Ao encarar meu reflexo no espelho, sinto pena de mim mesma. Longos minutos escondida na cabine do banheiro feminino, tentando abafar o choro, fizeram o meu rosto ficar completamente vermelho.
Esse sentimento de pena me incomoda profundamente. Não posso deixar que Julia me destrua assim. Não posso permitir isso. A vida é minha e eu não vou deixar aquela traidora, falsa e interesseira me colocar para baixo desse jeito.
Se ao menos Lia estivesse comigo, eu saberia o que fazer para colocar Julia no lugar dela.
Enfio o rosto embaixo da torneira mais uma vez, desejando que a água fria refresque minha mente e me dê alguma plenitude para encarar essa situação.
O que Lia faria no meu lugar?
Essa é fácil, Lia arrastaria Julia pelos cabelos e a jogaria na caçamba de lixo.
A pergunta certa é: o que Lia me diria para fazer?
Desligo a torneira e pego algumas folhas de papel toalha para secar o rosto.
Eu sei o que Lia me diria para não fazer. Ela me proibiria de me esconder, pois assim Julia estaria vencendo.
Lia berraria que eu não posso demonstrar abalo emocional e deixar Julia perceber o quanto seus golpes me machucam, pois aí ela veria imediatamente sua vitória sobre mim.
Lia definitivamente me proibiria de chorar no banheiro enquanto eu deveria estar me preparando para a prova, pois se eu perder na matéria, Julia será vencedora não só porque irei ficar para trás sem poder pegar matérias junto com Luke, mas também pelo prejuízo acadêmico.
Então já sei o que Lia me diria para fazer: passar um gloss na boca, sair desse banheiro de cabeça erguida e ir estudar para a prova.
Obrigada, Lia, você é demais, agradeço à Lia que está dentro da minha cabeça.
Depois de passar o gloss, percebo que ainda estou com o rosto de choro, por isso pego uma máscara de cílios de dentro da nécessaire e passo também. Satisfeita com o resultado, levanto a cabeça e corrijo a postura.
Assim que entro no elevador e aperto o botão para o terceiro andar, o da biblioteca, meu celular vibra. Pego o aparelho e vejo que é uma mensagem de Luke:
"Me perdoa por ter te segurado com força. Você está machucada? Eu ainda não consigo entender o que aconteceu. Eu te segurei porque fiquei assustado, frustrado e confuso. Não era minha intenção te machucar."
A culpa me atinge em cheio. Luke não estava me apertando com força, muito menos me machucou. Eu só disse aquilo porque sabia que ele iria me soltar, mas agora ele está se martirizando por acreditar que me machucou fisicamente.
Será que ele não percebe que os machucados que ele está fazendo em mim são emocionais e não físicos?
Eu não queria desculpas por isso, queria desculpas por ele continuar perto de Julia mesmo depois de eu ter dito que ela está interessada nele. Será que ele não enxerga o quanto isso me magoa?
Eu absolutamente evitei contato com Adrian depois de saber que Luke sente ciúmes dele, pois nosso relacionamento é prioridade e não quero miná-lo causando sentimentos ruins no meu namorado. Esperava que Luke fizesse o mesmo por mim.
O elevador se abre e saio ainda com a mensagem de Luke aberta, pensando no que responder.
Assim que coloco os pés na entrada da biblioteca, o silêncio do local acalenta meus ouvidos e traz conforto para a agitação dos meus pensamentos.
A biblioteca é tão grande que toma conta de todo o terceiro andar. De um lado, há mesas dispostas por um amplo salão, onde vejo muitos dos meus colegas reunidos estudando. Do outro lado, há corredores infinitos de livros. Não há dúvidas de qual lado escolher. Mesmo que o lado de livros não tenha mesas, sempre prefiro estudar nele, pois pouquíssimas pessoas gostam de estudar sentadas no chão da biblioteca como eu.
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O garoto dos olhos avelã
Teen FictionGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...