12 - Conectando

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O dia mal começou e minha vida já está sob ameaça.

Acontece que, na entrada da sala, estava com os olhos focados em minhas anotações de matemática e esbarrei em Lia. Pedi desculpas e corri para um assento qualquer, evitando seu olhar a todo custo.

Durante a aula de história, percebo vagamente um debate entre a professora e meus colegas, mas estou concentrada demais em revisar os cálculos que fiz com Luke ontem.

Por falar em Luke, eu o vi mais cedo no parque, mas ele não me viu porque estávamos correndo no mesmo sentido e eu estava muito atrás. Nem queria alcançá-lo mesmo.

Assim como da outra vez, fiquei estafada e colocando os órgãos para fora pelo nariz, mas isso foi aos vinte e dois minutos de corrida e não aos vinte. Um grande avanço, se você quer saber.

— Eduarda e Diego. Vanessa e Paula — a professora está fazendo a chamada em uma ordem esquisita e parece que ninguém está gostando muito, pois há uma onda de reclamações constantes.

Nem ligo, pois minha prioridade agora é revisar esses cálculos.

— Graziella e Lia.

— Presente — respondo distraída. Meio segundo depois, uma chave gira em minha cabeça.

Não é chamada. A professora está sorteando duplas para o trabalho sobre a Segunda Guerra Mundial.

Olho para o outro lado da sala, onde sei que Lia está, e a vejo virar a cabeça lentamente em minha direção, sem mover o resto do corpo.

Nossos olhos se encontram e eu tenho apenas uma certeza: vou perecer.

Assim que a última aula acaba, Lia vem até a minha mesa.

— Na minha casa. Às duas — determina e sai.

Eu na casa de Lia? Por que eu não cavo logo uma cova e me deito dentro?

Me levanto depressa e corro atrás dela. Alcanço-a no fim do corredor.

— Não. Na minha casa — digo apressadamente.

Ela se vira para mim.

— Como é?

Recuo.

— É que... minha mãe não me deixa sair de casa para nada, nadinha. Só para a escola e mesmo assim às vezes ela nem me deixa vir — minto.

Ela faz cara de quem está olhando para uma pessoa mentalmente incapacitada.

— Tá, me passa seu endereço.

Puxo o caderno da mochila, anoto na última folha e entrego o pedaço de papel para ela.

Ela recebe, se vira e continua andando.

Fecho os olhos sentindo o desespero tomar conta.

— Essa não é a cara de alguém que foi bem na prova.

Abro os olhos e encontro Luke chegando ao meu lado.

Meu humor muda instantaneamente.

— Você não vai acreditar! A maioria dos cálculos que fizemos ontem caíram na prova! Exatamente iguais! E eu revisei tanto! Acho que acertei quase tudo!

Luke ri da minha empolgação.

— Eu disse que você ia conseguir — ele levanta a mão para mim e eu bato imediatamente.

— Não conseguiria se não fosse por você. A propósito, obrigada mais uma vez.

Ele faz o gesto de continência com a mão na testa, como quem diz "às ordens".

— Quer carona para casa?

— Quero! — No segundo seguinte, percebo que saiu empolgado demais. — Quero dizer... aceito se não for incômodo.

Seguimos juntos para o estacionamento.

Em alguma rua no caminho, quando passamos de carro por Lia, afundo no banco e coloco a mão na lateral do rosto para impedir que ela me veja e atire uma pedra na janela.

Luke levanta uma sobrancelha em questionamento.

— Essa menina me odeia — explico.

— Nem imagino o motivo — ele ri.

Me endireito no assento quando o perigo fica para trás.

— Acredita que ela foi sorteada para ser minha dupla no trabalho de história? E quer fazer hoje, justo o dia que minha mãe não está em casa. Compre umas flores porque ao fim do dia você vai estar à caminho do meu enterro.

— Ah, sim, você deu a ela uma boa razão para cometer assassinato — ironiza.

— Para de zombar, tá bom?! Lia está furiosa pelo suco que derramei nela e só está esperando a oportunidade para se vingar de mim.

— Acha que ela vai fazer algo contra você?

— Eu não tenho dúvidas! Vamos ficar sozinhas em minha casa para fazer esse trabalho de história ridículo. É a desculpa perfeita para ela poder fazer algo bem ruim comigo.

— Tipo te matar usando um lápis?

Não acredito que ele está referenciando John Wick, o filme em que o protagonista mata três homens usando apenas um lápis. Garoto insensível.

Lanço-lhe um olhar furioso.

— Tipo cortar meu cabelo todo torto e tingir de roxo.

— Você assiste muita novela, não é?

— Você está achando graça, mas é assunto sério. Eu não conheço essa cidade, não conheço as pessoas, Lia pode muito bem fazer parte de uma gangue. E se eu precisar pedir ajuda, minha mãe não vai chegar a tempo.

— Acho que escuto da minha casa se você gritar por socorro — e ele continua debochando.

Mas dessa vez as palavras dele me deixam interessada.

Observo-o girar o volante para dobrar a esquina e entrar em nossa rua.

— Será que você escutaria mesmo? E se você estiver com fones de ouvido?

Luke tira os olhos da direção para me encarar com as sobrancelhas franzidas.

— Você realmente acha que está em perigo? — dessa vez ele não está caçoando da minha cara.

— Sim, Luke — é a segunda vez que falo o nome dele e já quero a terceira.

O carro para na frente da minha casa.

— Me empresta o seu celular — ele estende a mão.

— Para quê?

Ele continua com a mão estendida.

Tiro do bolso e entrego.

Luke não faz nenhum comentário sobre o meu celular da Hello Kitty e isso é pior do que se tivesse feito. Significa que para ele não é surpresa eu ter um celular assim, é o esperado.

Ele termina de digitar e me devolve.

— Pronto, agora você tem o número de alguém que pode chegar a tempo caso você peça ajuda. Basta uma mensagem e eu coloco minha capa e vou te salvar.

Sinto uma vontade involuntária de rir ao lembrar da nossa conversa da noite anterior.

— Que eu saiba o Homem-Aranha não é um herói que usa capa.

— Posso ser o herói que você precisar — ele brinca.

Não importa que seja uma brincadeira, a frase me deixa toda bagunçada.

— É... obrigada pela carona — digo nervosa e abro a porta do carro.

Enquanto percorro o caminho até a porta de casa, meus dedos apertam forte o celular em minha mão e eu só consigo pensar em uma coisa:

Eu tenho o número de Luke.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora