53 - Beber

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Meus ouvidos registram o toque do despertador e meu cérebro emite comandos básicos. Meu corpo obedece ao primeiro comando de se levantar e ir até o aparelho para silenciá-lo. Minha visão registra as horas, 6:30. Assim que meu dedo desliga o despertador, meus olhos se surpreendem com a mensagem que acaba de chegar.

"Não vou para a faculdade hoje, mas quero te ver mais tarde. Estava pensando em te levar para jantar, se vossa senhoria me conceder essa grande honra"

Era para o meu cérebro enviar um comando aos meus lábios, para que abrissem um grande sorriso bobo, coisa que sempre acontece quando Luke propositalmente fala como um homem medieval.

Mas então por que estou com os lábios neutros? Meu cérebro continua dando comandos básicos, como tomar banho, escolher uma roupa e pentear o cabelo.

Já no andar de baixo, meus pais estranham o fato de eu estar pronta tão cedo. E estranham ainda mais quando me sento à mesa para tomar café da manhã com eles, pois todos os dias eu saio apressada e não dá tempo.

Mas o que estranham de verdade é eu pedir carona para a faculdade, porém não ficam fazendo perguntas.

Chego no prédio de engenharia ao mesmo tempo que Lia. Ela franze a testa assim que me vê.

— Você não está nada bem — diz, pegando o meu braço. Em seguida me puxa para um canto. — O que aconteceu?

Como não quero preocupá-la, me apresso em dizer:

— Nada, Lia, tá tudo bem.

Ela revira os olhos.

— Estou vendo na sua cara que não é verdade. Se não quiser falar sobre isso, eu entendo. Mas se você falar, terei alguma chance de tentar te ajudar. — Há tanto cuidado fraternal em seu tom de voz que me sinto mal com a ideia de deixá-la preocupada e sem ter noção do que está me causando sofrimento.

Seria cruel deixar uma pessoa que me ama criar teorias para tentar entender o que se passa comigo. Não é assim que se faz com as pessoas que amamos.

E é o que ele está fazendo comigo.

— Há algo muito errado com Luke — começo. — Ele tem andado distante há um tempo e fica muito tempo trocando mensagens com alguém.

— E você provavelmente já tentou perguntar para ele, não é?

Respiro fundo.

— Sim, mas isso só o afasta ainda mais.

— Talvez seja apenas a mania dele de se isolar quando está sofrendo, lembra? — Lia pontua o traço que mais odeio em Luke.

— Mas já estamos juntos há mais de um ano e ele ainda não confia em mim o suficiente para me deixar fazer parte de sua vida. Lia, isso não é normal.

Ela coloca as mãos em meus ombros.

— Relacionamentos têm dessas coisas, Grazy. E Luke te ama muito. Dê mais um tempo para ele.

Sinto um cansaço mental se aproximar, como o cansaço que nos atinge ao final de um dia longo demais. A questão é que o dia acabou de começar.

Conversar sobre isso me deixou pior do que eu já estava. Eu preciso mesmo é tirar Luke da cabeça por um tempo.

— Você não tinha algo mega importante para me contar? — mudo de assunto, me referindo à mensagem que ela mandou ontem à tarde.

Lia parece aceitar a mudança repentina de assunto. Então o clima da nossa conversa é totalmente transformado pela euforia que toma conta dela.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora