Ouço passos ao lado de fora e me encolho, abraçando as pernas e escondendo o rosto nos joelhos.
Acompanho o som e a movimentação de alguém entrando no vagão abandonado, onde estou escondida.
Em segundos, a pessoa se senta ao meu lado. Mas não levanto a cabeça.
— Como sabia que eu estava aqui? — minha voz sai baixa e abafada.
— Eu simplesmente sabia.
O silêncio perdura por breves segundos antes de ele falar:
— Sua mãe me ligou em desespero. Disse que você estava desaparecida e sem o celular. Pediu para eu ajudar a te encontrar. Quer me contar o que está acontecendo? — a voz de Luke é calma, mas há uma preocupação inconfundível em seu tom.
Levanto a cabeça para olhá-lo.
— Meu pai foi promovido para trabalhar na sede da empresa. Que fica na Espanha. Ele quer nos arrastar para lá, quer me tirar daqui, quer me tirar de você, Luke — minha voz falha e as lágrimas começam a escorrer.
Luke me puxa para seus braços e me esconde.
— Você é minha, Graziella. Ninguém vai te tirar de mim.
As lágrimas continuam a cair, molhando a camisa dele.
— Eu não tenho como ficar aqui, Luke. Ele encerrou o contrato de aluguel da nossa casa e outras pessoas já a alugaram. Não tenho mais casa.
— Você pode ficar na minha casa.
— Não posso pedir para os seus pais me abrigarem.
— Grazy, eles te adoram. Não tem problema nenhum nisso. Você pode ficar no quarto de Mila.
Me afasto para encará-lo, passando as costas das mãos nos olhos para secar as lágrimas.
— Posso tentar residência universitária quando passar no vestibular. Mas até lá... bom, talvez se eles me deixassem ficar até eu conseguir uma vaga em um dormitório...
— Você não tem que ir para um dormitório de universidade, Grazy. Já disse que pode ficar na minha casa — ele passa o polegar em meu rosto, apagando uma lágrima remanescente.
— Não funciona assim, Luke. Não posso simplesmente ir morar na sua casa sem previsão de saída.
A resposta de Luke vem sem hesitação:
— Vamos morar juntos, então.
Me pega totalmente desprevenida. Fico estática, encarando os olhos claros e a expressão séria de alguém que certamente não está brincando.
— Ficamos na casa dos meus pais até conseguirmos nos organizar para alugar um apartamento pequeno.
Meu coração bate em um ritmo diferente. Uma parte impactada demais por Luke ter dito isso, outra parte eufórica com a ideia de morar com ele.
— Luke, somos jovens demais para ir morar juntos.
— Não seríamos os primeiros a fazer isso. Não é tão incomum.
Meu coração, antes dividido entre o impacto e a euforia, muda para o estado líquido, pois percebe que Luke me ama tanto a ponto de fazer uma grande mudança em sua vida apenas para garantir que eu tenha onde morar.
— Você faria isso por mim?
Luke franze as sobrancelhas.
— Não fale como se isso fosse um sacrifício para mim, Grazy. Eu te amo, quero ficar com você.
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O garoto dos olhos avelã
TeenfikceGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...