Tento me esforçar para continuar dormindo, mas algo dentro de mim se agita antes mesmo de o sol nascer.
As palavras de Julia ecoam em minha cabeça.
O pedido de Mila aperta meu peito.
O conselho de Lia pulsa meus instintos.
Mas a voz mais alta de todas é a do meu coração, que grita para que eu vá atrás de Luke.
Por mais que eu soubesse que Julia estava certa ao dizer que Luke não sumiu da faculdade por minha causa e que algo está acontecendo; por mais que eu tivesse prometido à Mila que cuidaria do irmão dela; e por mais que eu concordasse com Lia sobre Luke merecer todas as chances do mundo, eu ainda estava muito machucada para conseguir ir atrás dele.
Só que passar a noite encontrando ele em sonhos, que mais pareciam lembranças de momentos felizes que vivemos, me fez recordar de tudo de bom que Luke já fez por mim. Cada gesto de amor, cada palavra gentil, cada carinho, cada ação de cuidado, todos os sentimentos bons que ele se dedicou a me proporcionar.
Luke sempre foi muito amável comigo. Não é do feitio dele ser grosseiro, rude e nem frio. Luke nunca foi assim. Ele sempre me tratou bem, sempre muito respeitoso.
Não há justificativas para a forma como ele agiu, mas certamente há uma explicação.
E eu mereço essa explicação. Então vou exigi-la dele.
Em seguida, vou fazer a coisa que mais quero no mundo: me jogar em seus braços.
É por isso que, depois de uma hora revirando na cama, observando os raios solares atravessarem as cortinas, me levanto, tomo um longo banho quente e paro na frente do armário para escolher algo.
Minha mãe aparece no meio do meu troca-troca de roupas me chamando para tomar café da manhã. Mas acho que ela percebe como estou eufórica demais para me sentar à mesa do café e acaba não insistindo.
Quando ela volta para informar que já está saindo para o trabalho junto com meu pai, eu ainda estou experimentando roupas.
Finalmente encontro algo que me agrade.
No espelho, fico satisfeita com o reflexo, pois sei que Luke gosta de me ver com esse vestido.
A parte de cima é branca e se ajusta ao corpo. Da cintura para baixo é rodado, onde uma estampa de pequenas flores azuis se espalham.
Aliso o vestido encarando o espelho e percebo que está faltando uma coisa. Como se estivessem incompleto.
Sei bem o que é, por isso vou até a penteadeira e me sento. Antes de abrir a gaveta, porém, um aperto no peito me faz hesitar.
Talvez seja tarde.
Luke não me deu nenhum sinal, nem ao menos uma mensagem. Claro que fui eu quem mandei ele desaparecer e não me procurar nunca mais, mas ele não desaparecia de verdade se achasse que o nosso amor vale à pena.
Ele não teria desistido tão facilmente se isso importasse para ele. Talvez ele tenha superado o sentimento. Deve ter concluído que não vale à pena.
Provavelmente quando ele disse que não me queria mais, estava falando sério.
Meus ombros se curvam e já não me sinto mais tão determinada. Não sei se aguentaria ser rejeitada por Luke ao ir atrás dele.
Abro a gaveta desanimada e retiro a caixinha de joias.
Quando meus olhos veem o objeto fino de cor prateada, as lágrimas ameaçam brotar.
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O garoto dos olhos avelã
JugendliteraturGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...