43 - Traindo

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Um mês após o acidente de carro que abalou nossas vidas, as coisas estão incrivelmente bem.

Luke, Lia e eu temos estudado juntos para o vestibular.

Ainda não escolhi um curso. Todo dia acordo com uma decisão diferente.

Luke já sabe que quer Engenharia Civil. E eu tenho certeza de que ele vai ser um grande engenheiro.

Lia também é de exatas, então Engenharia Civil está entre as opções de curso dela.

Estudar com Lia e Luke para entrar na faculdade me faz pensar em nós três estudando na faculdade. E se fôssemos todos colegas? Poderíamos estudar para as provas juntos. Seríamos equipe em todos os trabalhos de grupo. Seria incrível!

Outra coisa incrível que está me matando de felicidade é que a minha mãe conseguiu o emprego de assistente jurídica e isso a fez sentir vontade de reativar seu registro de advogada. Mal posso acreditar que a minha busca por emprego a inspirou a voltar a trabalhar.

O emprego é remoto e ela pode trabalhar de casa, mas tem ido muito ao escritório por ser nova contratada. Já o meu pai tem ficado muito tempo em casa. Estou adorando ver a ordem das coisas mudando nessa casa.

Nesse momento, minha mãe e eu estamos na cozinha, conversando sobre as universidades desta cidade, sobre valores e bolsas de estudos.

A campainha toca e vou atender. Ao abrir a porta, dou de cara com dois estranhos.

— Olá! — exclama a mulher, com uma empolgação que não compreendo. Sua animação me deixa inquieta.

Sinto um aperto no peito e seguro a maçaneta com força.

— Posso ajudar? — pergunto.

— Esquecemos de tirar as medidas da cozinha. Vamos precisar olhar novamente — diz o homem, apontando para dentro da casa.

Franzo a testa.

— Do que está falando?

Eles se entreolham e depois olham para mim novamente.

— As medidas para os móveis planejados. Precisamos terminar tudo para poder nos mudar para cá no fim do mês — explica o homem.

Meu coração palpita, uma sensação de pânico começa a se formar.

— Vocês devem estar confundindo — meneio a cabeça. — Essa casa é minha.

A mulher franze a testa, igualmente confusa.

— Na verdade, essa casa é nossa pelos próximos dois anos. Alugamos ela.

Atrás deles, vejo o carro do meu pai estacionando. Ele sai rapidamente e chama os estranhos pelos nomes, levando-os para uma distância que não me permite entender a conversa. Em poucos minutos, eles se despedem e vão embora.

Permaneço estática na porta, sentindo que minhas pernas podem ceder a qualquer momento.

Meu pai vem até mim e me leva para dentro com uma mão em meu ombro. Não reajo, pois não encontro forças.

Isso não pode estar acontecendo.

— Filha... — ele começa, segurando a minha mão.

Me afasto dele bruscamente, sentindo meu coração explodir de raiva.

— Como pôde fazer isso?

— Querido, você chegou ce... o que houve? — Minha mãe entra na sala e nos encara com expressão de confusão e preocupação.

Olho para ela com os olhos cheios de lágrimas.

— Ele entregou a nossa casa para outras pessoas — murmuro entre os dentes, sentindo a dor da traição como uma facada.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora