O pai de Luke está internado em estado grave.
A mãe dele, sentada a uma cadeira de distância de mim na sala de espera, está completamente petrificada, como uma estátua.
A irmã dele está caminhando de um lado para o outro, roendo as unhas e murmurando coisas incompreensíveis. A cada três minutos, ela coloca a mão no peito com falta de ar.
Luke é o porto seguro das duas e se mantém firme. Não consigo imaginar o esforço sobre-humano que ele faz para não sucumbir ao desespero.
Mila é quem mais me preocupa: ela senta, levanta, começa a chorar, manifesta falta de ar, exclama palavrões e, pior de tudo, faz cara de dor com a mão na barriga.
Luke está de pé, encostado na parede com os braços cruzados, perto de onde Mila perambula. Seus olhos estão atentos nela, pois os passos dela vacilaram diversas vezes e ele teve que ampará-la.
No caminho para o hospital, Mila estava tão descontrolada que gritava por Deus, implorando para o pai dela não morrer hoje.
Mas o que eu descobri também, enquanto tentava acalmá-la, é que todos eles já aceitaram como um fato líquido e certo a morte de Willian.
E eu não tenho palavras para dizer o quanto descobrir isso me fragmentou. Mas estou me esforçando para me desviar dos pensamentos sobre um mundo sem Willian, pois permitir essas imagens dolorosas me farão desabar e agora eu não posso.
Assim como Luke, estou de olho em Mila e vejo quando, mais uma vez, ela sente falta de ar. Luke vai até ela e ela o agarra imediatamente, como se ele fosse seu bote salva vidas, enquanto tenta recuperar o fôlego.
Na busca de Mila por oxigênio, Luke coloca a mão atrás da cabeça dela, apoiando-a em seu ombro, e aguarda. Parece uma ação que ele já está muito habituado a realizar.
Quando ela consegue encontrar o fôlego novamente, Luke a faz se sentar na cadeira entre a mãe e eu.
— Luke, eu quero água — Mila pede, quase implorando, com a voz embargada.
Ele faz um gesto afirmativo com a cabeça.
Quando Luke se afasta para buscar água, Mila olha para a barriga e começa a murmurar coisas incompreensíveis. Me aproximo um pouco mais para poder escutar.
— Ele vai morrer hoje e não vai te conhecer — ela fala para a barriga.
— Mila... — estendo uma mão para pegar a sua.
As mãos dela começam a tremer e, de repente, o ar foge dos seus pulmões.
Arregalo os olhos, pois a pessoa que a acalma não está por perto.
— Eu não consig.... respir...
Seguro os braços dela e tento fazer com que olhe para mim.
— Pensa na sua filhinha, Mila, ela precisa de você — digo em um fio de voz, percebendo que estou chorando.
Então as lágrimas desaguam desesperadamente pelo meu rosto.
Mila está com falta de ar e Willian vai morrer.
Willian vai morrer.
Como posso ajudar Mila se mal consigo lidar com a minha própria dor?
Olho para Eliza buscando por ajuda, mas ela está completamente ausente. Ela sequer percebe o que acontece ao seu lado. Ela sequer parece estar viva.
Olho ao redor em busca de alguém, mas na sala de espera só há duas senhorinhas nas cadeiras do fundo distraídas demais com sua própria conversa.
A recepcionista também não está no balcão e não há enfermeiros à vista.
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O garoto dos olhos avelã
Ficção AdolescenteGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...