Natan não pode estar bem ali, no assento do motorista, e não podemos ir juntos para uma festa, já que prometi para Luke que não me aproximaria dele.
Isso não pode estar acontecendo.
Desvio meu olhar do dele rapidamente.
— Oi, Grazy, o que foi? — A voz de Lia soa arrastada do outro lado da linha.
— Lia? Cadê você?! — Indago em tom de exigência.
— Eu não tô legal, não vai dar pra ir. Te mandei mensagem avisando, você não viu?
Arregalo os olhos.
— O que?! Está louca? É claro que você vai. Você tem que ir!
— Tô passando mal, sua desgraçada. Quer que eu vomite no seu vestido novinho?
Como efeito dramático, ouço o som de vômito do outro lado.
— Filha, isso parece intoxicação alimentar — a mãe de Lia comenta ao fundo. — Vou ter que levá-la para o hospital.
A reclamação de Lia soa distante do celular, dizendo que não vai a hospital nenhum.
— Lia, vai pro hospital, fica bem e me avisa, por favor — digo, mas não tenho certeza se ela escuta, pois está tossindo distante.
Encerro a chamada e envio as mesmas palavras por mensagem.
Respiro fundo e enfio o celular na bolsa. Parece que estou sozinha nessa.
•
As duas meninas ao meu lado matracam sem parar, bem como Jenifer. Mas Natan, assim como eu, permanece calado o resto do caminho.
Ao chegarmos no cinema, o bondinho está imenso, uma fila tão grande que até perco de vista.
Faço o possível para não trocar mais nenhum olhar com Natan. Por isso, ao caminharmos pelo tapete vermelho, mantenho a cabeça baixa.
Concentrada demais em manter distância de Natan, as únicas informações que consigo registar são: o tapete vermelho, a réplica da calçada da fama e a estátua de cera idêntica a Bruna.
Mesmo com a atenção comprometida, a impressão de estar entrando em um evento de celebridades é inevitável.
Vagamente ouço gritos de Bruna, que parece brigar com alguns meninos próximos à estátua dela.
As risadas e o burburinho da multidão me deixam desconfortável. Parece que a escola inteira está aqui.
Me sinto tão deslocada que acabo seguindo as meninas que vieram ao meu lado no carro. O problema é que elas estão seguindo Jenifer, que está ao lado de Natan.
Tenho a vaga impressão de ver Natan conversar com várias pessoas pelo caminho. É como se todos o conhecessem. Será que ele estudava naquela escola antes?
Aceito um balde de pipoca na entrada da sala de filmes, onde as meninas estão indo.
Ao ver os personagens de Jogos Vorazes na tela, fico animada, pois ainda está passando o primeiro filme e o meu favorito é o terceiro, então poderei ver do início.
Espero todos se acomodarem para escolher um lugar longe de Natan.
Minha animação pelo filme morre assim que percebo que ninguém está preocupado em fazer silêncio. Há conversas, risadas, mas, para a minha surpresa, não há gente se beijando.
Ao final do primeiro filme, levanto-me furtivamente, na intenção de ir embora sem que ninguém perceba.
Vou assistir o segundo e terceiro filme sim, mas na minha casa.
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O garoto dos olhos avelã
Ficção AdolescenteGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...