88 - Respirar

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Quanto mais as horas passavam, mais eu me impressionava com a força de Luke, pois eu mesma estava querendo gritar.

As notícias ruins não erravam a porta dessa família. Por volta de uma da manhã, chegou a notícia de que Mila entrou em trabalho de parto prematuramente, com sete meses de gravidez.

A menininha, minúscula, saiu da barriga da mãe e foi diretamente para a UTI neonatal, onde ficaria por aproximadamente quarenta dias.

Contudo, quando Luke, Eliza e eu a vimos através dos vidros, todos nós sorrimos. Foi a sensação mais leve e mais pura que eu já senti. Parecia um milagre.

Apesar da angústia pelo nascimento prematuro, e por Alice ter que ficar tanto tempo isolada daquele jeito, foi impossível não notar a esperança que inundou o coração de toda a família.

Cerca de duas horas depois, tivemos a notícia de que a cirurgia de Willian havia acabado, porém não se sabia se ele acordaria, e no momento ele só respirava por conta dos aparelhos.

Quarenta e oito horas se passaram e ele não acordou.

Mila tinha crises de ansiedade continuadamente, mas também precisava se recuperar da cesariana, então passou muito tempo sedada.

Eu não conseguia parar de me perguntar o motivo de tanto sofrimento. Era coisa demais. Como Luke conseguia ter sanidade mental em meio a tanto tormento?

Minha mãe chegou a dizer:

— Tenho muito orgulho de você estar aqui dando tanto apoio à família de Luke, querida. Mas não sei se é saudável para você.

Acontece que, naqueles dois dias, eu não perdi Luke de vista por nada. Eu dormia na casa dele quando saíamos um pouco do hospital. Mila precisava de um acompanhante continuadamente e por isso Eliza raramente ia para casa. Percebi que a minha mãe estava sugerindo que eu fosse para a nossa casa e tive um breve momento de desespero, mas recobrei a postura imediatamente ao dizer:

— Eu entendo a sua preocupação, mãe. Mas se fosse o contrário, Luke não sairia de perto de mim nem por um segundo.

— Tem razão — ela afagou o meu cabelo. — Quando tudo isso passar, vou querer que você e Luke tirem férias de tudo e de todos. Vocês merecem.

Ao entrarmos no quarto dia, Willian ainda estava inconsciente, mas deu o primeiro suspiro com os próprios pulmões. Depois disso, as notícias boas começaram a acertar a porta daquela família.

No quinto dia, Mila recebeu alta.

No sexto, Willian deu uma respiração profunda, e Eliza conseguiu se alimentar direito pela primeira vez desde a internação do marido.

No sétimo dia, Mila pegou a filha nos braços pela primeira vez. Houve muitas lágrimas, foi muito comovente.

No oitavo, Luke finalmente teve uma noite inteira de sono.

No nono dia, Willian não mais precisava de aparelhos para respirar.

No décimo, Alice mamou pela primeira vez.

No vigésimo dia, as olheiras de Luke suavizaram.

No trigésimo, Alice recebeu alta da UTI neonatal.

No trigésimo segundo dia, Willian acordou.

No trigésimo terceiro, joguei uma partida de xadrez com o meu amigo.

— Você é tão linda — digo baixinho, sorrindo para a minha sobrinha, que dorme tranquilamente em meus braços.

Ela é toda pequenina e delicada. Parece um anjo. É a minha bonequinha. Eu a amo tanto que meu coração transborda.

Mal posso esperar para ver seus primeiros passinhos, para ouvir sua gargalhada infantil, para ouvi-la me chamar de titia.

Minha nova meta é comprar um livro por mês para ela por toda a sua vida. Por sinal, já comprei o primeiro. Ela vai ter muita leitura para colocar em dia quando aprender a ler.

Alice é muito amada pela família. Todo mundo baba por ela. Sinceramente, ela não precisa do homem que engravidou sua mãe. Se tem uma coisa que nunca vai lhe faltar nessa vida, é amor.

Mila entra no quarto na ponta dos pés e sussurra:

— Dormiu?

Balanço a cabeça afirmativamente.

— Incrível como você faz ela dormir tão rápido — ela continua sussurrando.

Luke entra no quarto em seguida e sussurra:

— Dormiu?

— Óbvio, ela está nos braços da tia — Mila faz uma careta brincalhona, se aproxima e beija a testa da filha com ternura. — Você a coloca no berço? Eu preciso urgentemente de um banho.

Confirmo com a cabeça, Mila agradece com as mãos juntas e sai.

Mila está progredindo muito com o tratamento. Suas crises de ansiedade não lhe causam mais falta de ar. Ela ainda sente palpitações, mas o processo de remissão é gradual.

Perto da porta, Luke continua olhando para mim, mas nada diz.

— O que foi? — pergunto baixinho.

— Nada.

Semicerro os olhos para ele.

Ele olha para Alice em meus braços, depois para mim e diz:

— Imaginei uma coisa.

Meu coração erra uma batida.

Luke me imaginou segurando um bebê nosso.

Ele se aproxima e cuidadosamente pega a mão minúscula de sua sobrinha. O olhar dele para ela é cheio de amor.

Ela também o ama, pois adora dormir no colo dele.

Alice se mexe, então, com cuidado, coloco-a dentro do berço.

Ela ainda está se acostumando com o novo quarto, depois de um mês conhecendo apenas a caixa de vidro da UTI neonatal.

Na saída do quarto, Luke pega a minha mão e me leva para o quarto dele.

Ele se senta na cama e, com as mãos em minha cintura, me coloca sentada em seu colo.

— Enfim sós — ele brinca.

— Pois é! — exclamo indignada, pois desde que voltamos a namorar, não tivemos um momento só nosso.

Ele fica sério de repente e me olha nos olhos.

— Eu não teria suportado metade de tudo isso sem você — Luke acaricia minha bochecha com o polegar. — Você é uma mulher incrível — ele une nossos lábios brevemente e volta a me olhar. — Está na hora de ser recompensada.

— A única recompensa que eu aceito é você — beijo os lábios dele.

Luke me devolve o beijo. Devolvo o beijo devolvido. Ele devolve de novo, até que vira um beijo de verdade.

— E se eu disser que estou incluso na recompensa? — ele murmura no meio do beijo.

A curiosidade me atiça e eu separo nossos lábios para encará-lo.

— Que recompensa seria essa? — envolvo o pescoço dele com os braços.

— Você passou metade das férias cuidado de mim — ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. — Nada mais justo que eu cuidar de você na outra metade.

Lanço-lhe um olhar desconfiado.

— O que está tramando?

Ele apenas abre um sorriso suspeito e nada diz.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora