Cap.66 - Sob Controle (Parte III)

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Os serviçais que trabalhavam diretamente para a Família Real tinham um esconderijo no prédio anexo, próximo a seus aposentos, e se alojaram lá, a salvos durante toda a investida dos invasores.

— Minha ama??! Que alegria vê-la!! — Lis entrou rompendo pela porta, assim que passou pelos dois guardas que Matheo havia deixado do lado de fora, para resguardar seu tesouro mais precioso de qualquer contratempo. Ainda tinha muita gente desconhecida circulando pelo Castelo, em busca de ajuda e atendimento médico.

— Oi, Lis... — e revirou-se na cama, sem dar sinais que fosse levantar.

Havia dormido por cima das cobertas, sem travesseiro, de qualquer jeito e, pasmem!... Acompanhada.

— Mas que bagunça isso aqui! — Elisa começou a erguer as mobílias tombadas pelo chão e colocar as almofadas de volta nos sofás.

— Ai, Lis... Que sono.

— Lá fora está ainda mais assustador, Alteza. Pra onde se olhe, há foco de bagunça. Que horror esses invasores...! — e ficou lá, puxando assunto.

— Nem fale. E está tudo bem contigo?

— Estou ótima!

— Jafé?

— Também. Não tivemos problema algum por lá. Mas fiquei preocupada com a senhorita. Soube que estava desaparecida.

O que fez Laila levantar a cabeça no susto.

— Desaparecida??!!

— É... Estava todo mundo aflito atrás de Sua Alteza, assim que a invasão começou. Soube que aquele... homem, quando chegou de Solinomo e descobriu que ninguém tinha conhecimento do seu paradeiro, entrou em desespero.

— Foi ele que me achou, Lis.

— Quê??!

— Eu estava escondida no Salão aqui do lado. Foi ele que me encontrou.

— Nossa! Mais uma vez... a salvá-la. — a dama soltou alto os pensamentos.

Laila, ainda de preguiça, resolveu se levantar, com muita dificuldade. Esticou-se toda, sentada à beira da cama e se pôs a caminhar pelo quarto em buscar de algo para vestir.

— Lis?

— Que foi, ama?

— Estou com um pouco de fome. Será que dona Deulália tem algo por lá...?

— Posso ver.

— Falando nela... Está bem?

— Sim. Ficou lá no esconderijo conosco. Coitadinha... Chorava tanto quando soube que Sua Alteza estava sumida.

— Nossa... Não pensei que... — e parou a frase no meio. Realmente, a atitude precipitada de esconder-se sem ninguém conhecer seu paradeiro acabou desencadeando uma avalanche de mal-entendidos.

— Bem... Vou lá tentar providenciar algo para a senhorita.

— Lis?

— Pois não...?

— Acho que irei ajudar na organização.

— Acho uma ótima ideia, ama! Esse Castelo está pela hora da morte.

— Não, Lis. — Laila a interrompeu. — Quero ir à Vila, ajudar os moradores a porem em ordem suas casas.

De fato, Laila, ficou entusiasmada com a gratidão dos súditos que auxiliou com os curativos, pela manhã.

Acreditava ter um compromisso moral com eles em ajudá-los também com suas casas.

Não queria ficar trancafiada no Castelo, passando a imagem de uma boneca em uma redoma.

— Mas... Como, ama?

— Assim que falar com dona Deulália, peça a Jafé que identifique uma área da Vila que precise de nossa ajuda.

— Isso não é perigoso...?

— Não, imagina! Matheo disse que já está...

— Quem???!! — a dama interrompeu, incrédula.

— Matheo, Lis.

— E a senhorita esteve com aquele homem??! Depois...???!! Mas quando??!! Que horas...?!

— Muita pergunta, Elisa... — já sem paciência com aquele interrogatório. — Por favor, leve meu pedido a dona Deulália e a Jafé. Chego na Copa dos Serviçais em dez minutos.

— Está bem... — e lá foi Elisa, contrariada pela falta de respostas, cumprir as ordens de Sua Alteza.

A princesa aprontou-se com um vestido simples, marrom, não esquecendo de calçar por baixo as botas da aula de luta com espadas, para dar-lhe alguma proteção.

A rotina do Castelo havia sido inteira alterada, estando as refeições formais temporariamente suspensas. Mas dona Deulália já estava à postos com algo engatilhado, para os esfomeados que surgiam de todos os cantos em busca de comida.

Laila desceu direto para a Copa dos Serviçais. Elisa estava lá também.

As duas almoçaram juntas. A dama relatava tudo o que sabia estar se passando, dentro e fora do Castelo. Impressionante como era bem informada...

Rei Fernan estava, desde que deixou o esconderijo, para baixo e para cima, envolvido em avaliar os estragos no Castelo, nas habitações dos súditos e, principalmente, as baixas e feridos, tanto em sua Guarda como entre os moradores de LaViera.

Isaboh descansou pela manhã e no início da tarde já tinha assumido a organização dos ambientes internos do Castelo, ficando responsável por coordenar os serviçais para tal atividade.

— E eu, Alteza??! — Elisa questionou, quando Laila deixava a Copa para encontrar-se com Jafé, na porta de serviços.

— Quero que fique aqui pra ajudar minha mãe, Lis.

— Mas... Por que não posso ir também...?

— Pois minha mãe precisa de você aqui.

— Está bem... — completamente contrariada.

— Ah... E só comente onde fui, se alguém perguntar.

— Está certo, Alteza, mas não acha arriscado demais sair por aí? Passaram-se apenas algumas horas desde que os invasores foram derrotados. Não sabemos se...

— Lis, não se preocupe, está bem? Não há com que se preocupar.

E Laila a deixou para trás, contrariada e totalmente desconfortável.

(COMPLETO) Laila Dómini - Quando é para ser... (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora