46 - Desmoronando

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Luke

Primeiro, vou ter que aprender espanhol (por que meus pais me enfiaram naquele curso de inglês aos sete anos e não em um de espanhol?!)

Segundo, vou precisar tirar passaporte (por que eu já não tenho um? Afinal, tem que se estar preparado para o caso de a sua namorada, sei lá, ir para outro continente DO NADA.)

Terceiro, ela acha mesmo que pode entrar em minha vida, me fazer ficar apaixonado feito um cachorro louco, e depois simplesmente ir embora? Ela que me aguarde.

— Luke, cadê minha parceira de xadrez? — pergunta meu pai do sofá, quando passo pela sala, entrando em casa. — Temos uma partida marcada.

Como vou contar que mais uma parceira de xadrez dele foi embora?

Primeiro Mila, agora Grazy.

Só que Mila está em uma cidade próxima, é fácil vê-la novamente. Já Grazy... foi para outro país.

É melhor desconversar, pois não há a menor condição de que eu falar disso agora, cerca de meia hora depois que a mulher que eu amo foi embora.

— O alzheimer chegou cedo, pai. Preciso te lembrar que Mila não mora mais aqui? — Me encaminho para as escadas, em busca de um lugar para poder ceder.

Quando o taxi saiu, levando Grazy para longe da minha vida, não consegui sair do lugar. Era muito difícil de acreditar. Então fiquei lá, sentado na calçada da casa que não é mais dela, feito um imbecil, esperando ela dar meia volta e correr para mim. Mas isso não aconteceu e nem vai acontecer.

Quando caiu a ficha, ficou só o vazio dentro de mim e uma única certeza: preciso ir atrás dela o quanto antes.

— Tá engraçadinho, né? Se Grazy não aparecer, vou ter que humilhar outra pessoa nessa partida e só tem você aqui.

Grazy não vai aparecer. Ela foi embora.

Quando estou no meio das escadas, a campainha toca.

— Olha só, acho que minha oponente chegou. Atende lá, Luke — diz ele, como se estivesse muito ocupado fazendo algo importante, mas está é passando os canais da televisão aleatoriamente.

Penso em ignorar, pois não quero ver a cara de ninguém, muito menos ser educado com quem quer que seja o diabo que está tocando a campainha com tanta insistência.

Eu preciso urgentemente de um lugar para desmoronar em paz. Graziella foi embora.

Dói mais do que o meu cérebro consegue entender e suportar.

Respiro fundo e desço as escadas, me esforçando para manter toda essa força de dor e sentimentos esmagadores em um canto oculto da minha mente.

Ao abrir a porta, tenho a impressão de que estou ficando maluco.

O que ele faz aqui?

— Luke — diz meio afobado. — Você por acaso tem alguma noção de onde estão a minha mulher e a minha filha?

Acho que pirei mesmo.

— Elas foram atrás de você!

Ele arregala os olhos e o rosto se enche de pânico.

— Como assim atrás de mim?! Eu voltei por elas!

Isso não pode ser real.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora