63 - Aproximar

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Entre as prateleiras de livros, sinto o peso de cada olhar furtivo de Luke, enquanto tento me concentrar em minha tarefa.

Nossos olhares se encontram ocasionalmente, mas evito prolongar o contato visual, me mantendo imersa na organização dos livros como uma tentativa de criar uma barreira invisível.

Ele poderia estar organizando livros em qualquer outra estante, mas está bem ali, do outro lado, seguindo na mesma direção que eu.

Em certo momento, escuto os passos dele seguirem pelo corredor e em seguida ele aparece no meu corredor, mexendo nos livros. Ele vem se aproximando devagar, enquanto retira um livro da prateleira e o coloca em outro lugar.

— Como ficou seu trabalho na livraria? — pergunta em um tom gentil e cauteloso, como se estivesse tentando alguma abertura.

Pensar na livraria me deixa triste. Precisei ser forte na hora de explicar para Suzane, a minha chefe, que não poderia mais trabalhar com ela por causa das horas de estágio que terei que cumprir.

Foi muito doloroso. Eu realmente amava trabalhar na livraria e me dava muito bem com Suzane. Ela também ficou sentida, pois apreciava meu cuidado com os livros, minha preocupação em sempre organizar a vitrine de uma forma que atraísse leitores, minha paixão ao ajudar alguém a escolher um livro, e o jeito como eu fazia as pessoas levarem mais livros do que pretendiam ao falar deles com tanto entusiasmo que deixava os clientes curiosos.

Por isso ela disse que vai segurar a minha vaga até eu concluir o estágio e eu fiquei grata pela compreensão, mas sei que ela não pode aguentar por muito tempo.

Trabalhando na livraria eu vivia cercada de universos que eram as histórias guardadas em cada livro de ficção, mas, na biblioteca da universidade, terei que conviver com outros tipos de sensações, como a de lutar para segurar as lágrimas perto do causador delas.

E ele está bem ali, olhando para mim, tentando puxar conversa, como se não tivesse partido meu coração dizendo que sou infantil, imatura, dramática e ameaçado terminar comigo.

— Não quero falar sobre isso — respondo em um tom neutro e continuo minha tarefa.

Luke assente, parecendo aceitar a resposta.

Hoje é terça-feira, mais conhecida como primeiro dia estágio na biblioteca com meu... ex-namorado.

Luke tentou interagir comigo mais cedo, na aula, e eu me esquivei.

Na última aula ele perguntou se eu queria ir almoçar com ele no shopping perto da faculdade e eu neguei. Me doeu negar, pois eu passei dias ansiando passar um tempo com ele e agora que ele pode, quem não pode sou eu, já que não há chances de eu conseguir olhar nos olhos dele por mais de um minuto sem chorar por recordar de como ele foi cruel comigo.

Quando chegamos na biblioteca, uma funcionária da universidade nos entregou crachás de pescoço escrito "estagiário", e explicou as tarefas que deveríamos realizar, como organizar prateleiras, catalogar livros, organizar o acervo digital e auxiliar os alunos nos empréstimos.

Acho que Luke percebeu o meu desconforto com a ideia de trabalhar com ele e não ficou insistindo em conversar sobre a gente, como eu temia que ele fizesse.

Fico grata por ele respeitar meu espaço e não ficar forçando falar sobre aquele dia, pois eu realmente não tem condições de falar daquilo sem sucumbir ao choro.

Luke passa o resto da tarde tentando se aproximar, mas parece também ter medo de forçar a barra, então o clima é carregado de tensão.

Na hora de ir embora, ele me oferece carona e eu nego. Quero que ele pare de me fazer sofrer por negar coisas para ele, mas não vou falar isso, porque quero que ele continue tentando.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora