83 - Encerrar

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A claridade do sol que atravessa as cortinas, bem como a sensação de ter dormido muito, me fazem imaginar que já não está tão cedo.

Ergo o corpo em minha cama improvisada e olho para a cama de verdade, onde Luke dorme em um sono tranquilo e profundo.

Tudo o que eu queria era dormir nos braços dele, mas eu sabia que seria errado, então, poucos minutos após ele adormecer, reuni forças para sair da cama.

Fico de pé e começo a recolher o edredom e o cobertor, mas não consigo desviar os olhos do homem lindo deitado bem ali, em minha cama, como se aquele fosse o lugar certo para ele estar.

Sua beleza prende o meu olhar enquanto enrolo os cobertores de qualquer jeito. Relutante, desvio o olhar apenas para ir até o armário guardar tudo.

Assim que termino, volto a olhá-lo imediatamente. O rosto tranquilo, os cabelos lindamente bagunçados e os lábios sérios. Tenho que me controlar para não chegar perto e tocar nele.

Luke se mexe, virando o rosto para o outro lado, e eu entro em alerta. Ele vai acordar logo e eu não sei o que vai acontecer. Como reagirá ao ver que não está em casa?

Pode ser que ele não se lembre de nada do que aconteceu ontem, mas certamente vai se lembrar que está bravo comigo e que não estamos nos falando. Vai se lembrar que me pediu para voltar para ele e eu decidi ficar mais tempo com Adrian.

Outra coisa que vai acordar com ele é uma dor de cabeça daquelas, já que ele bebeu o estoque de um bar ontem à noite.

Por isso decido ir em busca de um analgésico.

Ao chegar na cozinha, encontro minha mãe reclamando meu pai por ser distraído, enquanto ele tenta se defender.

— Não sou distraído, Cris. Tenho certeza de onde coloquei — ele fala olhando dentro do forno.

— Bom dia — digo atravessando direto para o armário.

Eles respondem em uníssono. Começo a procurar o remédio nas gavetas.

— Procura direito, Alberto — ela diz.

— Já olhei nos lugares mais improváveis desta casa — ele olha dentro do micro-ondas.

— E você, Grazy? O que tanto procura? — minha mãe pergunta atrás de mim.

— Estou procurando remédio para dor de cabeça — digo distraída.

— Está sentindo dor de cabeça? — ela pergunta com notável preocupação na voz.

— Dor de cabeça é coisa séria. Melhor ir para o hospital — meu pai diz no mesmo tom e me viro imediatamente.

— Não, estou bem. Não é para mim, é para... — arregalo os olhos ao perceber o que eu ia dizer.

Eles não podem saber que Luke está dormindo em minha cama. Eu teria que explicar tudo o que aconteceu ontem, inclusive que peguei o carro sem permissão.

Meu pai franze as sobrancelhas.

— Para quem? — minha mãe pergunta, desconfiada.

— É... é pa-para... — gaguejo, nervosa.

Considero correr para o meu quarto sem dizer nada. Mas eles achariam estranho e iriam atrás de mim.

Será que se eu disser que o remédio é para o meu urso eles vão me achar louca?

É claro que sim. Não posso dizer uma coisa dessas. Melhor dizer logo a verdade. Respiro fundo olhando de um para o outro e tomo coragem para finalmente dizer:

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora