61 - Ceder

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Nunca achei que esse dia chegaria. Eu acreditava absolutamente no amor de Luke. E conhecia bem demais o meu amor por ele. Então era impossível algum de nós colocar fim ao relacionamento. Acreditava cegamente que a única coisa que poderia nos separar era a morte.

Mas eu estava errada.

Com a queda das lágrimas, minha visão se desbloqueia parcialmente e consigo enxergar como os olhos de Luke estão petrificados. Seu rosto está cheio de espanto, como se tivesse acabado de levar um susto.

A sensação de irrealidade me faz duvidar se estou acordada ou no meio de um pesadelo horrível.

Real ou não, eu preciso sair da frente dessa pessoa cruel, ele não merece ver o meu sofrimento.

Desvio os olhos dos dele e saio depressa, quase correndo, cobrindo a boca com a mão em uma tentativa de reprimir o choro.

A cada passo que dou me afastando dele, o buraco em meu peito vai conquistando território.

Chego na entrada do prédio com passos errantes que buscam cegamente por uma cabine de banheiro, onde poderei chorar.

Então um pensamento me ocorre: isso é apenas um pesadelo.

Estou tendo um daqueles sonhos vívidos, é isso, é apenas isso. Enterro as duas mãos nos cabelos e fecho os olhos com força. Tenho que acordar agora. Já chega desse pesadelo. Acorda! Acorda! Acorda!

— Grazy?

Abro os olhos e me deparo com Adrian andando apressado em minha direção.

— Você está bem? — pergunta, estendendo os braços como se fosse amparar a queda de algo.

Percebo que não há mais forças em minhas pernas e vejo seus braços como a sustentação que preciso para não cair, por isso deixo meu corpo ir ao encontro deles.

— Grazy, alguém fez alguma coisa com você? — Adrian me abraça de forma protetora.

Aperto ele com muita força, de forma necessitada, em uma tentativa de amenizar a dor que dilacera o meu coração e a minha mente.

— Por favor, me diz que é só um pesadelo, Adrian. Me faz acordar, por favor — sussurro com a voz falha.

Adrian me aperta e coloca uma mão atrás da minha cabeça, acariciando de leve.

— Vai ficar tudo bem — assegura, escondendo-me em seu abraço.

O buraco no meu peito já conquistou tanto espaço que virou um buraco negro maciço, sugando tudo em volta, consumindo o meu organismo de dentro para fora.

Chego à conclusão de que a dor é intensa demais para que seja um pesadelo, pois meu cérebro já teria me acordado para fazer a dor cessar.

É nesse momento que eu cedo em um choro desesperado, com soluços.

Acabou.

Ouço o som das cortinas sendo arrastadas nos trilhos e imediatamente a claridade acerta minhas pálpebras, fazendo meus olhos se abrirem.

Olho na direção da claridade intrusiva e vejo minha mãe. Ela solta a cortina e vem em minha direção.

— Já se passaram os seus 'mais dez minutos' — diz, se sentando na beirada da minha cama.

— Só mais dez, mãe — cubro a cabeça com o cobertor.

— Você vai passar o dia inteiro pedindo mais dez minutos? Já são duas horas da tarde, querida.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora