Cap.64 - Solinomo (Parte II)

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Matheo deixou os invasores com os guardas e seguiu a voz. Não custou a achar o Rei, sua esposa e filho presos atrás de uma grade. Arrebentou o cadeado com as mãos, chamando a atenção do monarca que ficou estupefato com sua força.

— Senhor. Estou grato por ajudar-nos. Mas quem exatamente é o senhor?

— Meu nome é Matheo, Chefe da Guarda de LaViera, e fui enviado por Rei Fernan em resposta a um pedido de ajuda. Mas onde estão os invasores?

— Que ótima notícia. Fernan é realmente um grande aliado... — Rei Héctor estava muito grato. — Bem... Os invasores chegaram aqui ontem. Eram muitos. Por isso, enviei o pedido de socorro a Fernan. Eles saquearam algumas casas, estabelecimentos, pegaram uma parte das minhas reservas, depois me prenderam aqui. Parecia que iam seguir com a ofensiva, porém, desde hoje cedo, só estou vendo estes cinco "rapazes" que vocês renderam.

Matheo ficou encarando Rei Héctor com a testa espremida e aquele ar de que alguma coisa não faz sentido. As informações estavam desconexas...

— Majestade, pedirei a dois guardas que vasculhem o Castelo em busca de invasores. Enquanto isso, sugiro que fiquem aqui. Irei agora interrogar os detidos pra ver se descubro algo mais.

— Está bem.

Matheo chamou de canto um dos guardas que vigiava os invasores.

— Tobias?

— Senhor?

— Quero que traga um a um aqui. — e apontou para uma pequena câmara, num dos cantos do calabouço úmido e sombrio. — Vou falar com eles separadamente, pra ver se arranco alguma coisa.

— Está bem, senhor.

— Ah... E manda primeiro os que te parecem ter a língua solta. Não temos muito tempo.

— De acordo. Com licença.

• • •

— Boa tarde. Como se chama...?

E um silêncio tumular se fazia presente na pequena e escura antessala.

— Bem... O senhor está aqui, sabe muito bem o porquê. E pra que fique um pouco mais tranquilo, quero informa-lo que não sou adepto a métodos de tortura. Acho os resultados duvidosos, pelo efeito que provocam. Por isso, eu estou lhe dando uma chance, única! De explicar quais são os planos do bando, aqui em Solinomo ou em qualquer outro lugar. — e a voz assustadoramente sombria e serena saía de um canto mais escuro do recinto, acompanhada do barulho seco do solado da bota contra o piso, perambulando de um lado a outro, que o infeliz, ajoelhado no chão e com mãos e pés amarrados, não conseguia enxergar.

Ainda assim, nada dele se manifestar.

— O senhor tem uma última chance, antes que eu apele aos meios menos ortodoxos, os quais sou contra.

Nem um pio.

Quando Matheo grudou no cabelo dele, apoiando a pequena adaga na jugular, o infeliz começou a soltar umas palavras com um sotaque arrastado.

Porrr favor... Non machuque...

— Então, desembucha! Minha paciência acabou. — e soltou o cabelo do invasor com raiva.

— Nus soms de Lurien i vieme aqui pur l'or...

— Como???

— L'or... Ourro...

— Roubar o ouro??!

— Si... si...

— E onde estão os demais?

Mais uma vez o silêncio.

— Por que deixaram vocês aqui...?

— Non... entende...

— Entende sim... — e, novamente, voltou a esfregar a adaga na base do pescoço do infeliz.

— Els forram con outre gurrupo.

— Onde? Por quê?

— Pur encontre... ôtre gurrupo...

— Onde?

— Ne se...

— Última chance!

— Ne se... É proxeine...

— Próximo??! Daqui..?!

— Si...

Matheo devolveu o infeliz para seus homens trancá-lo em uma das grades do calabouço. Na volta, quando ia pegar outro para interrogar.

— Senhor?

— Sim, Tobias.

O guarda fez um sinal com a mão para se afastarem dos invasores e dos demais guardas.

— Senhor... Um deles soltou que o bando rumou para o sul, para tomar outro Reino. Isso não soa nada bem.

— Não mesmo... — e Matheo esfregava a cara de cima a baixo, sua costumeira reação de nervoso.

Nesse instante, os guardas que foram vasculhar o Castelo chegaram, esbaforidos, acompanhados de outros dez guardas locais.

— Senhor... Não encontramos ninguém além destes membros da guarda daqui. Estavam trancados num aposento no último andar. — explicou Alan.

— Com licença. — e um dos guardas de Solinomo interrompe o diálogo. — O senhor é...

— Matheo.

— Nossa! Ouvimos falar do senhor... E muito. — estava admirado em topar com o lendário guerreiro ali, a sua frente. — Me chamo Julio, senhor. Muito prazer. — e adiantou-se para apertar a mão de Matheo.

— Julio, preciso de informações sobre esta invasão. Me parece que chegamos tarde. Mas...

— Senhor? Vocês vieram de...

— LaViera.

— Meu Deus...! Eles estão indo pra lá.

Matheo deu um suspiro profundo. Estava na cara que havia algo errado...

— Desculpe, senhor. Mas...

— Isso aqui é uma cilada! — rompe Matheo, esfregando a cara com uma força descabida. — É lógico que é uma cilada!! — e deu outro grito, incrédulo, como se sentisse raiva de sua própria estupidez. — Tobias! Junte os homens! Vamos voltar imediatamente! Julio! Avise o Rei que estamos indo.

Rei Héctor escutou a conversa e veio até a antessala.

— Senhor Matheo...?

— Majestade. Não podemos. Isso aqui é uma cilada... Agora eles rumam pro meu Reino.

— Eu ouvi. Fernan precisa de vocês lá.

Matheo foi saindo da masmorra, com Héctor a acompanhá-lo.

— Sou muito grato a você e Fernan. Irei averiguar a situação de minha guarda e enviarei parte dela para ajudá-los, se houver condições.

— Obrigado, Majestade. Com licença. — e saiu voando dali, para pegar o cavalo e partir.

Enquanto cavalgava de volta à LaViera o mais rápido que conseguia, só pensava nela, atormentado em imaginar o Castelo invadido e Laila raptada, maltratada, abusada talvez...

Herbert vai protegê-la. Ele vai guardar a minha mulher... Repetia para si mesmo, tentando consolar-se da estupidez que tinha feito em sua concepção.

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(COMPLETO) Laila Dómini - Quando é para ser... (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora