84 - Despedir

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Lia me aconselhou a deixar a poeira baixar antes de tentar falar com Adrian e foi por isso que aguardei uma semana inteira, apenas olhando-o de longe na faculdade.

Ela também disse que eu devia me preocupar com o fato de Luke ter desaparecido da faculdade e ter perdido provas importantes, mas esse conselho eu ignorei completamente.

Hoje, uma semana após Adrian presenciar uma cena que partiu seu coração, estou parada na frente da casa dele.

Já levei a mão à campainha e não toquei umas seis vezes. Já pensei em dar meia volta mais de cem.

Me falta coragem.

Respiro fundo e busco dentro de mim aquela nova versão que enfrenta os problemas de cara mesmo sem coragem ou forças. Preciso dessa versão agora.

Fecho os olhos, dou mais uma respiração profunda e levanto a mão outra vez.

Só abro os olhos novamente ao sentir o interruptor da campainha afundar sob o meu dedo.

Em alguns instantes, o portão é aberto, me dando a visão de um loiro muito surpreso.

Também fico surpresa por ver que não há mais aquela dor de antes em seus olhos azuis, como pensei que seria quando o encarasse.

— Eu sei que sou a última pessoa que você quer ver agora, mas... por favor, me deixa falar com você. Eu preciso te explicar o que aconteceu — peço.

Adrian não diz nada, apenas me dá passagem.

Feliz por ele não ter me mandado ir catar coquinho em Marte, passo pelo portão.

Adrian se encaminha para um banco branco de madeira que fica embaixo da árvore do jardim e vou atrás.

Nos sentamos e ficamos em silêncio por um tempo, enquanto reúno as palavras embaralhadas em minha mente. Por mais que eu tenha ensaiado a narrativa diversas vezes, nenhuma palavra parece boa o suficiente agora.

O vento fresco balançando as folhas da árvore sobre nós proporciona algum conforto para esse momento tenso.

— Sabe, Grazy, Luke não é tão idiota quanto eu pensava — diz Adrian, me pegando de surpresa.

Olho para ele com as sobrancelhas franzidas. Ele mantém os olhos à frente, sem me olhar.

— Luke? — indago, confusa.

— Ele veio aqui.

Todo o meu corpo entra em estado de alerta.

— Mas... o que ele veio fazer aqui? Vocês brigaram? — pergunto, atordoada.

— Não, só dei um soco na cara dele — conta tranquilamente.

Mas eu não estou nada tranquila. Agora tudo está em reboliço dentro de mim.

— Como assim soco? Ele veio procurar briga?

— Não, ele realmente não queria brigar, nem revidou ao meu soco — Adrian olha para mim. — Ele veio explicar o que aconteceu.

Minha boca se abre, mas estou sem fala, sem reação.

— Eu sei que você nunca me traiu. Eu estava certo ao acreditar que você não era assim, mas foi difícil não duvidar quando vi aquela cena.

— Adrian...

— Não, me escuta — ele me interrompe em tom gentil. — Eu que sou o errado aqui, Grazy. Fui eu que me meti onde não devia e percebi isso um pouco tarde.

— Você jamais poderia ser o errado em nada disso, Adrian.

— Sim, Grazy, eu sou o errado. Entrei em um relacionamento com você sabendo que você amava outra pessoa. Confesso que isso não foi muito inteligente da minha parte. Mas eu realmente acreditava que conseguiria fazer você esquecê-lo um dia. Acreditava que havia uma chance de conseguir fazer você sentir por mim algo tão grande ou maior do o que sentia por ele. Mas quando você e ele pararam de se falar completamente, vi você perder o brilho aos poucos, e de repente você não era mais a garota feliz que sorria à toa. Você ficou infeliz.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora