Luke
— Luke! — uma voz feminina grita, distante, e percebo que é minha irmã precisando de mim.
Desorientado, tento identificar a direção da voz, mas o corredor do hospital parece infinito com suas paredes pálidas querendo me engolir.
— Mila! — me desespero, gritando sem rumo. — Onde você está?
— Luke! — outra voz, agora masculina. É do meu pai. Apesar de abafada e distante, consigo identificar que vem do final do corredor.
Inicio uma corrida, mas o corredor parece se esticar, como se eu não avançasse.
Ofegante, finalmente chego ao fim do corredor. Duas portas se apresentam, uma de cada lado.
— Luke, meu filho... — a voz do meu pai vem da porta à direita.
Rapidamente me aproximo e giro a maçaneta, mas não consigo abrir.
— Pai! — forço a fechadura.
— Luke, você está aí? Me ajuda! — Mila chama da outra porta. Vou até ela, mas encontro a mesma resistência na maçaneta.
O desespero alastra-se pelo meu corpo ao ouvir o choro desesperado e convulsivo de Mila.
— Mila, estou aqui. Vai ficar tudo bem — asseguro, forçando a porta com o ombro. — Não vou deixar nada acontecer com você, ouviu?
— Luke... — uma nova voz chama. É uma voz baixa, trêmula e chorosa.
Me viro devagar e vejo Grazy. Pálida e fragilizada, ela parece menor do que o normal. Sua estatura frágil demonstra que pode cair a qualquer momento.
O instinto de protegê-la me faz seguir em sua direção, mas ela recua com um passo vacilante.
— Não! Não chega perto! — ela implora.
Confuso, encaro seu rosto sem entender a culpa que vejo em seu olhar.
— Me desculpa, Luke — ela sussurra, olhos castanhos cheios de lágrimas.
Não consigo entender, até que vejo sua mão trêmula pousar sobre o tecido do vestido, na barriga.
Só agora percebo que a barriga dela está... grande e... redonda...
— Me desculpa — ela começa a dar passos curtos para trás, com as lágrimas a inundarem seu rosto. — Estou grávida de Adrian.
— Não! — exclamo, saltando na cama abruptamente.
Meu peito sobe e desce com uma respiração bagunçada.
Esfrego as mãos com força no rosto, tentando dissipar as imagens do pesadelo.
Essa noite, como quase todas, foi assombrada por visões que parecem se agarrar à minha mente.
Depois de consultar as horas no celular, olho na direção da escrivaninha por costume. Sinto uma vontade quase incontrolável de ir até lá e levantar o porta-retratos, mas me contenho, pois se entrar nessa de olhar fotos dela agora, não vou conseguir parar nem tão cedo.
Não é à toa que acordei além do horário hoje. Isso é o que acontece quando passo a madrugada vendo fotos dela em meu celular e relendo coisas antigas que ela escreveu sobre mim no Twitter.
O chuveiro gelado é um refúgio temporário, uma vã tentativa de me livrar das imagens persistentes do pesadelo.
Desço as escadas e, ao entrar na cozinha, meu semblante pesado se confronta com o sorriso caloroso da minha mãe.
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O garoto dos olhos avelã
Roman pour AdolescentsGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...