70 - Invadir

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Completamente envolvida no momento com Luke, a primeira coisa que sinto é raiva pela interrupção.

No segundo seguinte, a voz ecoa dentro da minha cabeça e eu entro em pânico, arregalando os olhos.

A próxima coisa que registo é um par de olhos avelã cheios de fúria e frustração.

Mesmo com a percepção de que há passos se aproximando, nenhum de nós se move, nem faz menção de se levantar.

Queria permanecer aqui, junto ao seu corpo, absorvendo as batidas de seu coração, mas sei que é hora de desfazer a cena do crime.

— Grazy? Cadê você?

Culpa.

O sentimento de culpa aterrissa sobre as minhas costas me fazendo perceber a pessoa horrível que sou.

Eu nunca beijei o meu namorado, mas estou aqui, a centímetros da boca do meu ex.

Que tipo de pessoa eu sou? Eu iria traí-lo! Ele não merece isso. Ninguém merece uma coisa dessas.

Meu coração dispara, mas dessa vez de desespero.

Tiro os meus olhos dos de Luke e apoio a mão no chão, acima do ombro dele, para dar impulso.

Luke coloca as duas mãos em minha cintura para me ajudar a levantar, assim eu consigo distanciar os nossos rostos.

Em meio ao meu desespero, a minha mão que está apoiada no piso, sustentando o meu corpo, desliza. Isso faz o meu corpo voltar com tudo para baixo e a minha boca vai de encontro à de Luke.

Nossos lábios se tocam acidentalmente, por milésimos de segundos, e eu me afasto imediatamente.

— Grazy? Ainda está aqui? — a voz vem do corredor ao lado.

Como não há mais tempo, ou forças em mim, para que eu consiga levantar, apenas rolo meu corpo para o lado, saindo totalmente de cima de Luke.

Respiro um pouco mais aliviada, porque não vou ser vista em cima de Luke, apesar de ainda estarmos os dois no chão.

Deitada no chão, vejo um par de sapatos masculinos parar na entrada do corredor, ao mesmo tempo em que Luke fica de pé e estende a mão para mim.

Aceito a mão de Luke, buscando o rosto de Adrian com os olhos. Em sua face há uma mistura de confusão, mágoa e raiva. Meu coração se afunda no peito.

Luke me puxa para cima com facilidade. Ele parece não estar dando a mínima importância para a presença do Adrian atrás de si.

Olho por cima do ombro de Luke e vejo Adrian caminhando a passos duros em nossa direção. Seus punhos estão cerrados. Seu rosto está dominado pela raiva. Adrian não está olhando para mim, ele está encarando as costas de Luke, os olhos faiscando de ódio.

Repentinamente me sinto tonta, enojada, minhas pernas amolecem e um pensamento aterrorizante toma conta de mim: eles vão brigar.

O sangue foge do meu rosto, minhas mãos ficam trêmulas. Se Luke e Adrian começarem uma briga aqui, vão acabar se matando.

— Grazy? — Luke chama, colocando as mãos em meus ombros, como se tentasse evitar que eu caia.

Suas sobrancelhas estão franzidas em uma expressão de preocupação e me pergunto se estou com cara de quem vai desmaiar, pois é o que sinto que vai acontecer.

— Você está pálida — ele segura o meu queixo com cuidado. — Está se sentindo bem?

— Por favor, Luke, não briga — imploro baixinho.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora