82 - Abraçar

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Tentar não adivinhar as horas é uma tarefa difícil quando a insônia impera sobre nós. Acho que já faz trinta minutos que verifiquei o celular e era uma da manhã. Novamente estou tentando adivinhar.

Frustrada pela dificuldade em dormir, cubro meu celular com um travesseiro e viro para o outro lado da cama, como se o aparelho tivesse culpa de registrar o avanço das horas.

Tenho que dormir, só assim darei um pouco de paz para a minha mente agitada.

Acontece que, depois da conversa com Eliza, voltei para casa com a decisão de terminar com Adrian hoje mesmo. Mas quando ele veio me visitar à noite, minha estratégia de tomar as atitudes necessárias mesmo sem coragem não funcionou, pois ele me trouxe flores.

O problema não foi coragem, foi vontade. Não tive a menor vontade de terminar com Adrian ao ver seu sorriso doce atrás de um buquê de rosas.

A estranheza que eu havia notado nele mais cedo não estava mais lá. Adrian estava tão dedicado em me dar atenção, em me dar beijos surpresa na ponta do nariz, que eu só tive vontade de ser recíproca. E eu fui.

Mas assim que ele foi embora, uma tonelada de culpa caiu sobre a minha cabeça, pois a decisão de terminar com ele não foi revogada, apenas adiada; ou seja, eu o estava iludindo.

Por isso não consigo dormir, minha consciência não permite.

Sinto a vibração suave, acompanhada de um toque abafado. Retiro o travesseiro e o brilho azulado da tela ilumina o quarto. Meu coração sai pela garganta ao ver quem é:

Luke.

Mas por que me ligaria uma hora dessas? Sequer estamos nos falando.

Será que Eliza contou sobre a nossa conversa de mais cedo? Com certeza é isso. Ele está ligando para brigar comigo.

Me sento, o celular tremendo junto com os dedos, e atendo.

— Oi... — tento falar, mas só sai um sussurro trêmulo.

— Graaazy! — a animação em sua voz me faz assustar. — Grazy, minha vida!

— Luke? — pergunto, confusa.

— Sou eu, minha flor — sua voz soa embargada e desacelerada como se...

— Luke, você está bêbado?! — pergunto atordoada.

— Você é a mulher mais linda do mundo. A mais cheirosa, a mais macia, a mais tudo. Você é tudo!

— Você andou bebendo, Luke?! — fico de pé. — Onde você está?

— Onde eu estou? — ele faz uma pausa. — Ei, você sabe onde estou? — sua voz soa um pouco distante, como se estivesse se dirigindo a outra pessoa. — Ela não quis responder — diz triste.

— Ela quem?! Com quem está falando? — ando de um lado para o outro no quarto.

— Não sei o nome dela. Mas vou perguntar agora. Ei, qual o seu nome? — ele fica em silêncio por um momento como se esperasse por uma reposta. — Ela não quis responder de novo — sua voz fica triste novamente.

— Para de falar com estranhos!

— Sai da rua, idiota! — uma voz irritada grita ao fundo.

Ouço um som alto de buzina de carro e meu coração dá um salto desesperado.

— Ele me chamou de idiota. Você me acha idiota, Grazy?

Outro som de buzina e meu coração ameaça explodir com a imagem de Luke completamente bêbado no meio da rua.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora