58 - Enciumar

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Os momentos mágicos nos trilhos do vagão com o meu Luke me fazem suspirar durante todo o caminho de volta no carro.

Enquanto ele dirige, trocamos olhares apaixonados. Luke entrelaça nossos dedos e beija o dorso da minha mão. Sorrio feito boba e repouso a cabeça no ombro dele.

Estou tão feliz de ter Luke de volta que já decidi que não vou agir como se estivesse magoada pelo sumiço dele. Vou apenas aproveitar o reconforto de sua companhia.

Uma vez em casa, descubro que o preço do suborno sou eu. Minha mãe ajudou Luke a invadir meu quarto às cinco horas para, em troca, me ter no café da manhã.

Me sinto mal por isso, mas digo a mim mesma que o distanciamento com os meus pais é justificável, por conta da rotina de faculdade e trabalho.

Luke toma café da manhã conosco e parece um momento perfeito, até meu pai comentar:

— É impressionante como a nossa garotinha preguiçosa consegue estar de pé a essa hora, tendo ficado até de madrugada fazendo trabalhos de faculdade. Que orgulho!

Luke olha para mim imediatamente, mas nada diz.

Assim que entramos no carro, a caminho da faculdade, Luke pergunta:

— Vocês ficaram fazendo o trabalho até de madrugada?

— Sim, tinha muita coisa para fazer.

Um vinco se forma entre suas sobrancelhas.

— Achei que Julia estaria com vocês. Não imaginei que você teria que ficar até tão tarde trabalhando com ele — o tom de voz de Luke deixa nítida a sua insatisfação. — Por que não me avisou?

Franzo a testa.

— Por que não avisei o quê?

— Que vocês iriam fazer o trabalho sozinhos — ele faz uma pausa, parecendo recalcular a fala. — Não foi nada justo com você, trabalhar até de madrugada.

— Não tem problema, Adrian fez todos os cálculos. Sabia que o pai dele é engenheiro? Ele até revisou nosso trabalho e deu nota dez — conto, empolgada.

— Seu pai foi te buscar? — A expressão facial de Luke está muito séria. O vinco entre as sobrancelhas permanece.

— Não, Adrian me levou em casa.

Ele fica em silêncio.

No estacionamento da faculdade, assim que saio do veículo, vejo Adrian saindo de seu carro vermelho do outro lado.

Ele olha diretamente para mim.

Aceno para ele, sorrindo, e ele sorri de volta. Minha intenção era ir até ele, mas sou impedida de prosseguir quando o braço de Luke envolve meus ombros, me guiando na direção do prédio.

No corredor da sala de aula, escuto os gritos estridentes de Julia.

— Luke! — ela berra, pulando nos braços dele.

Meu coração acelera. Meu sangue ferve.

— Você voltou! Senti sua falta! — ela o agarra com força, mas a mão de Luke ainda segura a minha.

— Solta o meu namorado — minha voz soa tão dura que causa estranhamento até em mim mesma.

Os olhos de Luke buscam pelos meus.

Julia se afasta para me olhar.

— Ah, oi, Grazy! Você é tão baixinha, não vi você aí — ela me abraça, sorrindo largamente.

Solto a mão de Luke para afastá-la com as duas mãos.

— Assim como não me viu a semana inteira? — minha voz continua ríspida.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora