64 - Desconectar

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Meu coração está acelerado e isso faz sentido, por causa da adrenalina das cócegas. Mas não encontro sentido no fato de o coração de Adrian estar agitado também.

Os olhos dele estão fixos na minha boca e só consigo pensar em uma coisa: Adrian vai me beijar.

Sinto o meu rosto pegar fogo com esse pensamento. Isso não pode acontecer. Não podemos nos beijar, somos amigos. E a minha boca é de Luke.

O rosto de Adrian está muito sério, o que me deixa ainda mais confusa.

Pisco os olhos, atordoada, e é entre uma piscada e outra que sinto a mão de Adrian deslizar o meu cabelo para frente, do jeito pirracento que ele adora fazer para bagunçar meu cabelo.

— Ei! — reclamo com a visão comprometida pelos fios.

Enquanto tento tirar o cabelo do rosto, Adrian se levanta.

Quando consigo ver seu rosto novamente, não há mais vestígios daquela seriedade de poucos segundos atrás. Há apenas uma divertida expressão de menino travesso.

— Vou fazer a pipoca, sua preguiçosa — diz sorrindo. — Mas não vai se acostumar, hein? Da próxima vez é você.

O sorriso tranquilo no rosto dele me faz ter certeza de que tudo não passou de uma confusão em minha cabeça. Eu estava apenas imaginando coisas. É claro que ele não ia me beijar.

— Vê se não queima a pipoca — consigo dizer, com a voz baixa, ainda meio atordoada com a minha confusão.

— Deixa com o chefe aqui — ele pisca para mim e segue em direção à porta.

Mesmo depois que a porta se fecha atrás dele, fico por algum tempo deitada, olhando para o teto e tentando entender por que estou me sentindo estranha.

Debaixo do chuveiro, deixo a água quente cair sobre mim, tentando afastar os pensamentos confusos que se misturam em minha mente.

A sensação de que um beijo ia acontecer permanece e sinto o calor tomar conta do meu rosto.

Enquanto a água escorre, tento analisar racionalmente a situação.

Adrian caiu em cima de mim acidentalmente e ficamos próximos. Ele olhou para a minha boca porque eu estava perto demais e não tinha muito para onde olhar. E o coração dele estava acelerado pela adrenalina da queda.

E foi só isso.

Ao sair do banho enrolada na toalha, sinto cheiro de pipoca. Visto algo largo e confortável e desço. Encontro Adrian no sofá comendo pipoca enquanto passa o catálogo de filmes na televisão.

Ele tem vindo muito à minha casa e já se sente à vontade, principalmente porque meus pais gostam a presença dele. Minha mãe diz que Adrian me faz bem e sei que é novamente sua preocupação com a minha saúde mental falando.

Me sento ao lado dele no sofá.

— Pensei que você tinha descido pelo ralo no banho — brinca, estendendo o balde de pipoca para mim.

— Estava refletindo sobre a vida. Você sabe como é, existencialismo no chuveiro — enfio a mão na pipoca e coloco na boca.

Enquanto ele vai sugerindo títulos de filmes, me esforço para não demonstrar o motivo de eu rejeitar cada um deles: já os assisti com Luke.

É difícil encontrar um título interessante que Luke e eu não assistimos juntos.

Por isso mesmo é que acabamos escolhendo um filme cult chato que serve mais para deboche quando Adrian e eu nos fingimos de cinéfilos e criticamos tudo. Os comentários engraçados de Adrian me fazem usar minha gargalhada esquisita que ele estranhamente adora escutar.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora