Meu coração está acelerado e isso faz sentido, por causa da adrenalina das cócegas. Mas não encontro sentido no fato de o coração de Adrian estar agitado também.
Os olhos dele estão fixos na minha boca e só consigo pensar em uma coisa: Adrian vai me beijar.
Sinto o meu rosto pegar fogo com esse pensamento. Isso não pode acontecer. Não podemos nos beijar, somos amigos. E a minha boca é de Luke.
O rosto de Adrian está muito sério, o que me deixa ainda mais confusa.
Pisco os olhos, atordoada, e é entre uma piscada e outra que sinto a mão de Adrian deslizar o meu cabelo para frente, do jeito pirracento que ele adora fazer para bagunçar meu cabelo.
— Ei! — reclamo com a visão comprometida pelos fios.
Enquanto tento tirar o cabelo do rosto, Adrian se levanta.
Quando consigo ver seu rosto novamente, não há mais vestígios daquela seriedade de poucos segundos atrás. Há apenas uma divertida expressão de menino travesso.
— Vou fazer a pipoca, sua preguiçosa — diz sorrindo. — Mas não vai se acostumar, hein? Da próxima vez é você.
O sorriso tranquilo no rosto dele me faz ter certeza de que tudo não passou de uma confusão em minha cabeça. Eu estava apenas imaginando coisas. É claro que ele não ia me beijar.
— Vê se não queima a pipoca — consigo dizer, com a voz baixa, ainda meio atordoada com a minha confusão.
— Deixa com o chefe aqui — ele pisca para mim e segue em direção à porta.
Mesmo depois que a porta se fecha atrás dele, fico por algum tempo deitada, olhando para o teto e tentando entender por que estou me sentindo estranha.
Debaixo do chuveiro, deixo a água quente cair sobre mim, tentando afastar os pensamentos confusos que se misturam em minha mente.
A sensação de que um beijo ia acontecer permanece e sinto o calor tomar conta do meu rosto.
Enquanto a água escorre, tento analisar racionalmente a situação.
Adrian caiu em cima de mim acidentalmente e ficamos próximos. Ele olhou para a minha boca porque eu estava perto demais e não tinha muito para onde olhar. E o coração dele estava acelerado pela adrenalina da queda.
E foi só isso.
Ao sair do banho enrolada na toalha, sinto cheiro de pipoca. Visto algo largo e confortável e desço. Encontro Adrian no sofá comendo pipoca enquanto passa o catálogo de filmes na televisão.
Ele tem vindo muito à minha casa e já se sente à vontade, principalmente porque meus pais gostam a presença dele. Minha mãe diz que Adrian me faz bem e sei que é novamente sua preocupação com a minha saúde mental falando.
Me sento ao lado dele no sofá.
— Pensei que você tinha descido pelo ralo no banho — brinca, estendendo o balde de pipoca para mim.
— Estava refletindo sobre a vida. Você sabe como é, existencialismo no chuveiro — enfio a mão na pipoca e coloco na boca.
Enquanto ele vai sugerindo títulos de filmes, me esforço para não demonstrar o motivo de eu rejeitar cada um deles: já os assisti com Luke.
É difícil encontrar um título interessante que Luke e eu não assistimos juntos.
Por isso mesmo é que acabamos escolhendo um filme cult chato que serve mais para deboche quando Adrian e eu nos fingimos de cinéfilos e criticamos tudo. Os comentários engraçados de Adrian me fazem usar minha gargalhada esquisita que ele estranhamente adora escutar.
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O garoto dos olhos avelã
Teen FictionGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...