo.

Só mesmo ela para fazer aquela muralha de pedra, intransponível e gélida, sorrir.

— Bem... Se quiser ficar, será um prazer fazer-lhe companhia. — e já se colocou de pé em frente a ela.

Laila esticou os lábios, fechou os olhos e apoiou a cabeça sobre os joelhos dobrados.

— Venha! Eu te ajudo.

Ela finalmente cedeu a mão para ele.

— Jafé, pague Ariteu por favor.

— Mas, Alteza...?

— Ariteu, obrigada pelo seu tempo. E foi isso que combinamos, não é mesmo?

O menino não discutiu.

Matheo ouvia o dialogo com um 'quê' de satisfação pessoal indisfarçável, enquanto a acompanhava até o cavalo.

Laila percebeu a cara de orgulho dele que, de fato, era perfeitamente justificável. Não tinha como negar que talvez fosse mesmo o melhor guerreiro a manejar um espada, como tinha escutado das várias histórias que chegavam, mesmo que distorcidas, até ela.

— Querendo receber seu pagamento também, senhor?

Ele riu de novo.

— Depois, combinamos isso.

—Nem pensar! Não concebo dever nada para o senhor...! — em tom de brincadeira, mas com certo receio na voz.

— Não me deve nada, Alteza. — Matheo desconversou, pescando exatamente o que Laila queria dizer. — Eu é que lhe devo o prazer de sua graciosa companhia. — e beijou a mão dela, antes de puxá-la para cima do cavalo.

E lá foram, a trote quase parando, direto para o Castelo.

Laila, tomando a liberdade de sempre, não hesitou em repousar a cabeça no ombro dele para descansar.

Estava quase cochilando, quando escutou a inesperada pergunta...

— Fui aprovado?

— Oi? — despertou, meio perdida, virando-se para Matheo.

— Passei no teste... pra ser seu tutor?

Ela voltou a encostar-se no ombro dele, rindo, graciosa.

— Não sei... Ainda vai precisar me surpreender. — provocou.

— Então... Espero que me dê mais uma chance na próxima terça. — e aproveitou para prospectar a participação no treino seguinte.

— Vamos ver... Vamos ver...

E Matheo não se conseguia mais se desfazer do sorriso.

Impressionante como Laila lhe despertava o bom humor. Sentia-se mais leve, menos preocupado, quando estava ao lado dela. Aos poucos, ia experimentando todas as sensações que um amor de verdade podia prover, além do contato físico propriamente.

Estava realizado por descobrir tanto sentimento bom que a convivência com quem se ama de verdade proporcionava. E abismado também como poderia importar-se com algo... Mais especificamente com alguém, muito mais que com sua própria vida.

**********

Na manhã seguinte, Laila sentia cada músculo do corpo doendo. Mal conseguiu levantar-se da cama.

— Lis... Pode pedir à dona Deulália que prepare um chá... Ou qualquer coisa que ajude na dor?

— Onde exatamente dói, Alteza?

— Tudo, Lis! Da ponta do dedo do pé, até o fio do cabelo... Tudo.

— Pelos Céus...! Mas o que houve? Quer que chame o doutor?

— Treinamos intensamente ontem.

— E...

— Sim, Elisa... Matheo foi com a gente.

— Ai, Meu Senhor... ! O que foi que aquele monstro fez com Sua Alteza?

— Nada de mais. Só ficou lá, ensinando a gente a manejar as espadas apropriadamente.

— E foi tudo... bem?

— Foi, mas exigiu muito. Na verdade, foi a primeira vez que treinamos assim, pra valer... — explicou. — Ariteu é ótimo, tudo... Mas... Tenho que reconhecer que Matheo... Nossa...! Ele é bom demais com as espadas.

— Sua Alteza não chegou a lutar com... ele...? Chegou?

— Claro que não! — e soltou um riso nasal. — Eu treinei com Ariteu. Ele a nos ensinar... Não faz ideia do quanto ele sabe, Elisa. Nunca tive contato assim, com alguém que entendesse tanto da luta. — e ficou lá, com olhar no horizonte. — Eu não teria... a menor chance... contra ele. — confessou, uma tristeza indissimulável na voz, que a dama logo percebeu, mas não disse nada.

Pôde compreender ao que a princesa se referia, lembrando-se da primeira vez que Laila pediu a ela que procurasse um tutor.

Certamente, para se defender dele... Constatou.

Mais alguns instantes em silêncio...

— Mas ainda estou furiosa com você! — Laila a interpela.

— Eu??! mas o que foi que eu fiz??!

— Contou a ele onde eu estava, delatando nosso esquema da aula. Agora, ele não vai mais me dar paz.

— Mas... Sua Alteza... O homem veio pra cima de mim, daquele jeito, furioso. Pressionando-me... Até tentei dizer que estava em seu quarto. Mas ele me pegou na mentira em um segundo. Não tive como. Desculpe-me... — e ficou profundamente aborrecida com a bronca, inerente a sua personalidade sensível.

— Eu sei, Elisa... Sei bem que ele não te daria paz. Estou falando só para importuná-la um pouquinho. Não fique chateada.

— Jura que Sua Alteza não está brava...?

— Claro que não! De forma alguma. Eu sabia que a qualquer momento ele descobriria. Desde que meu pai o nomeou responsável pela minha segurança, é certo que não conseguiria esconder qualquer coisa dele. Mal conseguia antes... —lamentou-se, aborrecida.

(COMPLETO) Laila Dómini - Quando é para ser... (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora