14 - Apostando

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Assim que Lia vai embora, corro para o quarto, me jogo na cama e digito uma mensagem para o mais novo número em minha agenda:

"Parece que não vou precisar do Super-Homem hoje"

No mesmo segundo em que envio, fico insegura. Devia ter dito algo mais interessante e não uma idiotice dessas.

Passo o resto da noite esperando por uma resposta que nunca chega.

Acordo às cinco e meia da manhã, provavelmente antes dos meus pais, e a primeira coisa que faço é verificar meu celular, assim como qualquer pessoa no mundo moderno faz.

Sinto a frustração que qualquer outra pessoa sente ao ver que não há notificação alguma, além de uma mensagem golpista que deveria ter ido para a caixa de spam.

Afinal, o que essa mensagem faz na caixa principal? Eu ativei o controle de spam justamente para não receber mensagens idiotas e...

Me ergo na cama de vez enquanto corro o dedo nos botões em busca da caixa de spam. E aqui está. Uma resposta de Luke enviada dois minutos após a mensagem que enviei para ele ontem.

Primeiro fico furiosa. Quem esse celular pensa que é para mandar uma mensagem de Luke para o spam?!

Em seguida sinto vontade de beijar o celular, pois leio a mensagem:

"Droga, coloquei minha capa em vão. Mas nem vou tirar, nunca se sabe quando uma donzela indefesa vai precisar ser salva"

Uma euforia estranha me domina quando digito de volta:

"Não sou nenhuma donzela indefesa, fiz aulas de karatê quando era criança"

Fico encarando minha mensagem, já sentindo a insegurança da escolha de palavras.

Alguns segundos depois, a resposta dele chega:

"Foi mal, Karatê Kid"

Uma risada sonora me escapa. Quantas vezes mais ele vai me pegar de surpresa com referência de filmes?

Deixo o celular de lado e decido que esse dia será muito produtivo.

Tomo banho. Faço café. Coloco meu tênis de corrida. Sinto que posso correr duas maratonas inteiras.

Exausta. Capenga. Derrotada.

Com uma mão na altura do pâncreas, me arrasto às cegas para dentro de casa em busca de água.

Assim que chego na cozinha, vejo minha mãe despejando todo o café da garrafa dentro da pia.

— Ei! Por que está jogando meu café fora?! — protesto.

— Eu disse que só podia ser coisa dela — diz meu pai, sem tirar os olhos do celular.

— Eu fiz café para vocês!

— Isso era café? Estava com gosto de água suja — ela fala isso na maior cara de pau.

Reviro os olhos e vou até a geladeira. Viro na boca uma garrafa de água mineral de dois litros.

— Minha nossa — meu pai se impressiona quando tiro a garrafa vazia da boca.

Enfio a garrafa no lixo, me sento ao lado do meu pai em uma banqueta e deixo a cabeça cair em cima dos braços dobrados no balcão.

— Está se sentindo mal, querida? — minha mãe pergunta.

— Só estou cansada — murmuro.

— Por que está correndo, filha? — questiona meu pai.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora