Luke pisca lentamente. Aos poucos, seus olhos focam em mim. Os olhos claros, confusos, buscam respostas em meu rosto. A maneira como eles piscam, o olhar perdido, é como se Luke estivesse estranhando algo em meu rosto. É como se não...
— Onde estou? O que aconteceu? — ele pergunta, a voz baixa e cheia de incerteza.
...como se não conhecesse o meu rosto.
— Você está no hospital. Sofreu um acidente de carro, mas agora está tudo bem. — Aperto a mão dele com força, sentindo as lágrimas ameaçarem cair.
Luke perdeu a memória. Ele nem sabe quem sou eu.
Ele se senta na cama e olha ao redor, tentando entender a situação.
Não consigo soltar a mão dele por nada no mundo, mesmo que ele não entenda por que uma desconhecida está segurando sua mão com tanta força.
— Eu... lembro de uma batida... de um caminhão... — ele murmura, os olhos cheios de confusão.
Eu fiz Luke perder a memória. Nunca vou me perdoar por isso.
— Você avançou o sinal vermelho e não deu tempo de passar. Mas a batida foi do lado do passageiro, então não atingiu você diretamente. — Tento manter a voz calma e reconfortante, mas estou destroçada por dentro.
O olhar dele vaga para o nada, desorientado. Há tanta confusão no rosto de Luke. Não estou preparada para ouvi-lo perguntar quem sou eu. Não tenho ideia do que vou responder.
— Eu não avancei... eu tentei frear, mas estava rápido demais... o freio não deu conta — ele franze as sobrancelhas e, dois segundos depois, olha para mim. — Por que eu estava dirigindo tão rápido? Você se machucou, Grazy? — Luke aperta a minha mão.
Meu coração dispara. Luke se lembra de mim.
A vontade que tenho é de pular nos braços dele, mas sei que preciso ter o máximo de cuidado nesse momento.
— Eu não estava com você... — digo cautelosamente.
Luke fica em silêncio por um momento, tentando juntar as peças em sua mente. Então, de repente, uma expressão de sofrimento e decepção cruza seu rosto.
Luke solta a minha mão.
Ele se lembrou da cena que o fez disparar em alta velocidade. Se lembrou de ter visto sua namorada beijando outra pessoa. A pessoa que ele mais odeia no mundo.
O rosto dele se enche de dor, mas não parece ser dor física.
— Por que fez aquilo? — a voz dele está cheia de amargura.
— Luke...
— Por favor, me faz entender o porquê, pois não está fazendo o menor sentido.
— Eu jamais trairia você...
— Eu vi vocês se beijando — Luke fecha os olhos por um segundo, o rosto se contraindo com a imagem que deve estar passando em sua mente.
— Eu nunca beijaria aquele ridículo! Eu nunca faria isso com você, Luke! — Sinto uma urgência que me causa dificuldade em respirar e paro um momento para tomar fôlego. — Deixa eu te explicar.... Pode ao menos me ouvir e tentar acreditar em mim?
Luke faz um gesto afirmativo, seus olhos ainda cheios de desgosto, mas atentos.
— Eu demorei de sair da sala porque estava envergonhada, não tinha coragem de encarar você depois de ter sido uma estúpida. Quando saí do prédio ele estava lá. Nem pensei duas vezes, apenas corri em desespero. Ele correu atrás de mim e me segurou. Tentou fazer o teatrinho de novo e eu o confrontei. Então ele ficou furioso, pareceu que ia partir para cima de mim. Fiquei apavorada, não tinha ninguém por perto para me socorrer. Aí eu vi você e fiquei aliviada. Mas ele te viu também e disse que, já que você tirou Mila dele, ele ia me tirar de você. Quando ouvi isso, achei que ele fosse me matar. Ele avançou para cima de mim e eu apertei os olhos esperando um golpe físico. Aí ele... me beijou à força.
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O garoto dos olhos avelã
Teen FictionGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...