Mal coloco a cabeça no travesseiro para tirar uma bela soneca da tarde e já recebo uma mensagem que me faz arregalar os olhos:
"Tô no Uber, daqui a pouco chego aí"
Bato a mão na testa. Esqueci de ligar para Lia e avisar que não existe prova de física alguma.
De qualquer forma, é melhor conversar sobre isso pessoalmente pois, para que ela não me odeie por ter lhe causado pânico à atoa, vou precisar explicar por que fiquei tão nervosa a ponto de acabar soltando uma mentira naquele momento.
Isso inclui contar que quebrei nosso mindinho, quando jurei para ela que não iria questionar Luke sobre a história dele com Natan.
Tenho medo de como Lia vai reagir a um desrespeito ao mindinho. Na verdade, tenho certeza de que ela vai achar que não presto, que sou uma desclassificada.
Mas vou ser sincera com ela. Depois, vou deixar que me xingue e jogue na minha cara que estava certa.
Em cerca de dez minutos, ouço a campainha e desço apreensiva. No meio dos degraus, sinto cheiro de pipoca. Bato a mão na testa.
Esqueci de avisar para minha mãe que hoje não vamos assistir ao filme combinado com Luke, pois Lia e eu vamos "estudar" e ele não vai aparecer.
Bom, talvez possamos assistir ao filme com Lia. Isso! Vai ser a tarde das garotas.
Aliás, Lia pode dormir aqui e fazemos a noite das garotas, já que meu pai está em viagem de trabalho.
As coisas simplesmente se encaixaram!
Ao abrir a porta, dou de cara com o olhar urgente de Lia. Ela nem me espera convidar para entrar, já vai passando de vez.
— Sai da frente, Grazy! Não tá vendo o tanto de livro pesado que tô carregando?!
Ela atravessa a sala com pressa e, ao chegar no tapete, larga tudo no chão. Depois se larga também, com cara de exausta.
— Você não veio de Uber? Que sofrimento todo é esse? — Vou até ela e me sento à sua frente.
— Experimenta carregar esse tanto de livro sozinha — ela pega o livro mais grosso e joga em meus braços.
Quase caio para trás com o peso.
— Meu Deus! Tira isso daqui — jogo o livro grosso para chão e suspeito que tenha partido o piso embaixo do tapete. — Lia, olha... não vamos precisar desses livros.
— Se toca, Grazy, é física, a matéria do cão.
'Cão' caí bem, pois o professor de física é um carrasco malvado.
Respiro fundo, me preparando para dar a notícia de que ela carregou tanto peso em vão. Quando abro a boca, a campainha toca.
Será que Lia chamou outros colegas para estudar com a gente?
Tem umas meninas legais que sempre fazem trabalho de equipe conosco. Até criamos um grupo de Whatsapp com elas. E tem alguns meninos legais também, que sempre interagem com nós duas na sala e até já se sentaram conosco no intervalo. Lia pode ter chamado todos esses colegas.
Oh, não. Como vou dizer para todo mundo que não tem prova alguma? Todos vão me odiar.
Na verdade, eles têm é que me agradecer por dar uma notícia tão maravilhosa de que não vai ter prova. Eles vão ficar felizes por não terem mais que estudar.
Assim que abro a porta, me deparo com algo que faz minha expressão de aflição se transformar em uma de boba apaixonada.
O rosto dele está extremamente sério, contrastando com o que tem na mão. Eu amo quando ele me olha sério assim ao fazer qualquer gesto romântico, cria um contraponto espetacular.
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O garoto dos olhos avelã
أدب المراهقينGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...