Cap.51 - Cerro Compartido (Parte II)

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Encontrou-os na área externa do Castelo. Herbert estava com o Chefe da Guarda local, repassando as atividades para recompor e treinar o contingente e Cerro.

— Vamos embora daqui!

— Como??! — Herbert, perdido com a imposição, afastou-se com Matheo, para falar-lhe em particular. — O que houve??!

— O Rei daqui é um babaca. Do mais arrogante.

— Pior que Armando de Celeste??!

— Mesma laia. Tive que me segurar pra não ir pra cima do velho.

— Aguenta um pouco aí. Tenho que terminar a conversa com o Chefe da Guarda deles. Além disso... tem a recompensa.

— Dane-se!

— Não enche, vai! Já fizemos o mais difícil. Agora que é pegar o prêmio e sair fora, você dá pra trás??! Nem maluco...

—Tô de saco cheio dessa gente. E esse velho... Duvido que pague alguma coisa.

— Volta lá e tenta conversar com ele. Deve estar cansado pelo que passou. Tem que dar um desconto.

Matheo encarava Herbert com uma expressão de pouco caso, desacreditando que teria que falar com aquele idiota outra vez.

Quando retornou ao prédio, estava caminhando por um dos corredores, quando escuta alguém chamá-lo.

— Senhor Matheo?

Ele parou para observar o homem, enquanto este corria em direção a ele com a mão estendida.

— Senhor... Boa noite. — e cumprimentou Matheo.

— Boa... — devolveu ele, com desdém.

— Sou Orlando, filho de Alonzo, e queria lhe falar por alguns minutos. Podemos?

Matheo deu de ombros, surpreso. Tinha achado que todos fossem como o velho.

— Acompanhe-me, por favor. — Orlando o convidou educadamente e o conduziu até sua sala de trabalho. — Fique à vontade. — e apontou a cadeira à frente.

Matheo se ajeitou sem dizer nada, só aguardando o que viria.

Enquanto o tal príncipe se sentava em sua cadeira, Matheo o observava. Parecia somente alguns anos mais velho que ele, mas estava acabado. Careca, a barba comprida, mas até que bem feita, dentes horríveis, escurecidos e uma barriga gigante, que mal cabia dentro da camisa surrada que usava.

— Quero primeiramente pedir desculpas pelo meu pai, lá na masmorra. — e Orlando abre o diálogo, deixando Matheo admirado. — Sabe como são esses velhos, das antigas... Que já passam da idade de comandar qualquer coisa.

— E como sei. — Matheo devolve, sentido-se um pouco mais à vontade. — Me pareceu bastante estressado o seu pai.

— Estressado?! Nããão... É gagá mesmo. E mal-educado. Mas isso não é de velho, não. Vem desde que nasceu.

Matheo inevitavelmente soltou uma risada do comentário maldoso de Orlando.

— Está aí há mais de quarenta anos e não larga o trono. Veja se pode... Esse velho... Mal dá conta da minha mãe. — e continuava rechaçando o pai sem pudor algum, deixando Matheo surpreso com tanta sinceridade. — E me fale de vocês... Sei que são daquele grupo que salva Reinos... Incluindo os falidos e mal geridos como o meu.

Matheo continuava a rir dos comentários indiscretos de Orlando, que parecia soltar tudo que lhe vinha à mente, sem filtros. Sentiu-se bem menos enfurecido em ter ajudado aquela família, só pela conversa que estava tendo ali.

(COMPLETO) Laila Dómini - Quando é para ser... (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora