30 - Espalhando

2.8K 241 131
                                    

Às vezes as coisas mais simples e pequenas, os detalhes insignificantes, trazem enormes prejuízos.

Não sei como exatamente ser vista com Natan na frente do cinema virou o assunto mais comentado da escola.

É como se fosse um acontecimento muito maior do que realmente foi.

Me arrependo de não ter conversado sobre isso com Luke no caminho para a escola. Eu não podia imaginar a dimensão que as coisas tomariam.

Não sei se a fofoca já chegou ao ouvido dele. Só sei que assim que o intervalo chegou, saí em disparada atrás dele, mas não o encontro em lugar algum.

Ando depressa, quase correndo pelos corredores. Duas pessoas passam por mim cantando "no escurinho do cinema". Ignoro, mas na terceira pessoa, percebo que é para mim.

Avisto Lia no fim de um corredor e me apresso até ela.

— Você o viu? — pergunto com urgência.

A expressão de Lia é de preocupação, e sua postura, de tensão.

— Não, mas já escutei tanta coisa absurda, Grazy...

Agarro os braços dela.

— O que você ouviu?!

Lia desvia os olhos.

— Não acho que vale a pena você saber.

Aperto os braços dela e puxo de volta a atenção de seus olhos.

— Lia, eu preciso ter uma noção do tipo de coisa chegou até Luke!

Lia suspira e deixa os ombros caírem.

— Uma menina disse que viu você saindo da sala da pegação com Natan. Outra disse que você e ele estavam de trisal com outro garoto nessa sala. E teve um menino que disse que ficou sabendo que vocês dois transaram no banheiro.

— O QUÊ?! — Meu grito captura alguns olhares, mas eu realmente não me importo.

— Você tem que conversar com Luke o mais rápido possível.

— Eu não o encontro em lugar nenhum e o celular dele não está chamando! — Exclamo, sentindo o pânico subir pela minha garganta.

— Talvez ele esteja lá perto dos laboratórios. É para onde eu iria se quisesse fugir disso tudo.

Solto Lia e saio correndo.

Os laboratórios são usados apenas nos primeiros horários e ficam fora do prédio de aulas, então geralmente é um lugar mais vazio no intervalo.

À medida que percorro o caminho entre o prédio e os laboratórios, meu coração bate mais rápido a cada passo, ansiosa para encontrar Luke e desmentir tudo o que estão falando sobre mim.

Assim que viro a última curva do caminho, vejo ele e meu coração dispara desenfreadamente.

Luke está na lateral dos laboratórios, de costas para mim, com as mãos apoiadas na barra de ferro que delimita a área de árvores densas do fundo da escola.

Ele parece estar olhando para a zona de mata além da barra, que me faz lembrar da floresta em que fica o vagão abandonado onde costumamos ir juntos. Ou... costumávamos.

Ao mesmo tempo que quero correr até ele e explicar tudo, quero ir bem devagar por medo de encarar seus olhos.

Quando já estou perto o suficiente para Luke escutar meus passos, ele se vira.

O rosto dele está sério, indecifrável.

Paro a três passos de distância.

— Luke... — começo, mas fico muda, pois não sei nem por onde começar.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora