Luke
Primeiro, vou ter que aprender espanhol (por que meus pais me enfiaram naquele curso de inglês aos sete anos e não em um de espanhol?!)
Segundo, vou precisar tirar passaporte (por que eu já não tenho um? Afinal, tem que se estar preparado para o caso de a sua namorada, sei lá, ir para outro continente DO NADA.)
Terceiro, ela acha mesmo que pode entrar em minha vida, me fazer ficar apaixonado feito um cachorro louco, e depois simplesmente ir embora? Ela que me aguarde.
— Luke, cadê minha parceira de xadrez? — pergunta meu pai do sofá, quando passo pela sala, entrando em casa. — Temos uma partida marcada.
Como vou contar que mais uma parceira de xadrez dele foi embora?
Primeiro Mila, agora Grazy.
Só que Mila está em uma cidade próxima, é fácil vê-la novamente. Já Grazy... foi para outro país.
É melhor desconversar, pois não há a menor condição de que eu falar disso agora, cerca de meia hora depois que a mulher que eu amo foi embora.
— O alzheimer chegou cedo, pai. Preciso te lembrar que Mila não mora mais aqui? — Me encaminho para as escadas, em busca de um lugar para poder ceder.
Quando o taxi saiu, levando Grazy para longe da minha vida, não consegui sair do lugar. Era muito difícil de acreditar. Então fiquei lá, sentado na calçada da casa que não é mais dela, feito um imbecil, esperando ela dar meia volta e correr para mim. Mas isso não aconteceu e nem vai acontecer.
Quando caiu a ficha, ficou só o vazio dentro de mim e uma única certeza: preciso ir atrás dela o quanto antes.
— Tá engraçadinho, né? Se Grazy não aparecer, vou ter que humilhar outra pessoa nessa partida e só tem você aqui.
Grazy não vai aparecer. Ela foi embora.
Quando estou no meio das escadas, a campainha toca.
— Olha só, acho que minha oponente chegou. Atende lá, Luke — diz ele, como se estivesse muito ocupado fazendo algo importante, mas está é passando os canais da televisão aleatoriamente.
Penso em ignorar, pois não quero ver a cara de ninguém, muito menos ser educado com quem quer que seja o diabo que está tocando a campainha com tanta insistência.
Eu preciso urgentemente de um lugar para desmoronar em paz. Graziella foi embora.
Dói mais do que o meu cérebro consegue entender e suportar.
Respiro fundo e desço as escadas, me esforçando para manter toda essa força de dor e sentimentos esmagadores em um canto oculto da minha mente.
Ao abrir a porta, tenho a impressão de que estou ficando maluco.
O que ele faz aqui?
— Luke — diz meio afobado. — Você por acaso tem alguma noção de onde estão a minha mulher e a minha filha?
Acho que pirei mesmo.
— Elas foram atrás de você!
Ele arregala os olhos e o rosto se enche de pânico.
— Como assim atrás de mim?! Eu voltei por elas!
Isso não pode ser real.
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O garoto dos olhos avelã
Teen FictionGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...