Um mês após o acidente de carro que abalou nossas vidas, as coisas estão incrivelmente bem.
Luke, Lia e eu temos estudado juntos para o vestibular.
Ainda não escolhi um curso. Todo dia acordo com uma decisão diferente.
Luke já sabe que quer Engenharia Civil. E eu tenho certeza de que ele vai ser um grande engenheiro.
Lia também é de exatas, então Engenharia Civil está entre as opções de curso dela.
Estudar com Lia e Luke para entrar na faculdade me faz pensar em nós três estudando na faculdade. E se fôssemos todos colegas? Poderíamos estudar para as provas juntos. Seríamos equipe em todos os trabalhos de grupo. Seria incrível!
Outra coisa incrível que está me matando de felicidade é que a minha mãe conseguiu o emprego de assistente jurídica e isso a fez sentir vontade de reativar seu registro de advogada. Mal posso acreditar que a minha busca por emprego a inspirou a voltar a trabalhar.
O emprego é remoto e ela pode trabalhar de casa, mas tem ido muito ao escritório por ser nova contratada. Já o meu pai tem ficado muito tempo em casa. Estou adorando ver a ordem das coisas mudando nessa casa.
Nesse momento, minha mãe e eu estamos na cozinha, conversando sobre as universidades desta cidade, sobre valores e bolsas de estudos.
A campainha toca e vou atender. Ao abrir a porta, dou de cara com dois estranhos.
— Olá! — exclama a mulher, com uma empolgação que não compreendo. Sua animação me deixa inquieta.
Sinto um aperto no peito e seguro a maçaneta com força.
— Posso ajudar? — pergunto.
— Esquecemos de tirar as medidas da cozinha. Vamos precisar olhar novamente — diz o homem, apontando para dentro da casa.
Franzo a testa.
— Do que está falando?
Eles se entreolham e depois olham para mim novamente.
— As medidas para os móveis planejados. Precisamos terminar tudo para poder nos mudar para cá no fim do mês — explica o homem.
Meu coração palpita, uma sensação de pânico começa a se formar.
— Vocês devem estar confundindo — meneio a cabeça. — Essa casa é minha.
A mulher franze a testa, igualmente confusa.
— Na verdade, essa casa é nossa pelos próximos dois anos. Alugamos ela.
Atrás deles, vejo o carro do meu pai estacionando. Ele sai rapidamente e chama os estranhos pelos nomes, levando-os para uma distância que não me permite entender a conversa. Em poucos minutos, eles se despedem e vão embora.
Permaneço estática na porta, sentindo que minhas pernas podem ceder a qualquer momento.
Meu pai vem até mim e me leva para dentro com uma mão em meu ombro. Não reajo, pois não encontro forças.
Isso não pode estar acontecendo.
— Filha... — ele começa, segurando a minha mão.
Me afasto dele bruscamente, sentindo meu coração explodir de raiva.
— Como pôde fazer isso?
— Querido, você chegou ce... o que houve? — Minha mãe entra na sala e nos encara com expressão de confusão e preocupação.
Olho para ela com os olhos cheios de lágrimas.
— Ele entregou a nossa casa para outras pessoas — murmuro entre os dentes, sentindo a dor da traição como uma facada.
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O garoto dos olhos avelã
Ficção AdolescenteGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...