Às vezes as coisas mais simples e pequenas, os detalhes insignificantes, trazem enormes prejuízos.
Não sei como exatamente ser vista com Natan na frente do cinema virou o assunto mais comentado da escola.
É como se fosse um acontecimento muito maior do que realmente foi.
Me arrependo de não ter conversado sobre isso com Luke no caminho para a escola. Eu não podia imaginar a dimensão que as coisas tomariam.
Não sei se a fofoca já chegou ao ouvido dele. Só sei que assim que o intervalo chegou, saí em disparada atrás dele, mas não o encontro em lugar algum.
Ando depressa, quase correndo pelos corredores. Duas pessoas passam por mim cantando "no escurinho do cinema". Ignoro, mas na terceira pessoa, percebo que é para mim.
Avisto Lia no fim de um corredor e me apresso até ela.
— Você o viu? — pergunto com urgência.
A expressão de Lia é de preocupação, e sua postura, de tensão.
— Não, mas já escutei tanta coisa absurda, Grazy...
Agarro os braços dela.
— O que você ouviu?!
Lia desvia os olhos.
— Não acho que vale a pena você saber.
Aperto os braços dela e puxo de volta a atenção de seus olhos.
— Lia, eu preciso ter uma noção do tipo de coisa chegou até Luke!
Lia suspira e deixa os ombros caírem.
— Uma menina disse que viu você saindo da sala da pegação com Natan. Outra disse que você e ele estavam de trisal com outro garoto nessa sala. E teve um menino que disse que ficou sabendo que vocês dois transaram no banheiro.
— O QUÊ?! — Meu grito captura alguns olhares, mas eu realmente não me importo.
— Você tem que conversar com Luke o mais rápido possível.
— Eu não o encontro em lugar nenhum e o celular dele não está chamando! — Exclamo, sentindo o pânico subir pela minha garganta.
— Talvez ele esteja lá perto dos laboratórios. É para onde eu iria se quisesse fugir disso tudo.
Solto Lia e saio correndo.
Os laboratórios são usados apenas nos primeiros horários e ficam fora do prédio de aulas, então geralmente é um lugar mais vazio no intervalo.
À medida que percorro o caminho entre o prédio e os laboratórios, meu coração bate mais rápido a cada passo, ansiosa para encontrar Luke e desmentir tudo o que estão falando sobre mim.
Assim que viro a última curva do caminho, vejo ele e meu coração dispara desenfreadamente.
Luke está na lateral dos laboratórios, de costas para mim, com as mãos apoiadas na barra de ferro que delimita a área de árvores densas do fundo da escola.
Ele parece estar olhando para a zona de mata além da barra, que me faz lembrar da floresta em que fica o vagão abandonado onde costumamos ir juntos. Ou... costumávamos.
Ao mesmo tempo que quero correr até ele e explicar tudo, quero ir bem devagar por medo de encarar seus olhos.
Quando já estou perto o suficiente para Luke escutar meus passos, ele se vira.
O rosto dele está sério, indecifrável.
Paro a três passos de distância.
— Luke... — começo, mas fico muda, pois não sei nem por onde começar.
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O garoto dos olhos avelã
Genç KurguGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...